Por Osvaldo Tetaze Maia.
Por mais inusitado que possa parecer, este é mais um episódio do futebol brasileiro que ‘nunca’ foi registrado no Brasil, portanto, através dessa crônica e das fotos que ilustram a história, poderão conhecer outro encontro histórico do futebol mundial.
Corria o ano de 1991, e em uma viagem a Marbella na Costa do Sol na Espanha, em um bate papo com amigos Espanhóis que viviam em Gibraltar (a possessão britânica dentro da Espanha com seu famoso ‘Estreito’), me falaram que eu teria que conhecer o ‘país’, e que eu poderia ajudá-los a fazer alguns eventos com eles, pois queriam principalmente trazer uma equipe de futebol de ex-jogadores do Brasil para fazer um jogo com veteranos da seleção inglesa de 1970, como promoção para difundir a ‘Feira Mundial Rock 92’ que aconteceria em Gibraltar em 1992, paralelamente à ‘Feira Mundial de Sevilha’, que esta sim era a atração mundial daquele ano; http://www.expo92.es/inicio/index.php.
A principio, fiquei imaginando o que seria isso e resolvi conhecer Gibraltar, o que até hoje considero um dos mais atraentes locais turísticos do mundo, com a sua peculiar pista do aeroporto com ‘semáforo’ para poder adentrar ao país, de carro ou a pé vindo da Espanha, ademais da sua cultura britânica incrustada dentro da Espanha, e até hoje mantenho amizade por lá onde já retornei uma dezena de vezes.
Assim, após visitar o ‘país’ Gibraltar e o ‘Victoria Stadium’ naquele ano, acertei com o meu amigo ‘Clive’ que iria levar em Abril de 1992 a equipe de ex-jogadores do Flamengo, Campeão Mundial de 1981 em Tóquio, o que seria o grande evento de promoção da Feira Mundial deles, pois havia uma competição com Sevilha que sediaria em 1992 a ‘real’ Feira Mundial, e os ingleses não queriam ficar atrás da Espanha, mas ficaram, pois a Feira Mundial de Sevilha foi um marco das últimas duas décadas!
Avião taxiando no aeroporto de GibraltarAssim, com o jogo de Gibraltar acertado, consegui arrumar com o namorado de uma amiga, um Marroquino que morava em La Línea, a cidade espanhola que faz ‘fronteira’ com Gibraltar, mais um jogo em Tanger no Marrocos, que é somente duas horas de travessia de ‘ferry’ pelo Estreito de Gibraltar. Como tinha ainda mais alguns dias na Espanha, fui a Sevilha falar com o Carlos Alberto Pintinho, que já vivia lá na época e até hoje é cidadão espanhol, e acertei mais um jogo em Sevilha durante a Expo Mundial de 92, e assim retornei ao Brasil com três jogos amistosos para fazer na Europa e África no ano seguinte!
Incrivelmente, por mais surreal que possa parecer, tinha ido de férias à Espanha no verão Europeu de 1991, e de ‘papo em papo’ armei três jogos de futebol na Europa com uma equipe que ainda iria armar no Brasil, e mais ainda, com valores consideráveis de quota por jogo, e sem NENHUM contrato assinado, somente acertado com um aperto de mãos, e todos os três jogos se realizaram em Abril de 1992 e as cotas ‘acertadas de boca’ um ano antes foram devidamente pagas após cada jogo! Posso afirmar que esse ‘mundo’ não existe mais!
Retornei ao Brasil e comecei a ‘arquitetar a excursão’, pois tinha ainda cerca de seis a sete meses para organizar tudo, e devido a minha amizade com o Raul Plasmann, queria levar o time do Flamengo, Campeão Mundial de 1981. Reuni-me com o Raul no Rio um mês depois e começamos a armar a equipe, e depois de alguns telefonemas e encontros saí do Rio com a equipe formada para poder confirmar com meus amigos na Europa, o jogo de Gibraltar, Marrocos e Sevilha, e que a equipe do Flamengo teria ainda um ‘reforço’, o Jairzinho o ‘Furacão da Copa’ de 70, e seu nome era (e ainda é) muito forte na Europa e África!
E assim foi formada a equipe que chamei de ‘Seleção de Ex-jogadores da Seleção Brasileira e do Flamengo, Campeão mundial de 1981, título da Equipe que foi apresentada na Excursão, a qual, além da base do time do Flamengo Campeão Mundial de 1981, contou ainda com os seguintes jogadores no time principal:
ROBERTO E RAUL PLASMANN (GOLEIROS) – RONALDO – CARLOS ALBERTO – MANGUITO – RONDINELLI – MARINHO – CARLINHOS – LEANDRO – WILSINHO – MURILO – KLEBER – RUY REI – JAIRZINHO E LICO (O MAESTRO).
