Fonte foto – Arquivo pessoal de Osvaldo T. Maia
Por Dr. Osvaldo Tetaze Maia
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Uma das coisas que sempre me despertaram a curiosidade, desde que me conheço por gente, foi aprender idiomas, e hoje posso dizer com orgulho que aprendi inglês e espanhol como autodidata, sem nunca ter feito qualquer curso, somente através da vontade de aprender e nas minhas viagens, estudando e aprendendo os idiomas e sua gramática, para depois começar a falar fluentemente.
Bem, no inglês tive as aulas normais de escola no Brasil e um período de inglês para estrangeiros na Califórnia, EUA, onde vivi por quase um ano na década de 80, e posteriormente fui aprimorando com as várias amizades e atividades comerciais que mantenho até hoje nas Américas e Europa. O Espanhol foi na marra mesmo, nos vinte anos em que trabalhei com hotelaria e turismo com os países do cone sul, e principalmente por minhas parcerias comerciais e de amizades com o povo Argentino.
Hoje além da atividade de advocacia, atuo como intérprete e tradutor oficial em processos judiciais para várias Comarcas aqui de SC, além de advogar para várias empresas de vários países, no Brasil e no exterior.
Todavia, lá pelos idos de 80 fiz minha viagem de estréia para além mar, primeiro para Portugal para visitar meu amigo Nedo Xavier que naquele ano de 1982 jogava pela equipe da Farense, equipe da 1ª Divisão do campeonato português de futebol, da belíssima cidade de Faro, no Algarve, sul de Portugal.
Chegada à Lisboa – Maio 1982
Lisboa Praça do Comércio – Maio 1982
Lisboa – Maio 1982
Já havia conhecido Assunção no Paraguay e Buenos Aires nos anos 70 e início dos 80, portanto, nessa primeira viagem ao continente europeu, fui direto à Portugal para me adaptar por lá, pois naquela época, viajar à Europa era quase uma epopéia, por mais que já existisse até o Concorde e os Jumbos da Boeing. Comunicação com a família somente através de cartões postais, que chegavam dez dias após o envio, e aí tudo já era passado para quem estava viajando. Telefonemas só via Embratel, a cobrar e de ‘orelhões’, quando se encontrava um, e que custavam uma fortuna para quem recebia a chamada, e não raramente você era cortado no meio da conversa. Até hoje me pergunto se era a família ou a Embratel!
Nessa primeira viagem estabeleci ficar em Portugal por uns dez dias antes de partir para o meu destino principal, a Espanha, onde iniciaria a Copa do Mundo de futebol, e posso garantir que ‘quase’ me senti em casa naqueles lugares fantásticos do Algarve, e enquanto o Nedo treinava eu ficava passeando pelas ruas de Faro, Portimões ou Albufeira, e outros locais não menos aprazíveis com os amigos portugueses que o Nedo e eu já havíamos feito por lá.
Praia de Faro, Algarve – 1982
A princípio sentia um pouco de dificuldade de ouvir as palavras dos portugueses, com seu acento bem cerrado e inaudível aos nossos ouvidos, mas em dois dias já ‘entendia’ tudo que nossos amigos falavam, SEM COMPREENDER mais da metade do significado das palavras, e começava a rir sozinho, pois pedia para traduzirem para mim, para o português que eu pudesse compreender, e sempre eram risos gerais.
Praia de Albufeira, Algarve, 1982
Ou seja, não é como escutar um Russo, Hebraico, ou qualquer outro idioma que você não entende e também não compreende nada, mas experimentem escutar o seu próprio idioma e não compreender mais da metade das palavras!
Quando entrei no hotel no meu primeiro dia em Portugal, recebi as chaves do quarto e o recepcionista me disse:
– Ô gajo, tome o ascensor ao lado e vá ao terceiro piso, e para o pequeno almoço é na Rés do Chão das 6:00 até às 10:00 horas da manhã!
Ou quando no segundo dia os amigos do Nedo me perguntaram:
– E aí ô pá, vamos ir a comer um Prego com um Imperial?
Até então eu não sabia que o português é uma língua, que apesar de não muito falada na Europa, mas sendo a 6º mais falada a nível Mundial, é riquíssima histórica e culturalmente. A gramática é um tanto difícil, mas o esforço inicial vale a pena, pois ouvir e compreender é o que pode vir a complicar.
Quando for a Portugal e alguém lhe oferecer um PREGO para comer, não se assuste!! Prego, para os portugueses é um belo sanduíche, ou seja, pão com bife muito saboroso!! E para acompanhar esse sanduíche, nada melhor que o nosso chopp, um Imperial como havia me perguntado meu amigo português.
Albufeira, Algarve, 1982
Ah, e o pequeno almoço na rés do chão era o café da manhã na planta térrea do hotel!
Naquela minha primeira viagem a Portugal ainda fui convidado para comer na casa dos amigos portugueses, e no sábado me pegaram no hotel pela manhã e já foram dizendo:
Vamos rápido lá ao talho agora cedo, pois mais tarde a bicha vai estar grande, hoje é dia de barbacoa em Portugal, e ainda tenho que consertar o autoclismo lá em casa!
