Por Valter Aleixo
No dia 29 de setembro, de 2019, quando eu e a Georgia, minha filha, escalávamos a montanha, Bell Rock, em Sedona, no Estado do Arizona, senti um enorme impacto no meu pescoço, me alavancando para frente, quase me empurrando para o precipício e, por uma fração de segundo, senti que havia morrido.
Poucos minutos antes daquele incidente, uns garotos haviam passado por nós, escalando a montanha na frente do pai, que vinha um pouco atrás com um filho menor. E, lá de cima, começaram a jogar pedras montanha abaixo. O pai até que pediu que parassem com aquilo mas, infelizmente, não o obedeceram. Uma das pedras – enorme – pelo menos assim me pareceu, veio parar no meu pescoço.
“Acordei” um centésimo de segundo depois tentando entender o que estava acontecendo. Quando olhei para o chão, vendo aquela pedra ainda balançando, percebi, claramente, o que tinha acontecido. A pedra estava lá, e eu sentindo aquela sensação estranha no pescoço. Olhei para a Georgia e vi o terror em seus olhos espantados. Podia imaginar o que ela estava pensando: “Será que o meu pai vai morrer? E, como vou resolver isso sozinha aqui, nesse lugar, tão longe de casa? Isso só pode ser um pesadelo!”
Apavorado, me sentindo completamente vulnerável, pensei em mil coisas ao mesmo tempo: ia morrer naquela montanha a qualquer momento, pois não sabia o efeito do impacto da pedra. Ela era muito grande para nada ter acontecido. A qualquer momento, começaria a sangrar internamente e perderia os sentidos. “Ia morrer em frente da minha filha numa situação de horror”, pensei. Se não morresse, certamente ficaria com algumas sequelas, que tornariam minha vida sem nenhum sentido, para sempre.
A única coisa que pude dizer no momento, foi: “Vamos descer; vamos para o estacionamento.” Achava que, se algo fosse acontecer comigo, como perder os sentidos ou começar a convulsionar, seria melhor estar lá embaixo, no sopé da montanha.
Ao dizer aquelas palavras, com as pernas trêmulas, comecei a descer a montanha. A descida, teoricamente mais fácil que a subida, me pareceu longa demais! Embora estivesse deslizando pelos vãos da montanha, tanta era a minha pressa de chegar lá embaixo, parecia que nunca chegaria. Apesar dessa minha impressão, pois tínhamos levado trinta minutos para chegar àquele ponto da montanha, quando menos percebi, já estávamos chegando no estacionamento.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre.
Uma coisa estava me perturbando muito: ao relembrar o incidente, que ficou passando na minha mente várias vezes naqueles poucos minutos da descida, senti que a experiência tinha sido de muita paz e tranquilidade; foi como seu eu tivesse morrido. Não tive nenhuma dor ou medo. Foi um sentimento enorme de paz e liberdade. Podia sentir aquela sensação agradável, continuamente. Aquilo não era normal.
Confuso, lembrei-me que, quando voltei à mim, naquela fração de segundo, tive uma pequena sensação de desapontamento de ter voltado, pois onde quer que eu tenha ido, foi inexplicável; maravilhoso. Jamais tinha tido aquele tipo de sensação na minha vida. Foi como se todas as minhas angústias, meus problemas, minhas dores, minhas incertezas e meus pecados tivessem sido arrancados de mim; literalmente. Foi como se aquele fosse o momento de dizer adeus a esse mundo, que tinha sido muito generoso comigo; que tinha me dado uma vida maravilhosa; cheia de aventuras e de amor.
Mas, no fundo do meu cérebro, nos centésimos ou milésimos de segundos que tudo pareceu acontecer, pensei: “Não estou pronto para morrer agora. Quero poder ver minha filha Georgia graduar-se da universidade e, no dia do seu casamento, quero caminhar até o altar com ela, e quero ver todos os meus netos crescerem.” Fiquei feliz por estar vivo e de a Georgia estar do meu lado.
