Grupo Abba na década de 70
Por: Osvaldo Tetaze Maia
Quando na minha aula inaugural da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Paraná, em 1973, onde cursava Jornalismo, lembro que o professor de Comunicação Social iniciou sua aula dizendo que “dentro de pouco tempo, antes do final do século XX, nós poderemos saber e ver o que se passa no outro lado do mundo na mesma hora em que os fatos estivessem ocorrendo por lá”, e que o mundo seria tal qual uma pequena aldeia, onde todos se comunicariam ao vivo, não importando onde estivesse, uma “minúscula Aldeia Global’!
Isso soou como um filme de ficção científica para todos na classe, pois como imaginar em 1973 que um dia seria possível falar e ver ao vivo imagens de qualquer parte do mundo, pois tudo o que se sabia naquela época sobre ‘tecnologia’ eram as histórias de ficção do épico filme “2001, uma Odisséia no Espaço” e os desenhos dos “Jetsons” na TV!
Continuou o nosso Professor, ensinando que “Aldeia Global” é um termo criado pelo filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan, cujo livro foi indicado para estudo no primeiro ano da faculdade.
Marshall McLuhan dizia que as novas tecnologias eletrônicas que viriam fariam ‘encurtar’ distâncias e que o progresso tecnológico iria reduzir todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia: um mundo em que todos estariam, de certa forma, interligados. Isso nas décadas de 50 e 60!
McLuhan foi o primeiro filósofo a tratar das transformações sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador e das telecomunicações e também anteviu a ‘Internet’, isso nas décadas de 50 e 60, repito!
Herbert Marshall McLuhan, nasceu em Edmonton, Canadá, em 21 de julho de 1911 e faleceu em Toronto no Canadá em 31 de dezembro de 1980, e ficou mais conhecido por vislumbrar a Internet quase trinta anos antes de ser inventada, além de ter sido um pioneiro dos estudos das transformações sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador e das telecomunicações, isso nas décadas de 50 e 60, repito! Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Aldeia_Global
Marshall McLuhan
Para os ‘incrédulos’ como eu da década de 70, hoje nos maravilhamos com a comunicação atual, onde num simples ‘click’ temos acesso e conhecimento de fatos, ao vivo e de qualquer parte do mundo, ou a acontecimentos que nunca imaginamos que pudessem ter ocorrido. Lamentavelmente McLuhan não viveu o suficiente para ver a sua concepção de ‘Aldeia Global’.
No mundo sempre existiram pessoas que de alguma forma se destacaram, seja para o bem ou para o mal, assim como existiram e existem também muitos visionários e muitos predestinados que comumente dizemos, “com uma missão a cumprir na vida”! McLuhan certamente foi um visionário!
Mas e o Grupo ABBA que tanto encantou a minha geração se eternizando através de suas músicas, o que tem a ver com a ‘teoria da Aldeia Global’ e as “Crianças de Lebensborn”?
Para chegar a essa resposta, primeiro preciso expor meu entendimento sobre um dos temas que mais me tocam, e creio que para muitos de minha geração também, que é a Segunda Guerra Mundial e suas atrocidades, histórias e fatos que hoje estão acessíveis a todos com um simples ‘click’ ou como já se diz, ‘googleando’ para encontrar as respostas.
O fato é que sempre aparece alguma coisa nova ou pouco difundida da segunda guerra mundial, e o ‘conto’ de hoje é um desses casos, que por inúmeras razões tornam-se conhecidos somente no meio de onde surge a notícia ou por poucos estudiosos e interessados no assunto, e eu, como ávido interessado por essas notícias da ‘WW II’ (Segunda Guerra Mundial), vou atrás de qualquer notícia ou fato desconhecido ou pouco difundido sobre aquela época quando escuto algo diferente, e, como já disse em outra crônica sobre o tema (A impressionante história de Hessy Levinsons…), foi o período mais triste e desumano da história moderna.
