Meu nome é Ludmila Claro, tenho 37 anos e atualmente vivo em Houston, Texas – USA. Nasci no Engenho Novo no Rio de Janeiro e fui criada em Jacarepaguá. Mais carioca e suburbana impossível! Adoro isso! Sou gêmea de um irmão que considero um dos meus melhores amigos e tenho uma irmã mais velha. Meu pai era técnico mecânico e a minha mãe era professora. Minha vida sempre foi na guerra e sempre estou batalhando para a cada dia ganhar uma luta. Tive uma boa infância ao lado dos meus pais e meus irmãos, mas perdi minha mãe, vítima do câncer, ainda pequena. Minha mãe era e é, até hoje, a luz da minha vida, meu exemplo, minha inspiração e minha paz quando preciso. Ela sempre preparou meus irmãos e eu para a vida pois sabia que seu tempo na Terra era curto. Eu agradeço a ela por ser quem eu sou. Ela foi professora numa escola carente de uma comunidade no Rio de Janeiro. Gostava de ajudar seus alunos e a todos que a cercavam. Ela era linda por dentro e por fora, se formou em Pedagogia meses antes de morrer e o estudo sempre foi o caminho que ela nos ensinou para ser alguém melhor na vida.
Após a morte da minha mãe a minha família desmoronou, minha avó materna faleceu 4 meses depois, meu pai teve um novo casamento, minha irmã saiu de casa. Passei minha juventude reprimida com a nova família. Sempre me colocaram pra baixo ressaltando meus defeitos. Sempre falavam que o meu sangue não prestava (por eu ser parecida com a família da minha mãe tanto fisicamente e emocionalmente) e que eu não seria nada na vida! Nessa mesma época eu sofria bullying na escola, ainda não existia essa nomenclatura. Eu sempre fui rejeitada até o nono ano, eu sempre escutei piadas, eu não tinha amigos, eu era tímida, magra demais, mas sempre aplicada nos estudos. Só tinha amigos nos testes, provas e nos trabalhos em grupos. Com 15 anos saí de casa após meu pai me bater (já tinha acontecido isso algumas vezes), foi a primeira vez que eu reagi na vida, minha madrasta não gostava de mim por que eu tinha uma foto da minha mãe embaixo do meu travesseiro. Meu pai já havia jogado fora vários álbuns de família, mas consegui salvar alguns no lixo. Eu nunca me importei que falassem de mim, mas quando a minha madrasta falou da minha mãe o meu sangue ferveu e eu revidei verbalmente. Meu pai me deu uma surra que eu sinto até hoje. Sai correndo, liguei para o meu avô materno que eu não via desde a morte da minha mãe e ele me disse “pega o primeiro táxi, vem morar comigo e com os seus tios”.
Tive bons anos ao lado deles, fui tratada como filha, tive educação e amor. Mudei de escola, fiz amigos, comecei a viver. Meus tios e meu avô fizeram o melhor que podiam e eu sei disso. Pegaram uma adolescente cheia de problemas, com uma auto estima baixa, que achava que tudo que fazia era errado e conseguiram transformar numa pessoa mais capacitada e com mais qualidades. Mas sempre existiu um vazio no meu coração, faltava a minha família, a minha própria família. Fiquei grávida aos 17 anos em 1998, não foi fácil. Muitos medos, mas a coragem de assumir e ter o bebê foi maior, eu queria tanto aquele pequeno ser na minha barriga. Me descobri como mãe e no momento que segurei ela eu soube que eu estava completa novamente. Ser mãe adolescente não foi uma tarefa fácil, abri mão de tudo por ela e sei que faria tudo de novo pois foi minha maior e melhor escolha. Nunca deixei de estudar, pelo contrário, sempre coloquei a minha filha como o meu maior incentivo. Eu precisava ser alguém melhor e ela sempre foi o meu motivo. Meu primeiro emprego foi numa escola, minha filha ficava na creche e eu trabalha o dia todo na secretaria e na mecanografia. Um ano após já estava como professora de informática (eu tinha terminado o ensino em processamento de dados). Me descobri como professora. Pela noite meu marido (na época namorado) e eu estudávamos juntos e cursávamos Biotecnologia. Quando eu completei 20 anos nós fomos morar juntos. Trabalhávamos e estudávamos muito. A grana estava sempre escassa, mas aquele era o caminho.
Aos poucos a vida foi melhorando, fomos mudando de casa, de cidade, mas sempre na luta. Nunca paramos de estudar e trabalhar. Isso fez com que maravilhosas oportunidades surgissem nas nossas vidas. Veio mais um filho lindo e amado, o Juan em 2003. Eu procurava me adaptar a cada mudança. Sempre procurava empregos e locais para estudar. Eu sempre ajudava todos que podia. O que eu não podia era ficar parada. Eu estudei Pedagogia e meu marido Química, sempre queríamos aprender mais. Uma vez numa escola, a coordenadora me disse que iria mudar a minha função, eu seria uma “ajudadora “e eu não tinha entendido, ela me explicou que eu estava sempre à disposição de tudo e de todos mesmo se não fosse a minha função. Sempre me destaquei em todos os lugares que trabalhei porque eu tinha sede de aprender e cooperar com o grupo. Eu sempre quis que todos se dessem bem. Eu sempre fui mais na vida de cada pessoa e nunca fui menos. Eu queria fazer a diferença para cada um e fazer com que todos fossem capazes de tudo. Era bom demais isso. Depois disso em 2013 mais uma oportunidade de mudança! Texas – USA, eu lembro quando meu marido me perguntou se eu queria e eu disse “vamos”. Estaríamos recomeçando a nossa vida em outro país. Mais uma vez grávida (nosso Tony nasceu em 2014), novas adaptações, nova língua, nova cultura, enfim tudo novo… eu agarrei o sonho do meu marido e embarcamos juntos nesse desafio. Não foi fácil! Viver fora do país é sair da sua maior zona de conforto, mas desistir não faz parte dos meus planos.
Novamente não podia ficar parada. Comecei a aprender inglês, melhorei o meu espanhol, comecei a fazer alguns trabalhos voluntários até meus 8 meses de gestação. Depois do nascimento do meu bebê trabalhei como professora de português para crianças e representante de produtos brasileiros. Me adaptei na marra aqui. Com isso fui percebendo a necessidade de tantas brasileiras que vivem aqui ou que estão vindo morar. Fui observando e vendo tudo que precisavam. Criei um grupo no Facebook e o grupo já tem mais de duas mil mulheres. Incentivamos o trabalho voluntário, criamos encontros, ajudamos umas às outras. Eu vi que o grupo era pequeno e com isso fundei uma ONG com uma amiga para podermos fazer e ajudar mais. Nossa ONG se chama Brazilian Women Foundation, acabou de completar um ano em agosto. Já temos várias voluntárias nos ajudando. Todos os meses criamos campanhas ou dias de trabalhos voluntários, incentivamos sempre a ajuda ao próximo independente da nacionalidade. Fazer pessoas sorrirem novamente é o nosso principal objetivo. Ainda trabalho coordenando o Brazilian Food and Music Festival, com o festival procuro ajudar os talentos culinários locais e divulgar mais ainda a nossa cultura brasileira através da comida e da música. Não imaginava e nem sonhava ter isso na vida, mas tento fazer o meu melhor sempre. Em tudo que faço eu coloco o meu coração, eu coloco o meu amor.
Houston , Texas-USA…mais um caminho que nasce na história de Ludmila Claro para ser cuidadosamente ‘ornamentado’ por ela. Vocês verão que ‘pedacinhos’ desta guerreira serão deixados em vocês e pedacinhos de vocês ficarão nela por esses caminhos que fazem parte desta história de fatos e amizade. É um ser humano singelo de sabedoria borbulhante a cada “passo” que constrói.Vocês chegarão à conclusão de como é bom conhecê-la !
*Parabéns pelo artigo !*
Uma história linda de superação, força e amor. Que Deus continue abençoado sua saúde para que continue ajudando e cuidando de tanta gente como você faz. Ja te admirava, agora fica também o respeito e o amor. Muito obrigada por tudo que faz, principalmente pela comunidade brasileira. Um abraço!
Oi! Conte mais sobre suas experiências de recnetagem.
Sua ambição e orgulho é um incentivo para muitos. Eu gostaria de me encontrar novamente algum dia. Sinto falta da sua bela alma.