As camisetas com as cores da seleção foram a opção para representar a tradicional camiseta da seleção brasileira. A idéia inicial era o uniforme do Flamengo, mas por esse motivo optamos por uma ‘amarelinha’, e somente o Raul usou a tradicional dele!
Em suma, estava ali formada a base do Flamengo campeão mundial onze anos antes, mais o Jairzinho, que no mesmo ano viria aí sim a vestir a camisa do Flamengo na série de jogos que foram realizados em Santa Catarina e em Curitiba, mas isso é para contar em outra ocasião! Somente para relembrar os saudosistas, o time base do Flamengo na final de 81 foi: Raul Plasmann – Leandro – Marinho (Figueiredo) – Mozer – Júnior – Andrade – Adílio – Zico – Tita – Nunes – Lico.
E assim, em Abril de 1992 foram realizados dois jogos na Europa com essa equipe formada por ex-jogadores de futebol da Seleção Brasileira e do Flamengo, sendo um em Gibraltar e um em Sevilha na Espanha, mais um na África, em Tanger no Marrocos. Em Gibraltar foi realmente contra ‘ex-jogadores’ de várias seleções inglesas da década de 70 e 80, e perdemos por 4×2 com dois gols de ‘Terry Cooper’, o mesmo lateral esquerdo que em 1970 no México não conseguiu parar Jairzinho, e naquele jogo em Gibraltar os dois relembraram o encontro de 22 anos antes, e o Inglês ainda fez questão de tirar uma foto com Jairzinho! Coisas do futebol!
Em Tanger no Marrocos jogamos contra uma equipe mista de juniores e profissionais de um Clube da Primeira Divisão do Campeonato Marroquino, e aí não deu para os ‘nossos selecionados’, que já vinham de uma ‘maratona’ de quatro dias entre jogo, festas, jantares e Cassino em Gibraltar, e perdemos de 5×1!
De volta a Espanha, fizemos o último jogo da excursão em Sevilha contra um combinado de ex-jogadores, amigos do Carlos Alberto Pintinho, que não deixaria por menos, pois queria ganhar de seus conterrâneos do Flamengo, e aí sabem como é isso, armaram um baita time de tomamos outro ‘chocolate’ dos Espanhóis, 5×2, mesmo com o Pintinho jogando meio-tempo para cada lado!!
E assim já se passaram mais de vinte e cinco anos de uma época que não volta mais, onde foi possível uma confraternização de grandes estrelas do futebol mundial fazendo uma ‘excursão’ como se fossem um ‘time de várzea’ qualquer, sem a imprensa e os “paparazzi” por trás, sem qualquer compromisso com qualquer marca, ou seja, só com a vontade de jogar futebol! As poucas notícias que se teve dessa excursão estão aqui postadas.
Sobre Carlos Pintinho: http://globoesporte.globo.com/platb/conexaogontijo/2008/06/26/o-paradeiro-de-carlos-alberto-pintinho/ – Coluna de Alexandre Gontijo no Globo.com
Enfim, este é um breve relato de uma excursão com ídolos do futebol mundial, sem nenhuma aspiração maior do que participar novamente de uma ‘excursão de futebol’, e ainda sem toda aquela pompa e compromisso de seus tempos de profissionais e sem ‘cobertura jornalística’, algo inimaginável hoje em dia na era do ‘Whatsaap, Facebook e Tweeter’!
Contar tudo o que ocorreu nos bastidores, de bom e de alegre, sem nenhuma rusga entre o grupo nesses quinze dias da viagem seria necessário o capítulo inteiro de um livro, que certamente ainda escreverei.
Contar sobre o reconhecimento dos Europeus e Marroquinos para com o Leandro, Jairzinho, Raul Plasmann e os demais, é quase que indescritível, tamanha era admiração dos torcedores e pessoas nas ruas quando passeávamos.
E mais difícil ainda é contar nessas linhas sobre o desenrolar naquela tarde do embarque para a Espanha no Aeroporto do Galeão, sobre a dúvida da última hora antes do embarque, quando já estavam para fechar nosso vôo para Madri e o Leandro não havia chegado ainda, o que deixou todos preocupados se ele iria fazer a mesma coisa de 1986, quando não quis embarcar (e não embarcou) para o México com a Seleção para a Copa do Mundo!
A preocupação acabou quando que fomos lembrados pelo Raul que “dessa vez não era o Telê o treinador e que o Leandro já tinha garantido para ele que iria viajar, e com esse time não iria furar”!
E assim, prestes a embarcar, com o vôo já fechado, eis que Leandro aparece no saguão do aeroporto, mas aí entrou a ‘presença’ do Raul Plasmann que com um só pedido no balcão da Varig reabriram o vôo e colocaram o Leandro no avião, com a ajuda de duas simpáticas comissárias! Definitivamente, esse ‘mundo’ não existe mais!