Como é sabido hoje, o holocausto dos campos de concentração é apenas uma das atrocidades cometidas pelo regime nazista naquela época, pois muitas outras hoje são conhecidas e que se mantiveram presentes muito tempo após o fim da Segunda Guerra, e algumas (atrocidades) até hoje se mantém presente em alguns grupos de pessoas, que sofreram e ainda sofrem com seus efeitos, e daí vem a ligação com o grupo ABBA.
Já tive a curiosidade e a oportunidade de visitar o Campo de Concentração de Dachau, linda cidade a apenas 15 km de Munique na Alemanha, e lá passei uma tarde inteira percorrendo todo o campo, entrando nos galpões em que dormiam mais de mil pessoas onde cabiam no máximo trezentas, entrei em uma das Câmaras de Gás que ainda permanecem justamente para que o mundo saiba como foi aquele período, entrei nos crematórios que funcionavam 24 horas por dia sem dar conta de cremar tanta gente, enfim, vi in loco o local onde existiu o “inferno na terra” como dizem ainda os sobreviventes desses campos, e talvez isso tenha feito com que eu ficasse sempre interessado pela Alemanha, hoje o país economicamente mais rico da Europa com uma administração que deveria servir de exemplo para todos os países.
De tão estarrecido e horrorizado que fiquei, lembro de ter tirado não mais do que cinco ou seis de fotos do campo de Dachau, pois a sensação de estar no ambiente onde foram cometidas as maiores atrocidades do século XX dá arrepios até hoje, e saí do campo de concentração de Dachau chorando copiosamente, assim como muitos visitantes que vi naquele dia.
Nas paredes, escrito em alemão ‘CHUVEIROS’ (ou Duchas), onde na realidade eram as Câmaras de Gás
Fornos Crematórios
Entrada do Campo de Concentração de Dachau
Cidade de Dachau
Diferentemente do que o visionário McLuhan previa como ‘Aldeia Global’, cerca de três décadas antes, em 1935, no auge da ascensão de Hitler na Alemanha, foi criado o “Programa Lebensbor”, uma das maiores atrocidades levada a cabo pelo regime nazista, coordenado por Himmler, um dos mais sanguinários e cruéis comandantes de Hitler, programa que até hoje ainda tem seqüelas vivas e foi tão cruel quanto os campos de concentração.
Devido ao declínio da população desde o início do século XX, ficando ainda mais acentuado após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra mundial, o país tinha uma das menores taxas de crescimento da Europa na década de 30, e isso era um problema para Hitler quando assumiu o poder em 1933, pois a diminuição da população alemã poderia afetar seus planos de ‘globalização’ da raça ariana.
Então, em 1935, foi lançado o “Lebensborn Program”, em tradução livre, “A Fonte da Vida”, que na visão sociopata de Hitler, esse programa poderia ser a primeira transformação global, onde, senão a totalidade, pelo menos a maioria da população mundial em um século seria formada pela ‘raça ariana pura’, começando pela Alemanha e pelos países que seriam dominados, os quais ele pretendia ‘limpar’ nos primeiros dez anos de seu regime!
Uma das ‘Lebenborn Home’ na Alemanha
Crianças na ‘Lebenborn Home’
O “Lebensborn Program”, propagava que o regime nazista iria incentivar aquelas mulheres que pudessem provar sua origem ‘pura’ e que seus filhos frutos de alemães ‘puros’ nasceriam com todos os ‘padrões da raça ariana pura’, e com isso teriam auxílio do governo e seus filhos nasceriam em uma Casa “Lebensborn”, implantadas na Alemanha para essa finalidade e com as maiores comodidades de uma maternidade da época.
Mas havia uma ‘pegadinha’: Assim que os bebês nasciam eles eram ‘liberados’ para a “SS”, a famigerada unidade da polícia militar do regime nazista, a qual iria educá-los e doutriná-los dentro da ideologia nazista e posteriormente seriam adotados por a alguma família alemã indicada pela SS.
