A “Coca-Cola” já é Azul há muito tempo!

Por Osvaldo Tetaze Maia.

O terceiro título do Grêmio na Libertadores conquistado este ano veio preencher a escassez de títulos mundiais do futebol brasileiro, outrora respeitadíssimo em todo o mundo, quase perdeu o seu valor, pois o último título da Seleção foi em 2007 na Copa América, o Corinthians que foi Campeão Mundial Interclubes em 2012, o Atlético Mineiro Campeão da Libertadores em 2013, e depois do ‘execrável’ 7×1 na Copa de 2014, faltou pouco para sermos inscritos para as próximas eliminatórias pela Confederação da Oceania, ou pelo menos esse era o ‘desejo’ e o sentimento de muitos torcedores!

Esses fatos me fizeram lembrar um ‘causo’ e talvez esse tema gere mais controvérsias ainda, mas adianto que não é nenhuma homenagem, saudação ou coisa que o valha ao Grêmio, mesmo porque nem gremista sou, aliás, sou colorado, não tão fanático, talvez pelos cinqüenta anos passados desde que deixei Porto Alegre então com dez anos de idade, mas vou registrar hoje um fato que define muito bem o que é a força do futebol no Rio Grande do Sul.

E atenção, isso também não se trata de ‘bairrismo’, longe disso, pois vivo há trinta e cinco anos em Balneário Camboriú, Santa Catarina, depois de ter vivido vinte anos em Curitiba, portanto, vivi somente dez anos em Porto Alegre, e esse ‘causo’ é somente uma constatação de um fato que meu filho Felipe me chamou a atenção quando o levei em 1999 para conhecer o Estádio Olímpico do Grêmio, e ao entrarmos a primeira pergunta que me fez ao ver uma placa que havia em uma das entradas do Olímpico para as “arquibancadas sociais” foi:

“Pai, porque aqui a Coca-Cola é Azul”?

Sem a resposta imediata e ‘compreensível’ para dar a um menino de onze anos que não sabia ainda o que é a força do futebol, pois nascido em Balneário Camboriú não tinha na época uma referência de torcedor de um grande clube de futebol, creio que respondi, sem muita convicção, que “era por causa das cores do Grêmio”, sem considerar e perceber também o tamanho do significado disso, e talvez para os Gremistas e o povo Gaúcho, esse fato da “Coca-Cola ser Azul” seja uma coisa extremamente normal já naquela época, pois afinal ali era o Estádio do Grêmio, “tchê”!

Gremista não pode usar vermelho nem em sonho, e em dia de ‘Grenal’ então, entrar na Arena (antes no Olímpico) com alguma peça do vestuário com alguma tonalidade vermelha seria motivo de expulsão imediata do estádio, no mínimo, e vice-versa para os ‘Colorados’, cuja pena seria a de ser obrigado a cometer ‘arakiri’ se entrassem no Beira-Rio vestindo alguma peça de roupa com tom de azul!

Como aceitar então placas em seu ‘templo’ e rótulos em seu ‘manto sagrado’ com a cor vermelha, só porque as cores daquele patrocinador são vermelho e branco, as cores do seu maior rival no futebol? E qual o patrocinador ou a marca que poderia ser mais forte, mais importante que o Grêmio? Quem é a Coca-Cola para entrar e querer pendurar placas com cores em vermelho e branco no Estádio do Grêmio?

Mas “Bah tchê”, isso é mais difícil que dormir de esporas, já diriam os Gaúchos!

Para entender a rivalidade entre a dupla “Grenal”, há alguns dias saiu uma reportagem no Brasil que uma Revista inglesa – www.fourfourtwo.com – fez uma pesquisa das maiores rivalidades de torcidas de futebol do mundo, e a dupla “Grenal” ficou em 8º lugar, os únicos times brasileiros entre as dez primeiras rivalidades do mundo, sendo que a maior rivalidade mundial é entre Boca e River da Argentina! O Fla-Flu é considerado a 18ª maior rivalidade entre times de futebol no mundo! No ‘link’ abaixo a matéria completa.

https://www.gazetaonline.com.br/esportes/futebol/2016/10/revista-inglesa-elege-os-classicos-de-maior-rivalidade-do-futebol-mundial-1013982311.html

Pois essa é a “força” do futebol lá no Rio Grande do Sul, onde já naquela época, em 1999, antes das gigantes da tecnologia de hoje, a maior empresa de refrigerantes do mundo, a marca mais conhecida do planeta com seu logotipo vermelho e branco, conhecido em qualquer canto da terra, teve que render-se ao fanatismo e à torcida de um time de futebol, e o símbolo maior do capitalismo na terra, a Coca-Cola, teve (e ainda hoje é) que mudar suas cores para Azul, Branco e Preto se quisesse ser comercializada no Estádio Olímpico e ser destaque nas camisetas do Grêmio! “Coca-Cola Vermelha”, nem pensar!

