CULTURA – AFROFIT PROJETO E A SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA.

0
1609

Por  Doutoranda Luciana Dornelles Ramos.

O movimento que deu origem a tudo isso se iniciou em 2019, quando um grupo de pessoas negras criou o movimento “Café Preto”, momento onde saíamos da virtualidade para nos vermos presencialmente, compartilhando reflexões, leituras, debates, mas também e não menos importante, o lazer.

“Wakanda é aqui” era o nome do grupo de whatssap de onde organizávamos esses movimentos, e logo começamos a ficar mais próximos, mais amigos, estando juntos em festas, parques, bares e churrascos. Deste mesmo grupo surgiu o questionamento, “que atenção estamos dando para a nossa saúde?” e a partir deste debate, eu, Luciana Dornelles Ramos e meu amigo e colega de profissão Kauê Kamaú, fomos provocados a pensar o Afrofit Projeto. Optamos por realizar uma aula teste, no Parque da Redenção, e depois desta aula, nunca mais paramos.

Logo, nosso caminho se cruzou com outro integrante do projeto, Gelson Luis Vidarte Junior, estudante de Educação Física, que estava sempre por perto nos treinos, nos auxiliando sempre que necessário, e, em diálogo com Kauê entendemos que convidar o Gelson para participar oficialmente do projeto, seria uma maneira de oferecermos para ele uma formação em sua construção profissional diferente da que havíamos vivido como estagiários quando estudantes, e nesta parceria, estamos os três unidos até hoje, crescendo e aprendendo juntos como pessoas e como profissionais.

Percebemos que grande maioria dos alunos e alunas que chegavam até o nosso projeto relatavam um desconforto muito grande nos ambientes de academia, e diziam encontrarem no Afrofit um espaço de aquilombamento, cuidado e acolhimento, diferente de suas experiências em outros espaços promotores de saúde. Entendemos o Afrofit então, como um projeto voltado para a saúde da população negra, pois em uma sociedade que historicamente maltrata corpos Pretos, cuidar de corpos negros é revolução.

Nem sempre foi fácil, enfrentamos muitas dificuldades para manter o projeto vivo, desde estrutura-lo, pensar os valores, não deixando de pensar as vulnerabilidades do público alvo do projeto, mas a pandemia com certeza foi nosso maior desafio. Cancelamos as aulas presenciais em função do isolamento social necessário naquele momento, mas sentimos a necessidade de estarmos juntos e nos reinventar a partir das aulas online, que acabaram sendo fundamentais para a manutenção da nossa saúde física e mental em um período tão difícil.

A questão financeira também é um grande desafio, somos 3 professores e fazemos o máximo para manter um valor acessível, pois encontramos no projeto uma maneira de retornar aos nossos, a oportunidade que tivemos de estudar em uma instituição pública, gratuita e de qualidade (UFRGS).

Existe uma narrativa de que no Rio Grande do Sul não tem negros, mas como dizem os Poetas Vivos na música Toma rajada, “Tem Preto no Sul”. O que acontece é que existe uma cultura higienista aqui que “empurra” nossos corpos para as periferias da cidade. Quando acessamos outros espaços, o racismo e os racistas nos dizem a todo o momento e de diversas maneiras que não somos bem vindos. O Afrofit é uma maneira de romper com essa barreira e criar nosso próprio espaço de cuidado, acolhimento e Amor Preto. Temos na cidade o Parque da Redenção, que foi um grande Quilombo e território de resistência negra em Porto Alegre.

Como o racismo muitas vezes se materializa em forma de apagamento de nossa história (não atoa o nome do parque foi alterado para Parque Farroupilha), buscamos retomar essa autonomia da população negra, ocupando o Parque da Redenção para nossas aulas, como já fizeram nossos ancestrais. Juntos, fortalecendo uns aos outros, podemos também valorizar nossas potências para que possamos criar mais espaços nossos, mas também para que ocupemos cada vez mais espaços, juntos, e não de maneira solitária como geralmente acontece.