Não gostaria de causar-lhe angústia e dor, morrendo naquele lugar, deixando-a sozinha para lidar com a minha morte. Fiquei imaginando o quão horrível teria sido aquela experiência para ela. Fiquei aliviado de a pedra não ter me atingido na cabeça, na carótida, na coluna cervical, ou até mesmo no meu rosto. E, um pouquinho mais para esquerda ou para cima, teria me matado instantâneamente, tamanha era a sua velocidade. A parte da pedra que me atingiu foi o lado liso. E, de todos os lugares que ela podia ter me atingido, o local não poderia ter sido mais perfeito: no músculo entre a coluna cervical e a carótida.
E, nesse momento, lembrei-me que, poucos minutos antes daquele incidente, eu a Georgia havíamos visitado outra montanha, a Cathedral Rock, onde construíram uma pequena e bela catedral no meio de uma rocha. Naquele lugar acendemos duas velas e, ajoelhado, pedi a Deus que nos protegesse durante toda a nossa viagem e que tudo saísse bem; algo que sempre faço quando viajo para qualquer lugar só ou com a família. Agradeci por estar naquele passeio maravilhoso com a Georgia e por ter a oportunidade e privilégio de fazer tal viagem.
Foi então que dei-me conta que fui salvo pela mão Divina! Não parava de agradecer a Deus por tamanho milagre! Também agradeci por ter sido eu, o atingido, e não a Georgia. Jamais me perdoaria se tivesse acontecido algo com ela. Felizmente, graças a benevolência e infinita compaixão de Deus, minha vida foi extendida.
Já em baixo da montanha, a Georgia me aconselhou a ir num hospital para que me examinassem. Naquela altura, achei desnecessário, pois me sentia bem e havia feito a maravilhosa conexão do meu pedido à Deus e o incidente. Sentia que nada de ruim podia ter acontecido. Também achei que seria complicado ir à sala de emergência de um hospital de uma cidade tão pequena como Sedona.
Certamente teríamos que esperar por várias horas e iam pedir um monte de exames, incluindo uma tomografia computarizada. Apenas reiterei à Georgia que tudo estava bem, embora pudesse ver o seu olhar de preocupação. Resolvi continuar o passeio. Porém, sabia que, incidentes como aquele, podem se manifestar, com sequelas, vinte e quatro horas depois e podem causar graves problemas neurológicos. Também me preocupava com os meus olhos, imaginando se o impacto da pedra havia causado algum problema com a retina ou qualquer outra parte dos meus olhos.
À tarde, depois de terminar o nosso passeio em Sedona, saímos em direção a Phoenix.
A viagem durou por volta de uma hora e meia.
Ainda tivemos tempo de ir ao topo da montanha que circunda a cidade de Phoenix, no mirante Dobbins Lookout, para ver o por do sol maravilhoso do deserto.
O incidente, porém, não saía da minha cabeça.
Lembrei-me que, há muitos anos atrás, quando ainda criança, fui montar um cavalo que o meu pai tinha comprado para a chácara dele, na cidade de Paraíso do Norte, que ainda pertencia ao Estado de Goiás e, como não tinha nenhuma experiência em selar cavalo, acabei deixando a sela frouxa. Quando o cavalo saiu galopando, desenfreado para todos os lados, comigo em cima, senti que a qualquer momento podia cair. E, numa das freadas bruscas dele, para não chocar-se contra a cerca da chácara, acabei sendo lançado com violência para o chão, com sela e tudo. Lembro-me de ter perdido os sentidos por alguns instantes também. Contudo, a sensação que tive naquele dia foi totalmente diferente daquela de Sedona.
Talvez aquele tenha sido outro milagre.
Sentia que algo extraordinário havia sucedido naquela montanha.
No outro dia, depois que a Georgia voltou para a cidade de San Antonio, onde está estudando, apesar de me sentir bem, ainda estava preocupado com as possíveis consequências daquele incidente. E, naquele mesmo dia, por casualidade, eu tinha uma reunião com a chefe das enfermeiras no trabalho, e acabei contando-lhe o caso. Ela me aconselhou a ir diretamente para a sala de emergências e que entraria, imediatamente, em contacto com um neurologista para ir encontrar-se comigo lá.