Foram criadas inicialmente na Alemanha 10 “Lebensborn Homes”, sendo a primeira aberta em 1936 numa localidade chamada Steinhoering, perto de Munique, mas com o início da Segunda Guerra em 1939 e a ascensão nazista na Europa, as “Lebensborn Homes” espalharam-se nos países de dominação alemão, e aí, este que considero um dos mais hediondos crimes contra a humanidade, o ‘roubo’ de crianças, perpetuou-se até 1945 após a derrota da Alemanha, caindo por terra a teoria da ‘globalização da raça ariana do regime nazista’, deixando até hoje seqüelas em centenas de milhares de pessoas em todo o mundo.
“Lebensborn Home” na Alemanha
No início foram criadas nos países invadidos, 9 “Lebensborn Home” na Noruega, 2 na Áustria, e na Bélgica, Holanda e França, Luxemburgo e Dinamarca foi 1 em cada país, e no auge da guerra havia mais de 50 “Lebensborn Homes” espalhadas na Europa, todas fina e confortavelmente mobiliadas com mobiliário das casas das famílias judias que foram seqüestradas pelo estado alemão. Nessas casas, as mulheres ‘com raça pura’ aprovadas pelo regime, eram alojadas e preparadas para receberem soldados alemães para procriarem, e após o nascimento, poucos dias depois os bebês eram levados para a Alemanha pela SS para serem ‘adotados’ por alguma família alemã.
No começo, Himmler estimulava seus soldados a terem filhos com suas esposas, depois com mulheres ‘arianas’ fora do casamento, mas à medida que a guerra progredia e a Alemanha tomava mais países isso passou a ser uma ordem, e a partir de determinado momento da guerra, a ordem veio para que todos os seus soldados solteiros se casassem, e nos países nórdicos ocupados, Finlândia, Suécia Dinamarca e Noruega, as mulheres locais eram ‘encorajadas’ a ter crianças com soldados alemães, pois poderiam ter uma maior ‘ração’ de alimentos e mais vantagens e comodidades durante o período de guerra, e os soldados (e oficiais) poderiam (deveriam) fazer quantos filhos fossem possíveis com as mulheres daqueles países, certificadamente e reconhecidamente como de ‘raça pura’, segundo os nazistas.
Crianças nascidas nas “Lebensborn Homes
Bebês nascidos nas “Lebensborn Homes”
Em relação aos países invadidos do leste europeu, o regime também expandiu as suas “Lebensborn Homes”, e naqueles países (Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Áustria, etc…) o ‘programa’ incluía o seqüestro de crianças de famílias consideradas de ‘raça pura’, as quais eram retiradas de seus pais e temporariamente enviadas para alguma casa “Lebensborn”, e após a confirmação de sua ‘raça pura’ eram levados para a Alemanha para serem ‘adotados’ por famílias alemãs. Somente na Polônia, estima-se que cerca de 200 mil crianças foram seqüestradas de suas famílias, e aqueles que não passavam no ‘teste de raça pura’, simplesmente eram enviados aos campos de concentração ou sumariamente executadas.
Ainda não está claro quantas crianças nasceram nas “Lebensborn Homes”, mas estima-se em cerca de 20 mil, e até hoje, muitas dessas crianças com mais de 65 anos atualmente, ainda tentam encontrar seus pais. Muitos podem ter vários ‘meio-irmãos’ pois cada soldado alemão poderia ‘espalhar sua semente’ em quantas mulheres quisesses, segundo o comando do regime nazista nos países invadidos, o que, em teoria, é possível imaginar que alguma dessas crianças pudesse se relacionar com um meio-irmão no futuro.
As crianças que não foram ‘doadas’ a alguma família alemã, pois a guerra havia terminado com a derrota da Alemanha, ficaram em seus países com suas Mães sendo totalmente discriminadas em razão de terem sido geradas por um pai alemão.