As aulas do Afrofit são abertas por uma leitura inicial e reflexão sobre alguma literatura negra, afinal a filosofia africana nos ensina que não devemos separar corpo e mente, e embaladas por músicas de artistas negros, iniciamos nossos exercícios que envolvem Ginástica com o peso do corpo e treinamento funcional. Mesmo que seja uma aula em grupo, por sermos três profissionais conseguimos atender as especificidades de cada aluna, adequando de maneira cuidadosa os exercícios para que nossa aula não se torne excludente, para que o Afrofit seja para elas um ambiente de acolhimento e cuidado.

Sonhamos um dia ter um espaço voltado para a saúde da população negra, um espaço para diversas modalidades de ginástica e dança, assim como para profissionais da psicologia, nutrição, fisioterapia e outras áreas da saúde. Um espaço nosso para o cuidado dos nossos. Quem sabe, afinal “nós somos o sonho dos nossos ancestrais”.

***

Por Doutoranda Luciana Dornelles Ramos.

Artigo anteriorPROJETO GELEITURA – VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? VOCÊ TEM SEDE DE QUE?
Próximo artigoCrônica – Reitores Negros das Universidades no Brasil – Extraordinários e Preciosos Diamantes Negros.
BIOGRAFIA ****** Sérgio Lima, ex-jogador profissional de futebol, natural de Campos dos Goytacazes, começou sua carreira no Americano onde jogou em todas as categorias e foi campeão Estadual no ano de 1969. Em 1970, transferiu-se para o juvenil do América do Rio, tornando-se artilheiro da Taça Guanabara de 1973 e vice-artilheiro brasileiro Carioca de 1973. Em 1974, sua história foi ilustrada luxuosamente com o Internacional de Porto Alegre, Hexa Campeão Gaúcho invicto. Em 1975, formou um excelente time do Guarani de Campinas, com grandes jogadores, Ziza, Amaral,Renato, Miranda, Davi, Alexandre Bueno, Edinaldo, Erb Rocha, Sergio Gomes, Hamilton, Rocha. que foi base do Campeão em 1978. Em 1976, transferiu-se para o futebol mexicano onde ficou por 8 anos: Club Jalísco, e Atlas Fútbol Club ambos da cidade de Guadalajara, Morélia da cidade de Morélia, Michoacan e Union de Curtidores da cidade de Leon, Guanajuato. Em 1984, retornou ao Brasil para o Botafogo do Rio. ****** Em 1985 foi contratado pelo Cabofriense, da cidade de Cabo Frio,estado do Rio, onde encerrou sua carreira. Presente em Guadalajara na Copa do Mundo 1986 no México, trabalhou como comentarista esportivo na rádio local chamada "Canal 58" de Guadalajara. Após a copa do Mundo de 1986, começou sua trajetória de 30 anos, nos Estados Unidos da América,, onde foi convidado pela Universidade de Houston Texas, através do seu responsável o excelentíssimo Professor Franco para participar como instrutor do “Cugar Soccer Summer Camp” durante duas semanas. Na sequência, depois de várias participações, em diferentes Soccer Camps no Texas, fundou, oficializou e legalizou a Brazilian Soccer Academy com o apoio espetacular do grande amigo Skip Belt. Com experiência de muitos anos dentro do campo, passou conhecimento e os fundamentos básicos do futebol do Brasil para um número incontável de jovens americanos. ****** Convidado pelo consulado Mexicano, idealizou e apresentou o projeto Houston Soccer After School Program para City of Houston Park and Recreation em 1994, para benefício de crianças e jovens entre 6 a 17 anos. Isso ocorreu na área metropolitana da cidade, onde concentrava a grande maioria de crianças e jovens negros e mexicanos, na época estavam com extremo e grande problema social que os envolvia com drogas e as abomináveis gangues. Desafio aceito, e o programa foi desenhado, aproveitando a infraestrutura dos Parks da cidade. O passo a passo foi dividido em três fases básicas: 1 - Criou-se liga em cada Park, onde havia jogos entre eles. 2 – Todos os meses havia Torneios entre todos os Parks. 