Depois de vários exames, incluindo a famosa tomografia computarizada da cabeça e dos pescoço e de muitos minutos de ansiedade, o chefe da sala de emergências, entrou no meu quarto. Ao vê-lo entrar daquela forma, como um juiz que entra na corte, prestes a dar a sentença para o réu, prendi a respiração. Naquele instante, sabia que, dependendo do que ele dissesse, minha vida mudaria para sempre.
Não sei se estava preparado para ouvir algo tipo: “Infelizmente, os exames constataram uma lesão cerebral e ainda é muito cedo para se saber, com exatidão, os possíveis danos causados.”
Puxou uma cadeira para perto da minha cama e disse: “Tenho notícias maravilhosas para você.”
Eu estava tão emocionalmente anestesiado, que me pareceu não ter escutado o que ele disse.
“Será que escutei certo?”, me questionei. Mas o chefe da emergência, imediatamente, reiterou: ”Todos os seus exames saíram negativos. Não há nada que indique que houve qualquer tipo de lesão ou dano cerebral.”
As lágrimas, contidas, relutavam em brotar dos meus olhos por não querer se expor ao ridículo das emoções humanas. Tive uma grande vontade de ajoelhar-me e agradecer à Deus mais uma vez por aquele milagre.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre – Ave-Maria, cheia de graça!
“Imagino que não seja o caso, mas se você tiver algum sintoma inesperado, não hesite em nos procurar”, disse o chefe da emergência – e se despediu.
Eu sabia, no meu coração, que aquilo não ia acontecer, pois o milagre tinha sido completo.
Assim que saíram do meu quarto, pude, finalmente, desprender todas as minhas emoções e ter aquele momento de reflexão e agradecimento a Deus. Sabia que, nada que eu dissesse ou fizesse, poderia demonstrar a minha enorme gratidão em ouvir aquele resultado.
E, da minha cama, apenas rezei. Senti aliviado; e todas as minhas preocupações desapareceram.
Tenho consciência de que a vida me foi extendida naquela montanha. Talvez aquele não fosse o meu dia. Talvez, até mesmo os meus pais, intercederam por mim naquele momento. Jamais saberei. O certo é que, morri por alguns centésimos ou milésimos de segundos, mas tive a oportunidade de voltar e terminar a minha missão neste mundo, qualquer que seja ela…
Por Valter Aleixo
Meu amado amigo, a mão de Deus com seus anjos estavam com você. Você é precioso. Ainda pela graça divina estará conosco por muitos anos. Acredito em milagres e proteção divina. Na minha trajetória de vida testemunhei muitos milagres, inclusive comigo. Em 1990 tive um acidente de carro que se não fosse a proteção e amor de Jesus não estaria viva hoje . Os policiais que me socorreram quando voltei do meu desmaio me perguntaram: Sra acredita em Deus, Eu disse sim , Eles disseram: agradeça a Deus por estar viva. Não encontramos explicações para a Sra sair viva deste acidente. Depois do acidente, tive vértebras trincadas na coluna, hematomas e sangramento dos rins. Mais sobrevivi sem maiores sequelas. Tive uma gratidão e amor e valor a vida tão grande , hoje agradeço a Deus por cada minuto , segundos da minha vida. A chance que me deu de criar meus filhos e ver meus netos. Gratidão amigo querido a Deus por sua vida. Lindo seu testemunho de fé e gratidão. Te amo amigo . Você faz o mundo melhor com sua presença. Deus te abençoe. Abraço.🙏❤️ Conceição Siegmund
A Fé tem que ser constante como o ar que respiramos, eu e minha esposa também oramos todo dia que saímos de casa e quando voltamos, sempre passamos por dificuldades, mas quando temos Deus como nosso centro e de nossos lares, sofremos as menores consequências, parabéns pelo texto, de fato é uma linda história de comunhão com Deus!!!