Por Osvaldo Tetaze Maia
• Saltar de paraquedas é muito bom, só perde a graça quando o paraquedas se abre!
Há muitos anos escutei de um amigo paraquedista que: Saltar de paraquedas é muito bom, só perde a graça quando o paraquedas se abre!
Confesso que não entendi nada do sentido dessa afirmação, e até hoje, essa frase sempre me vem à memória quando vejo alguma ação extremamente radical de qualquer esporte, e recentemente falando com um outro paraquedista, um amigo Argentino, este também disse a mesma coisa quando me contava sobre seus milhares de saltos até então, e largou a mesma ‘pérola’: “…el placer de saltar termina cuando se abre el paracaídas…” !!
Mas o que isso quer dizer? Para um ‘simples’ mortal como eu, que nunca conseguiu andar nem na Montanha Russa da Disney na década de 80, a qual, comparada com as de hoje, era como puxar um caminhão de brinquedo de madeira no pátio da escola, não há como não assustar-se com a infinidade de esportes radicais de hoje em dia como as ‘asas delta’, ‘bump-jump’, ‘base-jump’, ‘windy-surf’, ‘air racing’, regatas a vela ao redor do mundo, e por aí vai.
No mar então, para mim, o desafio ainda é muito maior, se compararmos o tempo de um salto de paraquedas com o tempo de uma travessia a vela entre oceanos onde os riscos são constantes, dia e noite, se é que se pode fazer essa comparação ‘por tempo de riscos’, mas aqui não é o caso de comparar qual ação ou esporte é mais radical que o outro, mas de ‘pegar uma carona imaginária’ em algumas das mais fantásticas epopéias que se tem notícia, esportivas ou não.
Com relação ao paraquedismo, fico me perguntando se Felix Baumgartner, o Austriaco paraquedista e ‘base jumper’ que em 2012 fez o salto de paraquedas da maior altitude até então tentada pelo homem, a 39 km de altura, literalmente da estratosfera, e ultrapassou a velocidade do som com a marca de 1.357 km/h, batendo todos os recordes já registrados na categoria até hoje, o que fez com que ele se tornasse o primeiro homem a ultrapassar a velocidade do som sem estar dentro de uma aeronave ou veículo, se ele também pensa, ou pensou naquele dia que o salto ‘perdeu a graça’ depois que o paraquedas dele abriu? Naquela ocasião ele confessou que ‘não via a hora do paraquedas abrir’, e com razão.
Felix Baumgartner saltou no dia 14 de outubro de 2012 de uma cápsula levada por um balão à estratosfera por volta das 15h05min (horário local de Roswell-EUA). A subida demorou 2h30min, e para saltar, ele teve de respirar oxigênio puro para eliminar o nitrogênio de seu sangue, que poderia se expandir em alturas elevadas e com isso ameaçar sua saúde. A minha saúde estaria ameaçada só em sonhar em uma queda dessa!
Dessa vez, em um salto desses, eu não acredito que algum paraquedista se atreveria a dizer: “…o salto foi ótimo, só perdeu a graça quando o paraquedas abriu”!
Esse salto pode (e deve) ser visto por completo no ‘youtube’ no ‘link’ abaixo, pois é uma façanha ‘pra lá de radical’, mas não é ainda a mais ‘louca’, dirão alguns, assim como eu digo também:
Além dessa ‘pequena’ façanha, antes Felix já detinha o recorde mundial do mais baixo salto de ‘base-jump’, do mundo, após saltar de uma das mãos do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, façanha amplamente divulgada na época, pois ele subiu ‘sem’ qualquer autorização para o salto.
É ainda a primeira pessoa a cruzar o Canal da Mancha em queda livre, vestindo apenas um ‘wingsuit’.