3 - Criou-se seleções para jogarem contra jovens das outros áreas, e diferentes estados, sempre cuidando com os mínimos detalhes dos dispositivos e ensinamentos básicos do respeitado futebol do Brasil, para atrair e motivar a todos. O requisito principal era estar e manter boas notas e presença na escola, para desfrutar dos benefícios, recebendo gratuitamente todos os materiais de primeira linha doados por um conhecido patrocinador. Finalmente, aos 17 anos tinham a oportunidade de receber uma bolsa de estudos para ingressar em uma universidade americana. Foi apresentado e aprovado e Sérgio se transformou em funcionário público da cidade de Houston por 17 anos, até a sua aposentadoria. Muitíssimos jovens foram beneficiados pelo programa mudando radicalmente suas vidas, as drogas e gangues desapareceram. Sérgio fez o curso de treinador da Federação Americana de Futebol, recebendo a "Licença National B' e assumiu como Coach principal da South Texas Soccer Select Team Open Age From 1994 to 1996, tornando-se o primeiro treinador brasileiro e negro "Afrodescendente" a dirigir a Seleção do Sul do Estado do Texas. ****** No ano de 1992, Fundou o Jornal Vida Brasil Texas, tornou-se editor, onde ficou por 28 anos, sendo 24 anos impressos e os últimos 4 anos digital em português. Fundou em 2004, a Revista Brazilian Texas Magazine, é seu Editor . A revista até 2015 foi impressa, em 2016, passou a publicação digital em inglês. ****** 1 - Compositor, teve participação do CD Brasil Forever 1997 da Banda brasileira no criada no Texas em 1993 com finalidade de promover a cultura do Brasil. Banda “Atravessados de Houston” – Texas, com tiragem de 10 mil CDs. Sérgio Lima teve a participação com 10 músicas 8 autorais e mais duas com parcerias. 2 - Compositor da música “I Love Rio”, escrita e inglês em homenagem ao Rio de Janeiro, com a luxuosa interpretação da excelente Elicia Oliveira em ingrês (Está disponível no YouTube). https://www.youtube.com/watch?v=l39hfwOkyYU&t=18s ****** Representou a comunidade brasileira do Texas na I Conferência “Brasileiros no Mundo”, realizada em maio de 2008, com uma extrema característica acadêmica. ****** A II Conferência “Brasileiros no Mundo”, realizada em outubro 2009, se desenvolveu com uma acentuada conotação política, tornando, em certos momentos, o diálogo tenso, desconfortável e, até certo ponto, cansativo, devido à falta de elasticidade de algumas lideranças, acostumadas, creio, a pontuar e determinar o rumo das conversas e decisões, em suas áreas ou comunidades no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, de iniciativa da Fundação Alexandre de Gusmão – FUNAG, órgão ligado ao Ministério das Relações Exteriores – MRE. ****** Sérgio criou o espaço Brasil especial na Biblioteca central da cidade de Houston e conseguiu doações de livros de algumas instituições das comunidades brasileiras de outros estados americanos para compor o espaço. Recebeu o Prêmio Brazilian International Press Ward, por 3 vezes, em reconhecimento pelos trabalhos como editor do Jornal Vida Brasil Texas em português, e revista Brazilian Texas Magazine em inglês – 2011. ****** ORIGINAL ARTICLE “AFRO DECENDENTES NA MÍDIA BRASILEIRA”. You are a winner for the 15th Annual Brazilian International PRESS AWARDS. Your outstanding performance and contribution for the Brazilian Culture was recognized by the Media and Cultural Leaders of the Brazilian Community in the United States. Join us for the 15th celebration of the Brazilian Cultural presence in the U.S. The Award Ceremony will be held at the Cinema Paradiso • Fort Lauderdale May 3rd 2012.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui