Sergio Lima
Na minha seleção de todos os tempos do América Futebol Club do Rio de Janeiro, não tinha ainda citado quem era o nosso grande capitão, pois não tínhamos encontrado uma foto sua para ilustrar e mostrar quem era realmente esse ilustre cidadão. Hoje, em uma postagem do meu amigão, o ex-craque do América, Mauro Pedrazzi, encontramos a foto que tanto buscávamos. Agora, apresento à todos, o nosso capitão Gessy, chamado carinhosamente por nós de “Cici”, nosso roupeiro, extraordinário profissional, engenheiro do vestiário.
Cici sabia todos os segredos e caminhos para ajustar e preparar nosso material de jogo e treino. Cuidava e fazia tudo com esmero, sabedoria e, conhecia como ninguém, as nossas necessidades, antes, durante e depois dos jogos. Cici era um brincalhão nato, parecia um autêntico carioca, mas eu sabia que ele era um Campista como eu, de Campos dos Goytacazes. Tinha um sorriso constante, um alto astral e, na sua humildade, parecia não ter problemas na vida. Porém, era contundente quando se sentia injustiçado. Grande Cici! Gente nossa, nossa gente! Que Deus o tenha, onde você estiver. Meus eternos agradecimentos, amigo Cici.
Gessy de camisa branca, com o zagueirão, o craque Donato, que hoje reside na Espanha.
Esta é uma homenagem a todos esses cidadãos maravilhosos que fizeram parte da minha vida profissional. Foram extremamente importantes e brilhantes em suas funções. Dedicaram suas vidas, e trabalharam em prol do nosso grupo no América Futebol Club do Rio de Janeiro.
Passaram despercebidos pelos focos das câmeras da imprensa na época em que comecei a jogar no juvenil do América em 1969. A importância desses dedicados cidadãos era fundamental para que pudéssemos viver e brilhar. Sem eles nada poderia ter sido feito ou ter acontecido. O tempo passou. Quando me comunico com alguns dos amigos, ex jogadores do passado pergunto, e sobre por fulano? ou beltrano? As respostas são quase as mesmas, fulano já foi, beltrano também, e fulano de tal, não sei. Emociono-me ao saber e lembrar de todos sem exceção.
Fonte foto – Acervo pessoal de Paulo Cezar Carreira.
Algumas vezes fecho os olhos e viajo como em um sonho. Vejo um por um aparecer sorrindo para mim como fosse depois de uma partida no Maracanã ou qualquer outro estádio onde nos apresentávamos. Lembro também quando fazia um gol e esses geniais cidadãos acompanhavam minha felicidade como um familiar. Quando perdíamos uma partida o sofrimento e a tristeza era igual. Eles estavam sempre juntos na mesma sintonia. Salve a minha seleção de todos os tempos do América.
Escalação
Goleiro Sr. Osni do Amparo, extraordinário ser humano, nosso treinador de goleiros, conhecedor profundo da posição e um profissional respeitado.
Sr. Osni
Lateral direito Pegado, motorista do ônibus velho, cidadão de primeira linha, profissional extremamente confiável, alto astral, era de baixa estatura mas sempre disposto a mostrar suas habilidades, dizia saber se defender usando os punhos como boxeador e com grande desenvoltura fazia os movimentos como se estivesse em uma luta.
Pegado o motorista do ônibus velho, não aparece na foto – Acervo pessoal de Paulo Cezar Carreira.
Zagueiro central – Tonhão, motorista do ônibus novo, exatamente como o Pegado era alto astral, profissional dedicado. A diferença entre os dois motoristas? Tonhão era alto tinha mais ou menos 1.90 e uma barriga extremamente volumosa, isso servia como motivo para as brincadeiras e gozações. Ele ria descontraidamente e procurava encontrar nos outros um motivo para brincar e dar o troco.
Sarão na frente do ônibus novo e o Tonhão na janela onde aparece só o braço dele.
Quarto zagueiro – Paulão, era um dos nossos massagistas, um profissional exemplar, tinha estilo próprio e peculiar, agressivo e algumas das vezes os jogadores gentilmente selecionava ele ou o Getúlio dependendo do momento.
Lateral esquerdo – Getúlio, outro dos nossos massagistas, grande profissional, alto astral, educado, esperto e muito bem humorado. Getúlio sabia levar a vida, gostava de um samba, trabalhava sem brigas ou confusões, era gente do bem.
Getúlio.
Meio campo – cabeça de área camisa 5. O inesquecível e querido Tio Vitorino, ele era magistral, ajudante de cozinheiro e fazia milhares de outros afazeres na concentração no Km. 18, ele ouvia e fazia tudo que tia Vina pedia e mandava.
Meio campo – camisa 10. Tia Vina, é inesquecível, querida,Tia Vina! Tia Vina! Tia Vina! Dona da cozinha da concentração no Km.18 da Rio Petrópolis. Que saudades.
Depoimento do nosso amigão Sarão, craque dos anos 70.
O Jorge Cuíca faleceu? NÃO! NÃO! Graças a Deus, o nosso querido amigo Jorge Cuíca esta VIVO DA SILVA, e mora no interior de Minas, eu falei com ele. Sérgio, eu não sabia, que legal. Mas tu tens razão e faz muito bem falar sobre as pessoas que cuidavam da gente no anonimato, que alegria chegar em nossa casa em Petrópolis e ser recebido com amor e o sorriso do tio Vitorino e da tia Vina. Ver nossa cama bem arrumadinha com as toalhas em cima e o feijão no fogo com as latas de leite condensado dentro para virar sobremesa, isso não tinha preço. Falo nossa casa, pois nós que morávamos no apartamento do América na rua Barão de Iguatemi 118, quando chegávamos na concentração era nossa casa sim! Nós não precisávamos sair para almoçar, lembra?
O craque Expedito, que faleceu, ilustra o texto na foto da concentração no Km. 18 da Rio Petrópolis.
Meio campo – camisa 8. Titio Evaristo, responsável pelo casarão, a concentração dos juvenis na rua Gonçalves Crespo 63 esquina com Campos Sales na Tijuca. Titio era um paizão para todos nós, dava broncas, reclamava quando não íamos a escola, da arrumação das camas, mas ficava muito triste quando chegava a hora em que tinha que informar sobre a BARCA! Que significava os jogadores que iriam embora no final da temporada.
Titio Evaristo
Nossa concentração do juvenil na Gonçalves Crespo 63 na Tijuca.
Ponta direita – Bira, outro dos nossos massagistas camisa 7, imagine um ponta habilidoso e rápido. O Bira era um profissional extremamente capaz e muito bem humorado, engraçado. Sua entrada no gramado quando algum de nós estávamos no chão machucado precisando ser atendido, ele chamava atenção de todos no estádio. Começava a correr, com a língua para um dos lados da boca parecendo morder, e partia em alta velocidade para dentro do campo, muitas das vezes ao chegar onde era requisitado, se dava conta que tinha esquecido a mala com os medicamentos para o atendimento ao jogador, então bruscamente, fazia um gesto de surpresa e espanto, repentinamente dava meia volta em alta velocidade voltando para pegar a dita maleta que tinha ficado na beira do gramado. O riso no estádio era geral.
Bira
Centro avante camisa 9 arisco, extremamente profissional Gessy, nosso querido roupeiro, cuidava do nosso material como ninguém, tudo estava sempre impecável. Nós o chamava carinhosamente de “Cici”. Gessy, sabia tudo da sua profissão, era um sábio inteligente, super bem humorado, estava sempre rindo, nunca o vi reclamar de nada, falar mal ou criticar alguém, estava sempre de bem com a vida. Pessoa maravilhosa. Tenho muitas saudades do grande e genial Cici.
Fonte Foto Arquivo Vida Brasil Texas – Gessi (CICI).
Ponta esquerda camisa 11 – Tuca, assistente geral, era um personagem especial que foi inserido no grupo a pedido de uns diretores do club para ajudar em todas as tarefas e afazeres. Era querido por todos, aproveitou a oportunidade da vida dele para trabalhar conosco, foi maravilhoso para nós, o aprendizado ao conviver com ele.
Fonte Foto – Arquivo Vida Brasil Texas – Tuca.
Treinador senhor Washington sabia tudo sobre futebol amador, um dos melhores que vi, sempre calmo, falava quando era necessário, educado, um dos grandes homens dentro do ambiente do futebol que conheci. O mesmo sem tirar uma palavra o Sr. Moacir Aguiar, esse extraordinário como diretor do departamento amador. Ele são dois seres humanos FORA DE SÉRIE.
Fonte foto – Vida Brasil Texas – Senhor Washington.
Senhor Moacir Aguiar
O titio Evaristo, é inesquecível, exemplar um paizão, pois era o coordenador da concentração dos juvenis na rua Gonçalves Crespo 63, na Tijuca.
Titio Evaristo
O Titio Evaristo foi um dos grandes responsáveis por muitos de nós tornássemos profissionais do América, principalmente por este time, campeão juvenil em 1969. A grande maioria moravam na concentração, e o titio fazia de tudo para manter a ordem, alimentação, horário para dormir, a disciplina era base total, tudo na paciência, carinho, mas também com mão forte, para que todos, estivessem prontos para desempenhar o seu papel no campo . Dirigente Sr. Gerson Coutinho, fazia a parte dele como dirigente amador, coordenava, ajudava quando tinha que ajudar, dava broncas quando era necessário, mas era um grande profissional do futebol amador da época.
Na foto destacamos, Titio Evaristo, acima de todos de camisa preta, Sr. Moacir de preto sorrindo na segunda linha no meio, Sr. Natalino e Sr. Wilson de branco na ponta.
Departamento médico. O genial Dr. José Fernandes, profissional nota 1000! O melhor dos melhores, amigo, educado, gentil, sabia tudo de medicina. Dr. José Fernandes, muitas das vezes mesmo sem querer atuava como psicólogo , pois sabia o momento exato para um bom papo, esclarecedor e motivador.
Fonte Foto – Arquivo Vida Brasil Texas – Dr. José Fernandes.
Departamento médico, os enfermeiros eram maravilhosos, pessoas simples e extremamente profissionais, senhor Wilson simpático calmo bem humorado, alto astral, gostava de uma resenha.
Fonte Foto – Vida Brasil Texas – Sr. Wilson.
Sr. Natalino, era mais sério, mas extremamente carinhoso, os dois entendiam sabiam como ninguém a gravidade das lesões e providenciavam o tratamento adequado imediatamente, no momento exato em que presenciavam, nunca perdia a linha, nem deixava transparecer e o jogador perceber. Saudades, muitas saudades.
Sr. Natalino
Extraordinários jornalistas, Valter Sales e Iata Anderson. Dois gênios do jornalismo esportivo de todas as épocas para mim, com estilos e caminhos diferentes. O magistral Valter direcionando as notícias para sua rádio Mauá e o excelente Iata Anderson trabalhando na rádio Tupi, como plantonista.
Fonte Foto – Vida Brasil Texas
Foi para a Rádio Globo, ainda no plantão e fazia grande e especial cobertura no América.
Iata Anderson.
Nosso grande amigo Iata nos acompanhou em várias viagens: Cidade Rosário na Argentina, Moçambique, Angola na África e Lisboa em Portugal. Valter e Iata são dois sábios, jornalistas e radialistas, amantes e grandes torcedores do América.
Eraldo, Antonio Carlos e Rodrigo seu filho – Iata , Mauro, Sergio Lima e Aldeci.
Torcedor, Sangue! O espetacular “Tiziu”. Ele foi o primeiro e solitário torcedor negro do América que eu conheci e marcou minha vida no clube. Era emocionante vê-lo, corria como louco com a bandeira do América enrolada no corpo de um lado para o outro, no último degrau da arquibancada do Maracanã, aquilo emocionava.
Fonte foto – Acervo pessoal de Paulo Cezar Carreira.
Todas as vezes que fazia um gol, corria em direção a maravilhosa torcida americana com os braços erguidos dedicando o gol para todos eles, nesse mesmo instante ficava bem lá no fundo, bem no fundo do meu coração, orgulhosamente a dedicação especial para o solitário negrão “Tiziu”.
Nossos eternos e memoráveis mascotes marcaram época, eram marca registrada no futebol carioca pois suas figuras, ilustravam e faziam a diferença na entrada em campo e também nas fotografias do América. Hoje, Luis Roberto e Carlos Roberto são homens feitos, aproveito para agradecer por fazerem parte da minha história.
Luis Roberto e Carlos Roberto.
O nosso inesquecível campo do Andaraí, Andaraí, Andaraí. Todos os comentários imagináveis.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Por Sergio Lima
Sou primo do Tuca e fiquei muito orgulhoso da lembrança que tiveram dele. Chorei de saudades, mas, também, porxsaber que ele tinha amigos de verdade.
Deus abençoe a todos
Obrigado, Ivan Campos do Amaral, fico muito feliz por você ter gostado da nossa reportagem e ser parte da família do nosso querido e grande amigo Tuca. Receba um forte abraço.