Entretanto, o que está claro, é o trauma sofrido por essas crianças que nasceram devido a esse famigerado programa de tentativa de ‘globalização e purificação da raça ariana’, pois cresceram banidos da sociedade, dentro e fora da Alemanha. Naquele tempo, logo após a guerra, mães solteiras eram vistas como ‘desajustadas’, e nos países que foram ocupados, aquelas que tiveram relação com soldados alemães, eram considerados traidoras e seus filhos ‘bastardos’!
E aí chegamos a resposta da nossa questão acima: Mas e o Grupo ABBA que tanto encantou a minha geração se eternizando através de suas músicas, o que tem a ver com a ‘teoria da Aldeia Global’ e as “Crianças de Lebensborn”?
ABBA na década de 70
A resposta está no fato de que uma das cantoras, Anni-Frid Lyngstad também é uma das crianças do “Programa Libensborn”, que nasceu em 1945 na Noruega após sua Mãe ter se relacionado com um sargento Alemão, conforme ‘ordens’ do governo nazista, e embora ela tenha ficado com o sobrenome de sua Mãe, Anni-Frid ficou ‘taxada’ de ‘Tyskerbarnas’, ou ‘Criança Alemã’, ou ainda pior, uma ‘bastarda’, e sua Mãe era considerada uma das ‘desajustadas’ após o fim da guerra.
Anni-Frid Lyngstad, ontem e hoje
Após o fim da guerra, a sua família (sua Mãe e sua Avó) mudou-se para a Suécia onde Anni-Frid Lyngstad cresceu sozinha e isolada, pois sua Mãe e sua Avó foram taxadas de traidoras e sua história é igual a de milhares de pessoas que hoje estão na faixa dos 65 anos, entretanto, logo após mudarem-se para a Suécia, pouco antes de morrer de doença nos rins, sua Mãe revelou que se relacionou com um sargento da SS chamado Alfred Haase.
Anni-Frid foi criada por sua Avó, mas as cicatrizes que o regime nazista deixou estão longe de serem fechadas para ela e para milhares de pessoas, e muitas nunca conseguirão cicatrizar totalmente suas feridas. Este cruel e fanático “Programa Lebensborn” é somente mais uma das atrocidades cometidas na segunda guerra, com a criminosa utopia de um dia ‘globalizar’ o mundo com uma raça pura!
Foram criados ainda durante o regime nazista, ‘programas de esterilização’ feminina naquelas que tinham alguma doença hereditária (homens eram sumariamente assassinados), ‘programas de eutanásia’, até que com a eclosão da guerra em 1939, na década de 40 começaram com os ‘programas de extermínio em massa’, os chamados ‘campos de concentração’, nos quais os ‘prisioneiros’ eram conduzidos com a promessa de trabalho, e quando chegavam podiam ler na entrada em cima de cada portão: “Arbeit Macht Frei” – O Trabalho Liberta!
Entrada de um Campo de Concentração na Segunda Guerra
Esse período é chocante sim, difícil de ler (e de escrever, creiam), imaginem então para as cerca de 20.000 crianças que foram geradas por soldados alemães nos países nórdicos e criadas naquelas ‘instituições’, e imaginem ainda, para as mais de 200.000 crianças que foram seqüestradas da Polônia onde somente cerca de 40.000 retornaram após a guerra para reencontrar seus pais verdadeiros, pois mais de 150.000 crianças permaneceram com os ‘pais adotivos’ na Alemanha sabendo hoje que foram seqüestrados e sem chance alguma de saber, após mais de 60 anos, quem são ou eram seus pais naturais e suas famílias?
No caso da ‘nossa cantora’ do ABBA, a história não foi diferente, e a vida dela e das demais crianças que tiveram a mesma origem foi ainda mais dura, onde muitas não atingiram sequer a maioridade. Seu Pai, o sargento alemão da SS, Alfred Haase, conheceu a Mãe de Frida em 1943 na Noruega, e antes de Anni nascer, com o fim da dominação alemã em 1945, as tropas alemãs foram levadas de volta à Alemanha, o que permitiu a ela e outras crianças a pelo menos ficarem com suas Mães verdadeiras, pois não deu tempo do regime nazista levar essas crianças.