Antes de Felix, outro paraquedista, o Russo Yakov Solodovnik em 1939 já havia saltado de altitudes estratosféricas, mas a 10 mil metros de altura, ¼ da altitude em que saltou Felix – https://esporte.uol.com.br/radicais/ultimas-noticias/2012/10/16/facanha-de-baumgartner-relembra-primeiro-salto-da-estratosfera-em-1939-paraquedista-quase-morreu.htm?cmpid=copiaecola
E também teve outro paraquedista, Joseph Kittinger, um ex piloto da Força Aérea Americana que em Agosto de 1960 saltou de 31.300 m de altitude, e ficou em queda livre por 4 minutos e 36 segundos e alcançou a velocidade máxima de 988 km/h quando o paraquedas abriu a 5.500m de altitude e levou mais 9 minutos para chegar ao solo, o que, para mim, dadas as condições de cada época, os feitos tem a mesma representatividade, e talvez para esses três, pelo menos nesses saltos, a ‘brincadeira só começou a ter graça’ quando o paraquedas realmente abriu!
Sempre fui um ávido e curioso leitor de ‘façanhas’ realizadas por esses que costumo chamar de ‘super-humanos’, e morando atualmente em frente à Marina de Itajaí, SC, fui ‘apresentado’ a ‘Volvo Ocean Race’, a “Fórmula 1” dos Mares como é conhecida – https://www.volvooceanrace.com/en/home.html – uma regata a vela que existe desde 1973 a cada três anos, onde os velejadores passam oito (8) meses no mar dando a volta ao mundo com paradas de duas semanas em vários países.
O que o brasileiro comum do ‘país do futebol’, como eu, sabe de navegação à vela, é simplesmente quando assistíamos nas Olimpíadas o “Robert Scheidt’ – no iatismo ‘laser’ – https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Scheidt e Torben Grael e Lars Grael na Vela – https://pt.wikipedia.org/wiki/Torben_Grael – https://pt.wikipedia.org/wiki/Lars_Grael – todos os três, diga-se de passagem, os maiores vencedores de medalhas olímpicas da história em seus esportes.
Mas como o tema aqui hoje é ‘esporte ou alguma ação radical’, vou dar meu testemunho sobre o que estou vendo e o que aprendi dessa ‘Fórmula 1’ dos Mares, que já esteve aqui em 2012, 2015 e que permanece em Itajaí na sétima parada da regata 2017/2018 até o dia 22 de Abril quando partem para Newport Beach, na Florida, nos USA.
Mesmo para um ‘simples mortal’ como eu, que também é avesso a esportes náuticos, essa regata é contagiante, pois a aventura desses velejadores é como se fossem parte daquele filme ‘Jogos Vorazes’, onde os competidores tem que lutar para sobreviver dia e noite.
A sétima etapa que sai de Auckland na Nova Zelândia e durante 18 dias e 18 noites (média) chega a Itajaí, SC, é a mais perigosa e a mais longa, pois navegam mais de 6.700 milhas náuticas, cerca de 12.500 km pelos mais violentos e perigosos oceanos do planeta, com ondas que podem chegar a 15 ou 20 metros de altura e no meio da viagem ainda tem que contornar o Cabo Horn na ponta da América do Sul, a mais perigosa travessia marítima que existe, para enfim começar a subir pela costa do Atlântico em direção ao Brasil.
Somente a visualização dos vídeos disponíveis na Internet, ou se quiser pode acompanhar ‘on line’ a regata, já é uma ‘aventura’, e nesse ‘link’ a seguir pode-se ter a exata noção do que é essa ‘corrida de barcos a vela’ em alto mar ao redor do mundo.
https://www.volvooceanrace.com/en/video/11412_Daily-Live-Sunday-1-April.html
Lamentavelmente, nessa etapa entre Auckland e Itajaí ocorreu um acidente fatal, e o velejador Inglês John Fisher, da equipe “Sun Hung Kai – Scallywag, representando Hong Kong, caiu no meio do oceano e foi dado como morto, tornando-se o sexto velejador a morrer nessas condições desde a primeira regata em 1973.
A equipe imediatamente comunicou o Centro de Coordenação de Resgate Marítimo, que localizou um navio na área e desviou para a zona do acidente, mas com a velocidade da embarcação e as condições climáticas, levaria mais de um dia para chegar ao local do acidente e com o resto da flotilha da Volvo Ocean Race a cerca de 320 km e a favor do vento, enviá-los para trás contra o vento e com ventos fortes, não era uma opção viável.
A equipe Sun Hung Kai / Scallywag realizou uma busca exaustiva por várias horas em condições meteorológicas extremamente difíceis, mas não conseguiu recuperar seu companheiro de equipe. Dada a temperatura da água fria e o estado extremo do mar, juntamente com o tempo que passou desde que ele caiu ao mar, presumiram que o velejador foi perdido no mar.