Sem menosprezar outras equipes de futebol brasileiro, o mesmo não ocorreu com o Atlético Mineiro, Cruzeiro e Paissandu, que foram um dia patrocinados pela Coca-Cola também, mas com seu logo original nas camisetas.

Para chamar a atenção do quão marcante é o fato da “Coca-Cola Azul” no Estádio Olímpico, conto um episódio que me causou certo ‘mal-estar’ em 2001 em Miami onde estava em reunião com uma empresa Canadense de marketing esportivo que queria atuar no Brasil, e na ocasião lembro-me que ao procurar dar um exemplo do que era a paixão pelo futebol no Brasil, coisa que eles não entendiam, e cometi a asneira de dizer que “tem um time de futebol no sul do Brasil que até a Coca-Cola era azul lá dentro do estádio”!

A cena lembrada hoje é hilária, mas na época fui confrontado pelo dono da empresa que largou na hora: “…never, ever, it would happen with Coca-Cola…this is bull-shit” – “…nunca, mas nunca mesmo, isso iria acontecer com a Coca-Cola…isso é papo furado”!

E como provar em 2001, sem o “Google de hoje”, somente com e-mail como “tecnologia de ponta”, com internet discada, que isso era real? Para um americano, Canadense ou qualquer outra nacionalidade isso teria que soar como “papo-furado” mesmo, e tive que ligar para minha casa e pedir que encontrassem aquela foto e de alguma forma a enviassem por e-mail, pois ficaria mais alguns dias em Miami e não poderia voltar passando por mentiroso para os Canadenses com quem tentava fazer um negócio.

Dois dias depois minha esposa conseguiu enviar por e-mail a foto acima do meu filho no Estádio Olímpico com a placa da Coca-Cola com as cores Azul, Branco, e Preto, e imprimi uma cópia no hotel e levei ao escritório dos Canadenses para provar que eu estava certo.

A confusão e o “rebuliço” que aquela foto causou naquela manhã em Miami lá naquele escritório foi tamanha que me rendeu um belo de um jantar por conta dos Canadenses na Lincoln Road, pois eles enviaram para mais duas empresas de marketing de seus amigos, uma em New York e outra no Canadá para confirmar se a foto não era montagem, e a empresa de New York confirmou à tarde que realmente ficaram sabendo que a Coca-Cola no Brasil teve que mudar para as cores Azul, Preto e Branco, para poder ser comercializada dentro de um estádio de futebol do Brasil. Havia ganho meu jantar daquele dia!!

Naquela época para os Canadenses descobrirem que em um lugar do mundo as latas e as placas da Coca-Cola eram fabricadas com as cores Azul, Preto e Branco, foi como se tivessem descoberto o “Santo Graal”, pois esse fato fez com que revisassem a sua estratégia comercial de entrar no Brasil para disputar uma fatia do marketing esportivo, e isso me confessaram algum tempo depois.

O texto não se presta a tecer análises e comentários sobre o futebol, quem é a melhor equipe, a que tem mais torcida, o time que tem mais títulos, longe disso, pois para isso há uma boa quantidade de comentaristas e analistas de futebol no Brasil, mas serve sim para destacar um fato, no mínimo curioso, que para muitos que convivem com o futebol desde o berço talvez nem tenham percebido o significado da “Coca-Cola Azul” nesse contexto.

O Grêmio é Azul, o Brasil vai ter quer ser Azul nesse Mundial Inter-Clubes que vai disputar esse mês no Oriente Médio, assim como a Coca-Cola já é, pois o benefício é comum, ou seja, ganhando o Grêmio, ganha o futebol brasileiro, quer queiram ou não, e aproveito e cito Neymar, que outro dia disse à Revista Veja: “O respeito pela equipe é diferente daquele após a Copa do Mundo. O Brasil que todos respeitam e admiram está de volta”!

A “Coca-Cola Azul” já é fato, e já falam até na “estátua do Renato” lá na Arena Tricolor com esse Tri-Campeonato da Libertadores. Se ele voltar com o Bi-Mundial Interclubes agora em Dezembro, dizem que alguns gremistas poderão até querer substituir a famosa estátua do ‘Gaúcho Laçador’ pelo ‘Renato Gaúcho’!

Agora de uma coisa podem ter certeza: O Papai-Noel também já é Azul há muito tempo lá no sul, mas isso sim eu não me atreveria contar para aqueles Canadenses hoje!

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Por Osvaldo Tetaze Maia.