O pai de Anni-Frid permaneceu na Alemanha até sua morte em 2009, com 89 anos, ela encontrou-o em 1977 pela primeira vez somente após ter ficado famosa com o Grupo ABBA, e depois nunca mais teve contato com ele, fato que levou mundo a conhecer o tal ‘Programa Lebensbor’ e a idéia de ‘Aldeia Global’ do regime nazista.
Hoje está criada uma comissão de mais de 12.000 pessoas, filhos do famigerado ‘Programa Lebensbor’, os quais cobram do Governo Alemão respostas e indenizações sobre suas origens e o paradeiro de suas famílias, pois o regime nazista tratou de destruir qualquer indicação ou registro das crianças seqüestradas.
Cidadãos que foram seqüestrados e criados em “Lebensborn”: com a sua foto ainda bebê nos braços de uma enfermeira e outro com a foto de seu pai Alemão
Um bom filme de produção Tcheca lançado no ano de 2.000 pode ser assistido hoje no ‘Youtube’ – “Springs of Life” (com legendas em inglês). https://www.youtube.com/watch?v=E4VcyJ_3Rjw&sns=em
https://www.youtube.com/watch?v=vdDDOFXPEqM, assim como vários documentários com algumas das pessoas que nasceram ou foram criadas nas “Lebensborn Homes”. https://www.youtube.com/watch?v=UwBNXRfFAgo
https://www.bbc.co.uk/programmes/b00n47rz
https://www.youtube.com/watch?v=E4VcyJ_3Rjw&sns=em
www.youtube.com
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Cartaz do filme “Springs of Life”
https://www.youtube.com/watch?v=vdDDOFXPEqM
Os fatos que narro, históricos ou por mim presenciados, podem dar margens a interpretações diversas, mas não dou opinião nem interfiro no curso da história, por razões óbvias, e se existem realmente pessoas “VISIONÁRIAS, PREDESTINADAS, OU COM ALGUMA MISSÃO A CUMPRIR NA TERRA”, deixo ao critério do leitor para decidir, como sempre faço, fato é que, no caso da “nossa cantora Anni-Frid”, as chances de algum dia vir a tornar-se uma estrela da música mundial naquela época, com todo o ‘calvário’ que passou desde o seu nascimento e que perdurou até sua idade adulta, eram mais remotas que um dia alguém conseguir “falar ao vivo e visualizar outra pessoa” do outro lado do mundo, como previa na mesma época o Filósofo McLuhan do início do texto.
Mas aí poderíamos dizer que entra o tal fenômeno da ‘predestinação’ ou o da ‘missão a cumprir na terra’, que aqui no caso da “nossa cantora Anni-Frid”, pode-se imaginar que além de encantar o mundo com sua arte e ser a mais famosa das crianças “Lebensborn” foi uma ‘predestinada’ a isso, para mostrar ao mundo na década de 70 uma ferida ainda não cicatrizada da segunda guerra mundial, o que fez com que, pelo menos alguns tivessem a oportunidade de ter reencontrado as suas origens e as suas famílias naturais.
Como base dessa ‘teoria’ da predestinação, cito os episódios que antecederam o sucesso da “nossa cantora Anni-Frid”, os quais considero como os fatos que o destino reservou (ou o ‘predestino’) para alavancar sua carreira e a do grupo ABBA.
Anni Frid Lyngstad começou a cantar aos 11 anos no Coral da Cruz Vermelha da Suécia, onde era levada por sua Avó que era voluntária em eventos de caridade, e aos 13 anos foi contratada como vocalista em uma pequena banda da cidade de Torshälla, no norte da Suécia para onde haviam se mudado quando saíram da Noruega, e durante oito anos Anni trabalhou como cantora junto a essa e outras bandas, fazendo apresentações em todo o país.