Na realidade, há uma interminável quantidade e tipos de façanhas que o ser humano (a minoria, diga-se de passagem) procura enfrentar e realizar desde que o homem existe, e as que aqui descrevo, seguramente são consideradas as mais radicais dentre tantas outras que poderiam ser descritas também.
Deixo ao imaginário da cada um escolher aquela que considere a de maior radicalidade, e dentre tantas, ainda lembro a até hoje imbatível e inatingível travessia do Atlântico em um barco a remo, realizada em 1984 por quem eu considero o maior navegador, velejador, ‘lobo do mar’ de todos os tempos, ou seja lá o que for que o chamem, AMYR KLINK, que em sua primeira grande façanha saiu da Namíbia na costa atlântica da África e ‘remou’ por 101 (cem) dias e 100 noites até aportar no litoral baiano.
Sou fã incondicional do Amyr, talvez pela forma com que ele conduz seus projetos, que estão muito longe de serem simples ‘aventuras’, pois todos exigiram anos de estudo e muito trabalho para construir suas próprias embarcações, e como ele próprio diz, “…Detesto a palavra sucesso. Por mim, queimava todos os livros de auto ajuda”. Eu também!!
Essa foi apenas a primeira das façanhas de Amyr Klink, pois tem também a sua primeira viagem a Antártida, saindo de Paraty, RJ, sozinho em um veleiro que ele mesmo ajudou a construir, e ficou ‘preso’ no gelo por sete meses e assim pode ‘estacionar’ no mar da Antártida para estudar o meio ambiente de lá, onde permaneceu um total de 13 meses dormindo em intervalos de no máximo 45 minutos, e enfrentando o inverno, icebergs, tempestades e dias sem fim.
Após esses 13 meses, ‘desgrudou’ do gelo da Antártida e foi velejar, sozinho, rumo ao Polo Norte onde permaneceu por mais alguns meses, talvez somente para ‘relaxar da prisão na Antártida’, mas aconselho a leitura de seus livros que farão o leitor ‘velejar’ com total segurança!
Por mais que tentemos entender ou pelo menos interpretar a ‘mente’ desses intrépidos ‘super-humanos’, como simples mortais que somos, pelo menos eu me incluo nessa categoria, não conseguimos entender como arriscam a vida dessa forma, e talvez para alguns não seja nenhum risco de vida, e no caso de Amyr, por tudo que já li em seus livros, tenho certeza que ele conhece todos os riscos de cada empreitada sua nos mares.
Amyr não é e nunca foi ‘um náufrago’ vagando nos mares do mundo, pois aprendeu até que uma gaivota voando em alto mar não significa que esteja perto da terra, pois esses pássaros voam milhares de quilômetros por dias a fio somente planando, e essa descoberta aconteceu em meio ao atlântico após mais de 50 dias remando naquela travessia e as gaivotas sempre o acompanhando.
Diz Amyr: “Minha primeira viagem à Antártida foi um desafio principalmente porque eu nunca tinha comandado a vela sozinho. Fiz uma descida bem lenta, pensando em cada detalhe e levei no total 29 dias. Hoje, faço esse trajeto em 18.” Simples assim, digo eu!
Depois que hibernou por sete meses preso no gelo na Baía Dórian, na Antártida, pois esse era o plano que fazia parte de seu projeto de estudo, o lugar se tornou um de seus preferidos e visita obrigatória das viagens posteriores que fez sozinho ou em companhia de sua família. “Lá tem uma casinha minúscula que os ingleses construíram e abandonaram. Diz ainda Amyr: “…a gente vai lá todo ano, limpa a casa, tira a neve e conserta os vidros…”, conta como quem vai todo ano passar uns dias em sua casa de praia.
https://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Vida/noticia/2014/09/amyr-klink-detesto-palavra-sucesso-por-mim-queimava-todos-os-livros-de-autoajuda.html
Sobre ‘aventuras’ em alto mar e volta ao mundo em veleiros hoje há uma infinidade de histórias bem sucedidas, sem falar ainda das grandes viagens da Família Schurmann de Santa Catarina, que na década de 80 saiu de Florianópolis com 3 filhos menores para uma ‘volta ao mundo’ que durou dez (10) anos, mas isso também é para outro momento, tamanha a grandiosidade dessa epopéia.