PQP! O que esse cara me disse, pensei? Aonde ele vai me levar?
Provavelmente notando minha cara de espanto, começou a dar risadas dizendo que só iríamos comprar a carne para o almoço, e aí percebi que o talho aonde iríamos era o açougue!
E era, assim como a barbacoa era o churrasco! A bicha era a fila que estaria grande mais tarde, e o ‘autoclismo’ só fui entender o que era quando cheguei na casa deles e pedi para ir ao banheiro e o ‘gajo’ me indicou a ‘casa de banho’, o banheiro, e aí percebi o que deveria ser consertado, pois a descarga do banheiro que não funcionava. Era o tal do ‘autoclismo’!!!
Pra terminar aquele dia, escutei o pai deles gritar na mesa na hora do almoço:
– Ô mulher, fala pros nossos putos pararem de correr e de gritar!
Que susto: eram os miúdos, ou seja, as crianças deles que não paravam de correr e brincar à volta da mesa!!
Praia de Albufeira, Algarve, 1982
Bem, são centenas de palavras e expressões que se fala em Portugal e nos demais países de língua portuguesa que não tem a mínima conotação com nossas palavras e expressões similares, e isso me fazia, naquela época, parecer um analfabeto em meu próprio idioma, e jurei a mim mesmo que iria aprender outros idiomas e que primeiramente dominaria o meu próprio idioma, para nunca mais entender e não compreender o português!
Quarenta anos depois, agora em 2020, me vejo na mesma situação com essa globalização e tecnologia da comunicação sem fronteiras no mundo dos negócios, mas nada que não possa ser assimilado, imagino!
Como faço assessoria jurídica a algumas empresas do exterior também, bem como a empresas nacionais de vários segmentos de tecnologia, fui obrigado a digerir esse novo mundo, mesmo porque, já teria que ter parado há muito tempo se não tivesse embarcado nesse ‘trem da informática’, pois tudo no campo do direito, e de todas as demais profissões hoje em dia, é baseado na informática e computação, então me sinto preparado para continuar nessa jornada.
Só que daí aconteceu de novo, a mesma sensação de incompreensão de seu próprio idioma, desta vez mesclado com algumas palavras que já se incorporaram ao nosso palavreado cotidiano (pelo menos para ‘eles’), o que me fez dar muitas risadas na última tele-conferência que participei nestes dias de quarentena, com dois grupos de empresários onde eu representava um deles na apresentação de um produto que interessa ao meu grupo. Dos oito participantes, o mais velho tinha 40 anos, depois de mim com 66, e a média (deles) era de 34 anos!
Após as apresentações de praxe, os dois rapazes da área de tecnologia começaram a fazer as devidas apresentações, e o do meu grupo informou as características do produto que necessitava, e o rapaz do outro lado falou das características e vantagens de seu produto para os fins desejados por nosso grupo, e o Natanel começou:
– Dentro das nossas necessidades, estamos à procura de uma plataforma de blockchain que possa suportar emissão de tokens ou security tokens com tecnologia de wallets através de templates e que possam ter uma regra de compliance matricial que fale com uma wallet com API, dentro da nossa própria arquitetura de gerenciamento de assets!
Isso está gravado, pois a conferência é via skype e eu era um dos participantes, e pensei comigo mesmo: se esse cara responder isso normalmente daí eu paro, eu não vou agüentar e vou começar a rir, pois não parava de lembrar da minha primeira viagem à Portugal em 1982, e aqui agora também ouvia o português e não compreendia nada!
E o rapaz que detém essa tecnologia começa a responder:
– Perfeito Natanael, é essa a característica de nossa plataforma, e digo mais: as wallets podem ser headless para private Sales, e a API pode gerenciar os assets com integração do VPA no meu ambiente de network em um conjunto de API’s dentro de um container, os chamados dockers, e vocês poderão subir uma wallet privada ou pública negociada em full load com as API’s, com documentos de integração compartilhados com dois ou mais documentos, e pode ser uma Exchange ou uma main tool que desenhariam o procedimento dentro da nossa plataforma de integração, gerando um QR Code.
– Ok Marcelo, creio que essa sua plataforma deverá servir para o nosso projeto, e por ora creio que não há necessidade de entrarmos em detalhes técnicos, com essas informações já é o suficiente para mim, e posteriormente vamos nos aprofundar mais tecnicamente.
PQP! Isso ainda não era a discussão técnica do sistema e do projeto?
Aí pedi a palavra e contei um pouco da minha estória de Portugal para quebrar o gelo, pois havia ouvido tudo, e não compreendi nada, igual há 40 anos em Portugal!
Portanto deixo aqui meu recado: Nos dias atuais de quarentena não se reúnam com a malta do trabalho ou do clube, por mais porreta que possam ser, e não saia nem mesmo para ver aquela rapariga gira; use máscara se for obrigado a sair de casa para não parecer um gajo abiscoitado, e cuidem bem dos seus putos!
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Por Dr. Osvaldo Tetaze Maia
Fonte de todas as fotos – Arquivo pessoal de Osvaldo T. Maia
Sensacional! O seu texto Dr. Osvaldo parabéns. Sergio.
Obrigado Sérgio!