Cidade de Torshälla, norte da Suécia
Naquela época já havia na Suécia um programa de auditório no formato dos que hoje existem no mundo todo (esse formato foi inventado e criado na Suécia na década de 60), o qual se chamava “EMI Music Sweden New Face”, cuja final daquele ano foi na noite de 03 de Setembro de 1967.
Anni Frid Lyngstad, pouco ou quase nada conhecida até então, pois suas apresentações com as pequenas bandas que cantava eram em locais pequenos, bares, pubs e pequenos eventos, teria a chance da sua vida, assim como os demais concorrentes da final do concurso “EMI Music Sweden New Face” daquele ano.
Anni Frid Lyngstad em 1967
Os fatos que ocorreram naquela noite da final do “EMI Music Sweden New Face”, se é ‘predestinação’ ou não, deixo também para a interpretação dos leitores, pois tem a ver com o sistema de dirigir da Suécia que era igual ao da Inglaterra, e era o único país nórdico que utilizava o sistema inglês de conduzir, e, fazendo fronteira com a Noruega, Finlândia e Dinamarca através de pontes, complicava muito o intercâmbio sócio econômico entre esses países, e a mudança da ‘mão de direção’ era um assunto que há muito já vinha sendo discutido entre o Governo e a população através de discussões e plebiscitos, mas os Suecos nunca queriam mudar a ‘mão da direção’.
Esse problema foi se tornando um grande empecilho para a economia da Suécia, e os constantes acidentes que ocorriam quando um veículo do país vizinho circulava depois das fronteiras, e com o aumento da frota de veículos na região, começou a causar vários acidentes fatais, e aí o governo Sueco, após um último plebiscito criado por algumas entidades, onde 80% dos votantes rejeitaram a idéia de mudar a ‘mão da direção’, emitiu uma ‘nota’ agradecendo a opinião dos eleitores, mas iria mudar o sistema de conduzir de qualquer forma, pois era para o bem de todos.
Foi então criada a “COMISSÃO ESTATAL DO TRÁFEGO PELA DIREITA”, a qual determinou que no dia 03 de Setembro de 1967 seria o ‘DIA H’ – “DAGEN H” em sueco, com o ‘H’ sendo a inicial da palavra “Högertrafikomläggningen” (“O desvio do tráfego para a direita”), onde naquele dia 03 o tráfego na Suécia passou do lado esquerdo para o lado direito das vias. Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Dagen_H
Houve forte resistência dos suecos, mas aos poucos foram cedendo e em poucas semanas já estavam se acostumando, com o governo incentivando e dando vários benefícios para a troca de veículos que ainda tinha a direção do lado direito.
A “COMISSÃO ESTATAL DO TRÁFEGO PELA DIREITA” determinou então que no dia 03 de Setembro de 1967, toda a Suécia deveria ficar em casa com seus carros na garagem, das 12:00 horas da manhã de sábado dia 2, até as 08:00 horas da manhã de segunda-feira dia 04 de Setembro, sendo permitido somente sair para casos extremos de vida ou morte, pois começaria naquele domingo a mudança das placas de sinalização de trânsito, semáforos, paradas de ônibus, pinturas de faixas etc.
Cartaz e logotipo da Campanha da “COMISSÃO ESTATAL DO TRÁFEGO PELA DIREITA”
Primeiro dia da mudança de direção em Estocolmo em 1967
Primeiro dia da mudança de direção em Estocolmo em 1967
Toda essa mudança, com os transtornos que seriam causados para a população, mais precisamente pelo fato de proibir a saída de suas casas para deixar as vias livres para os trabalhos que teriam que ser realizados a curtíssimo prazo, fez com que o Governo Sueco fizesse um acordo com a emissora de televisão que transmitiria a final do “EMI Music Sweden New Face”, no qual “a nossa cantora” Anni Frid Lyngstad iria se apresentar.
