Por Fábio do Valle Quintanilha.
Meu nome é Fábio do Valle Quintanilha e eu moro nos Estados Unidos a 21 anos. Nos últimos 5 anos eu tenho residido na área de The Woodlands, Texas ao norte de Houston onde opero uma franquia na área de mudança chamada College Hunks Hauling Junk and Moving.
Natural da cidade do Rio de Janeiro, isso sempre me influenciou com a conexão em tudo ligado a natureza: o mar em ressaca, o pôr do sol, uma tempestade inesperada… eu sempre voltava os olhos a esses eventos de uma forma curiosa e intuitiva.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre.
Meu marido Venezuelano se chama Luís Alfredo Gonzalez Lopez (juntos a 8 anos) e ele sempre teve um absoluto fascínio sobre astrologia. Juntou-se a curiosidade e interesse meu por eventos naturais e a admiração dele sobre astrologia para tomarmos a decisão de buscar o melhor lugar para ver o eclipse.
Fábio do Valle Quintanilha e Luís Alfredo Gonzalez Lopez.
Luís já tinha vivenciado na sua adolescência um eclipse total na sua cidade natal em Maracaibo, e eu já vivenciei alguns parciais. Total seria o meu primeiro. Buscamos hotéis na rota do eclipse porém tivemos muita dificuldade em conseguir achar algum disponível durante o dia do eclipse.
Em Austin os preços começavam acima de mil dólares por dia (para os poucos quartos disponíveis), Dallas estava bem próximo a esses preços, então começamos a buscar em cidades menores até que encontrei em Corcicana, TX um motel 6 que estava cobrando 220 dólares por dia. Sim, quase o triplo do preço que eles praticam e só tinha dois quartos disponíveis.
Não pensamos duas vezes e reservamos. Ficamos na expectativa do evento mas durante a semana a previsão do tempo estava assustadora: tempo coberto com nuvens pesadas e possibilidade de chuvas em mais de 50% para a cidade que iríamos.
Pensamos se valeria a pena ir assim mesmo, e decidimos arriscar porque poderíamos perder um evento que não se repetiria em solo americano por décadas. Preparamos nossas coisas, pegamos nossos dois Dachshunds e botamos no carro, levando algumas coisas para beliscar e água, caso tivéssemos dificuldades em encontrar lugares para comer.
Saímos de casa no Domingo, dia 7, às 20:30h e seguimos rumo a Corcicana, TX. Chegamos a 2018 US-287 5 minutos antes das 23h. Fizemos nosso checkin e fomos para o quarto 206 no segundo andar na área sul do prédio. Descarregamos o carro, andamos com nossos cães e fomos dormir.
No dia seguinte acordamos por volta das 8 am e verificamos que o tempo estava bem nublado. Luís tinha um semblante que lia-se desapontado. Saímos com os cães para que eles fizessem suas necessidades na grama e na parte de trás do edifício verificamos um senhor com uma HR-V vinho bem antiga com placa da Geórgia descarregando algumas caixas do porta malas. Ele veio nos cumprimentar e perguntar se os cães eram amigáveis e brincou com eles.
Ele mencionou que veio da área de Atlanta pra ver o eclipse sozinho porque sua esposa não queria vir essa distância toda mas como ele era apaixonado por astronomia não poderia perder a oportunidade de ver o que talvez fosse seu último eclipse total em solo americano. Ele já aparentava estar beirando os 70 anos. Ele acreditava que poderia abrir o céu de repente no momento do eclipse , pois já tinha vivenciado isso.
Deixamos os cães no quarto e fomos tomar café da manhã no Denny’s pertinho do hotel. Enquanto comíamos víamos que o sol começou a oscilar e refletir nos carros de vez em quando. O semblante do meu marido mudou ao ver que poderíamos de alguma forma ver o eclipse. Voltamos ao carro e demos uma volta na pequena cidade de Corcicana, passamos pelo centro, fomos até um estádio onde deveria ter um evento com música ao vivo para ver o eclipse mas que estava bem vazio, talvez por ser uma segunda-feira, talvez por ter previsão do tempo desfavorável, talvez por falta de interesse das pessoas locais. Resolvemos voltar pro Hotel.
Ao regressar, verificamos que o senhor da Geórgia tinha montado dois telescópios profissionais enormes. Paramos pra falar com ele de novo dizendo que ele estava bem preparado e ele estava confiante de que deveríamos ver ao menos por alguns segundos o eclipse. Ele nos ofereceu seus telescópios para que pudéssemos ver no momento do evento, achei aquilo incrível pois ele demonstrou ausência de egoísmo e vontade de compartilhar com outras pessoas aquele momento especial.
Fomos ao nosso quarto, troquei de roupa (coloquei algo mais leve para ficar na grama) brincamos com nossos cães e depois voltamos ao ponto onde estava nosso companheiro de eclipse. Naquele momento o céu começou a mostrar pontos sem nuvens e aos poucos abrir mais buracos entre as nuvens e a nossa expectativa começou a aumentar. Pensei: viemos parar num hotel onde consequentemente encontramos uma pessoa expert em eclipse que nos oferece a oportunidade de compartilhar seus telescópios no momento do eclipse. Não achei aquilo apenas uma coincidência mas uma providência divina de que deveríamos estar exatamente ali naquele momento.
Aos poucos outras pessoas se aproximaram também ele ofereceu explicação sobre o fenômeno, principalmente aos mais jovens. Tinha uns 3 adolescentes. Uma senhora já com bastante idade ajudava o senhor da Geórgia ajustando os aparelhos e ela entendia muito sobre astrologia também e falava sobre o que deveríamos ver e vivenciar.
Aproximadamente 5 minutos antes do eclipse, o ponto onde estava o sol simplesmente abriu e podíamos ver o sol perfeitamente. Havíamos levado uns óculos especiais para eclipse para ver e estávamos ansiosos.
Ao todo naquele momento deveríamos ter umas 10 pessoas em volta do telescópio: o dono definiu qual seria a ordem e quanto tempo cada um poderia ver para que todos tivéssemos tempo de observar. Também ofereceu uns binóculos com lentes especiais para ver e óculos especiais caso alguém não tivesse preparado.
Começamos a observar a lua começando a entrar na frente do sol. Quando chegou mais ou menos uns 25% de cobertura, percebemos que a intensidade da luz começou a mudar. Observamos nos telescópios a entrada da lua, e usamos as lentes que havíamos comprado também. Tentamos tirar algumas fotos com nossos celulares.
Aos 40% de cobertura da lua sobre o sol a intensidade da luz reduziu mais ainda e começamos a perceber uma mudança em temperatura. Aos 60% os pássaros comeracam a voar e a se recolher , e mais ou menos aos 75% às sombras ficaram diferentes, mais fortes como que a luz estivesse sendo projetada de uma lanterna.
Observamos também um certo vento e a luz ao nosso redor foi reduzindo em formato de cone de fora pra dentro em nossa direção, algo difícil de conseguir explicar em palavras mas impactante em vivenciar.
De repente a hora bate 13:40 h e lá estava ele: o eclipse solar total – o céu aberto exatamente onde estávamos. Meu marido pulava de alegria como se fosse uma criança !
O senhor da Geórgia ajustou o primeiro telescópio azul e disse que poderíamos observar, enquanto ele foi ajustar o segundo. Quando sentei numa escadinha improvisada de cadeira para ver, eu fiquei boquiaberto: vi o sol, com a lua no meio, um círculo perfeito de luz do sol em volta da lua e umas chamas de cor lilás que saía de alguns pontos do círculo e víamos o movimento das chamas lilás de forma nítida!
Segui para o segundo telescópio que já estava ajustado: vi o sol e a luz que vinha por detrás de forma nítida também, a lente filtrava de forma diferente a luz e parecia mais nítido que o primeiro, a luz lilás que vinha por detrás da lua também era nítido mas não dava pra ver o movimento das chamas como no primeiro.
Levantei-me e cedi o lugar para que outras pessoas pudessem compartilhar esse momento, e usei as lentes que compramos na Amazon para observar um pouco mais. Em volta parecia umas 20:30 h onde as luzes dos edifícios em volta comeracam a acender como se fosse noite. A temperatura era notavelmente mais baixa. Ali, senti naquele momento, algo interno e especial que posso definir como a inquestionável existência de uma força divina superior, uma energia forte e inigualável. Foi inesquecível e muito pessoal.
As pessoas que estavam em volta conseguiram ver nos dois telescópios e pudemos repetir a experiência de sentar e verificar outra vez a visão por esses aparelhos, até que o sol começou a sair de trás da lua e no primeiro feixe de luz o senhor da Geórgia gritou para que todos parassem de olhar a olhos nu, e por os protetores e ele imediatamente colocou as lentes de proteção nos telescópios para não cegar ninguém.
Ficamos ali mais um tempo sentindo a energia daquele lugar, naquele momento único, sentimos a luz solar começando a voltar e aquecer nossa pele, as luzes automáticas do hotel começando a apagar-se, o vermelho no horizonte do pôr do sol sumir, os pássaros a voltarem a voar, e perceber que estávamos ali com um bom samaritano que resolveu compartilhar esse momento com desconhecidos, numa remota cidade do Texas.
No final, agradeci muito pelo fato dele ter sido tão cordial e generoso e perguntei a ele:
“Quanto tempo mesmo levaria para a luz viajar do sol até onde estamos na terra?”
“Oito minutos na velocidade da luz”
“Nossa, que rápido. Então se algo tivesse acontecido lá durante o eclipse iríamos ver apenas 8 minutos depois…”
“Exatamente! Poderemos estar já todos mortos se houvesse uma explosão e nem sabemos ainda!”
E foi assim que terminou nossa interação. Luís e eu jamais esqueceremos o que vimos e sentimos durante aquele eclipse e honestamente já pesquisamos que haverá um outro eclipse total em dois anos que vai passar pela Espanha! ¿Hablas espanhol? Pois já estamos planejando a viagem!
Fonte do Esquema animado – Wikipédia, a enciclopédia livre. – Esquema animado mostrando as áreas atingidas pelo eclipse
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Por Fábio do Valle Quintanilha.
Fonte das maiorias das fotos – Arquivo pessoal de Fábio do Valle Quintanilha.
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Sergio Lima.