Mas como o tema hoje é sobre ‘radicalidade’ ou esportes radicais, e como já dito acima, não há como comparar qual o mais difícil, perigoso, inacreditável, assustador, enfim, o mais radical dos esportes ou simples ações radicais de determinados indivíduos, fica aqui novamente a escolha de cada um, pois como comparar o salto de paraquedas da estratosfera do Austríaco com as travessias da regata inter-mares mais perigosa do mundo, ou com a travessia do Atlântico a remo, em 1984 por Amyr Klink?
Talvez…, quem sabe…, pode ser…, que possamos dizer que o salto SEM paraquedas do SABIÁ, nosso famoso paraquedista e ‘base-jumper’ seria o mais radical ato de um ‘super-humano’, pois não consigo conceber um ‘simples mortal’ pensar em um ato desse, ‘ensaiar’ em terra o seu resgate no ar por outro paraquedista que saltaria junto com ele, e por fim, por em prática e saltar sem paraquedas! Não há chances para erro, tem que ser agarrado em pleno ar e cair junto com o outro paraquedista!
Será que para o Sabiá o salto de paraquedas ficou tão monótono que ele resolveu aproveitar ao máximo o ‘prazer da queda livre’? Ou simplesmente um ato inconseqüente? Não julgo nem dou palpites, mas observo essas atitudes, pasmo e incrédulo ao mesmo tempo, e por isso me enquadro na categoria dos ‘simples mortais’, pois quando isso apareceu na mídia há alguns anos, somente fui assistir o vídeo quando tive certeza de que não tinha ocorrido uma tragédia! Coisa de louco isso, já diria meu Pai!
Veja o salto do Sabiá no Youtube logo abaixo:
E ainda, talvez…, quem sabe…, pode ser…, que possamos dizer que o salto SEM paraquedas do SABIÁ só perde para o outro paraquedista que também saltou SEM PARAQUEDAS, mas NÃO foi ‘agarrado’ na queda livre por outro paraquedista, pois esse ‘pousou’ e saiu caminhando normalmente!
Sim, isso aconteceu em 2016 com o americano Luke Aikins que se tornou a primeira (e talvez a última) pessoa a saltar de uma altura de 25.000 pés (7.620 metros) SEM PARAQUEDAS, após atirar-se de um helicóptero na Califórnia, nos Estados Unidos.
Aikins, de 42 anos, atingiu em seu salto, que durou dois minutos, uma velocidade de 193 km/h e caiu em uma enorme rede de segurança instalada a vários metros de altura sobre o solo em Simi Valley, onde sua família o esperava, como se fosse um trapezista caindo na rede após a sua apresentação.
“Estou quase levitando, é incrível”, disse depois do salto à rede de televisão local Fox, que o transmitiu ao vivo. O ‘cara’ saltou sem paraquedas para cair em cima de uma rede armada no deserto, acertou a rede, levantou e disse: “estou quase levitando”! Como conseguir entender essas ações e reações como ‘simples mortais’ que somos? Veja a matéria e o vídeo do salto na rede nos links abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=BGsJB1p8ODQ
Agora eu pergunto: Como que um homem faz isso? Saltar de mais de 7.000 metros de altura, SEM PARAQUEDAS e ‘mirar’ uma rede armada no deserto? Não há como treinar nada disso! É realmente o extremo do radicalismo em saltos de paraquedas, e o premio, é apostar que ninguém, jamais, se atreverá a fazer isso de novo, nem ele mesmo!
Como disse, cabe ao imaginário de cada um fazer a sua ‘viagem’ em algumas das modalidades aqui trazidas, e para amenizar um pouco a ‘radicalidade’ das fotos acima, mostro alguns locais aprazíveis nos Alpes Italianos ou em Shangai na China, nos quais talvez eu me atrevesse ‘a descansar’ um pouco sentindo a brisa das montanhas, pois nada ‘mais seguro’ que um bom descanso em uma rede, portanto, ‘imaginem’ também em qual dos locais das fotos abaixo gostariam de descansar em uma confortável rede!
Bom descanso!
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