Assim, patrocinou a transmissão ao vivo para todo o país e demais países nórdicos, com premiações e distribuição de brindes aos tele espectadores, e com isso, a população sueca inteira, que estava obrigada a ficar em casa, ficou naquele domingo à noite, 03 de Setembro de 1967, “grudada” na televisão, gerando uma das maiores audiências da história da TV sueca até hoje, enquanto o país estava sendo preparado para passar a usar o novo sistema de tráfego, fazendo com que Anni Frid Lyngstad, ao vencer aquela final como a melhor cantora do ano pudesse ser conhecida em toda a Suécia, assim como em todos os países nórdicos, e da ‘noite para o dia’ ela se tornasse uma estrela nacional dessa nossa ‘Aldeia Global’ que estava prestes a se formar, segundo profetizava McLuhan, e pouco tempo depois Anni, por força da ‘mudança de mão de direção’ da Suécia e do sucesso pós 03 de Setembro de 1967, revelou ao mundo sua origem, o que trouxe à tona as histórias secretas das crianças de “Lebensbor”.
Após uma carreira solo de dois anos, ela conheceu em 1969 o tecladista BENNY ANDERSSON que havia tocado com BJÖRN ULVAEUS outra estrela da música sueca dos anos 60. BENNY ANDERSSON e ANNI FRID LYNGSTAD acabaram se apaixonando e se casaram, ao mesmo tempo em que BJÖRN ULVAEUS namorava outra cantora sueca AGNETHA FÄLTSKOG.
ABBA em 1974
Assim, em 1970 os quatro tocaram juntos pela primeira vez fazendo algum sucesso na Suécia, e em 1972 lançaram o Grupo com o nome ABBA, que são as iniciais dos nomes dos quatro, Agnetha, Björn, Benny, Anni-Frid, e a música “Waterloo” estourou nas paradas de sucesso mundial, consagrando-se no ano seguinte com o ‘hit’ ”Dance Queen” e muitos mais durante duas décadas.
Björn e Agnetha casaram-se logo após a formação do grupo em 1972 e Benny e Anni-Frid casaram-se somente em 1978, e após dez anos de carreira e com o declínio nas paradas de sucesso, os dois casais se divorciaram e em 1982 o grupo foi extinto, e agora, após 35 anos sem se apresentarem, anunciaram no mês de Abril deste ano que farão a primeira ‘tournée’ mundial depois da separação, no primeiro semestre de 2019.
Grupo ABBA hoje
Para os saudosistas indico alguns “vídeos clip”:
Dance Queen https://www.youtube.com/watch?v=xFrGuyw1V8s&index=3&list=RDp4QqMKe3rwY
The winner takes it all
https://www.youtube.com/watch?v=iyIOl-s7JTU&list=RDp4QqMKe3rwY&index=5
Fernando https://www.youtube.com/watch?v=sEHdTPnuEnE&index=4&list=RDp4QqMKe3rwY
I have a dream https://www.youtube.com/watch?v=_HMjOiHqE18&index=2&list=RDp4QqMKe3rwY
Acima dois momentos em 1975
Predestinados ou não, visionários ou não, com missão a cumprir algo na terra ou não, devemos agir segundo a frase que copiei outro do dia do Facebook do amigo, Adriano Caldart: “Seja forte para enfrentar todos os obstáculos, seja grato por poder desfrutar dos seus amores, mas seja rápido, pois a vida é efêmera e imprevisível”!
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Por: Osvaldo Tetaze Maia.
A primeira foto não é do grupo ABBA e sim de seus covers, o ABBA the Show.
A foto intitulada como “Abba nos anos 70”
Estimada Senhora, Sanda P. da Silva. Agradecemos sua gentileza em enviar o seu respeitável comentário. Informo que nossa reportagem foi baseada nas informações contidas neste importante, recomendável e respeitável SITE. https://www.consultoriadorock.com/2015/12/13/discografias-comentadas-abba-parte-ii/. Agradecemos sua gentil participação.