Por: Mario Araujo
Cerca de trinta anos passados, quando a violência no Rio de Janeiro começava a preocupar as autoridades locais, o Jornal “ O Globo “ publicou uma enquete na qual pedia a seus leitores sugestões para combatê-la. Como era de se esperar a enquete não deu em nada e o que se divisava tornou-se uma realidade. Em qualquer fenômeno, seja ele social, científico ou de qualquer outra natureza para podermos analisá-lo precisamos antes de tudo definí-lo. Com a violência não é diferente.
No dicionário da língua portuguesa -Novo Aurélio – Século XXI da Editora Nova Fronteira – o vocábulo VIOLÊNCIA aparece assim definido: Violência ( do lat. violentia. ) s.f. – 1. qualidade de violento 2. Ato violento 3. Ato de violentar 4. Jur. Constrangimento físico ou moral: uso da força, coação. No entendimento de uma boa parte da população brasileira a violência restringe-se apenas ao: assalto à pessoas, residências, bancos e estabelecimentos comerciais, assassinatos, latrocínios, estupros, roubos etc.
Foto: Crédito Wikipédia.
Na verdade a violência é muito mais abragentes, e se enquadra no definição 4 do dicionário – constrangimento físico ou moral. Se aceitarmos essa definição como válida poderemos dizer que o cidadão brasileiro é em geral praticante da violência, e por consequênciaviolento: o que vai contra a crença de que o povo brasileiro é por natureza pacífico. Por toda parte, independentemente da classe social, cultural ou econonômica a violência é praticada, e até mesmo tolerada. Quando, por exemplo, um motorista estaciona na calçada ele está violentando o direito do pedestre, ou do idoso, ou da mãe empurrando o carrinho do seu bebê, obrigando-os a passar pela rua expondo-os assim ao risco de serem atropelados. O indivíduo que viaja molhado no transporte coletivo, após ter vindo da praia, também pratica um ato de violência para o próximo ocupante do seu lugar.
O passageiro nos transportes coletivos que, sem limitação física, ocupa o lugar destinado aos idosos ou gestantes também pratica um ato violento, como se pode notar a violência está em toda parte e é praticada com muita naturalidade fazendo até parte do modo de ser da população.
As municipalidades são também violentas. Aprovam o uso de catracas nos transportes urbanos causando constrangimento aos mais gordos, violam os direitos dos cadeirantes não construindo rampas nas calçadas ou plataformas para embarque nos tranportes coletivos e assim por diante.
O Estado também é violento quando não dá prioridade de recursos para as necessidades da população. O saneamento básico é negligenciado, o tratamento e o abastecimento de água inexistente.
Enfim é a violência, que sem que a percebamos. há muito se implantou no Brasil. Infelizmente os mais atingidos por esse tipo de violência são os indivíduos das camadas mais baixas da sociedade. No passado a inexistência de uma classe média razoável levava os mais previlegiados a ver os demais com absoluto desdenho considerando-os como descartáveis.
A mudança do perfil da sociedade não alterou esse tipo de percepção. Outro fator que vem contribuindo para o aumento da violência é o relaxamento dos costumes e dos padrões éticos e morais na sociedade brasileira. A moral e da ética constitute uma linha muito tênue e há muito a sociedade brasileira vem movendo-a a níveis cada vez mais baixo.
Foto crédito: Agência Brasil
Os padrões que no passado eram ditados por indivíduos com maior maturidade passaram a ser ditados pelos jovens, muitas vezes imaturos. O pior é que os adultos ao invés de repudiá-los passaram a adotá-los achando tudo uma banalidade. O resultado é uma sociedade que não se respeita. O aluno não respeita o professor, o homem não respeita a mulher, o marido não respeita a esposa, e vice-versa, o cidadão não respeita a sociedade nem as leis, enfim o desrespeito generalizou-se e com isso a violência cresceu, e está se tornando incontrolável. Para o cidadão brasileiro passou a ser mais importante O TER do que O SER.
Violência, geral, total e incontrolável
Mata-se hoje com a maior desfaçatez. Não mais existe a crise de consciência. A sociedade tornou-se insensível. Só resta, aos que ainda se pactuam pelos reais valores de uma sociedade justa e honesta a esperança de que um dia essa mesma sociedade acorde e passe a valorizar o que realmente deve ser valorizado.
Nota – o presente trabalho retrata apenas a opinião do autor que ao longo da sua longa existência viveu, com profundo pesar, a degradação da sociedade brasileira.
POR: Mario Campos de Araujo