Por Osvaldo ‘Tetaze’ Maia
Com esse título, João Saldanha iniciou uma de suas mais fortes crônicas no Jornal do Brasil, ao futebol brasileiro e a seleção de 1982 na Espanha, um dia após a derrota de 3×2 para a Itália no famoso estádio ‘Sarriá’, em Barcelona, tirando das mãos de Zico, Sócrates, Falcão e dos demais astros da ‘melhor seleção daquele mundial, e, segundo muitos dizem, de todos os tempos, o já esperado ‘Tetra’ campeonato mundial.
Crônica no Jornal do Brasil, 6 de julho de 1982
http://www.netvasco.com.br/mauroprais/futbr/copa_82_saldanha.html
Em boa parte da crônica, poderia dizer que concordo com o saudoso João Saldanha, entretanto, como diziam ‘antigamente’, há muito mais coisas entre o céu e a terra, que nem a ‘vã’ filosofia conseguiria explicar! E o mesmo se aplica ao ambiente de uma seleção brasileira de futebol, ainda mais naqueles tempos da primeira grande cobertura mundial de uma Copa do Mundo.
A indignação do João Saldanha era a de todos os brasileiros: como que um time daqueles não conseguiu massacrar a Itália, desacreditada, com três empates na primeira fase e só um gol a favor? Falta de tática, modéstia ou muita teimosia pelo sistema tático aplicado, como ele sugere na sua crônica?
Eu digo que nada disso! Mas quem era eu naquele contexto da Copa da Espanha para fazer tal afirmação agora, e tentar desacreditar João Saldanha? Longe de mim tal ousadia!
Bem, a Copa de 1982 é uma que ficou marcada na história como a que tivemos umas das melhores seleções de futebol, e para ‘contabilizar’ todos os episódios que convivi durante os mais de sessenta dias que passei em Portugal e na Espanha, antes, durante e depois do mundial, sendo três semanas no Hotel ‘Los Lebreros’ em Sevilha, serão necessários vários textos, e por isso me atrevo a comentar algumas passagens em um dos eventos mais marcantes daquele mundial, lamentando sempre que naquela época não tínhamos a facilidade (e a qualidade) das fotos que temos hoje.
Na Espanha de 1982, há pouco tempo depois da derrocada do regime ‘Franquista’, a Espanha era o que se pode dizer, um ‘Oásis’ de alegria, tranqüilidade e belezas para os olhos do mundo que ali estavam para mais um Mundial de Futebol, e para nós brasileiros, era o um sonho indescritível, tanta era a diferença do Brasil daquela época, com a vantagem de que cada folha de ‘travelers cheks’ de US$100,00 dólares americano que se podia levar (mil dólares por pessoa), podia-se comprar uma ‘batelada’ de ‘Pesetas’, a moeda Espanhola da época.
Naquele tempo, viajar à Europa era uma ‘epopéia’ para os comuns mortais como eu, mas armado de uma enorme gana de assistir minha primeira Copa do Mundo, parti sozinho para uma jornada de dois meses, pois parti do Brasil três semanas antes do início do Mundial e fui à Portugal visitar meu amigo Nedo Xavier que jogava no Farense, na cidade de Faro, ao sul do País, e hoje é Técnico de Futebol ‘vitalício’ do Boa Esporte Clube, de Varginha, MG, e de lá, de trem e ônibus cheguei à Sevilha ainda faltando uma semana para o Mundial.
Após estabelecer-me em Sevilha em um ‘Hostal’ ao lado do Estádio ‘Ramón Sanchez Pizjuan’, o Estádio do Clube de Futebol Sevilha, passei a freqüentar diariamente o Hotel “Los Lebreros” do outro lado da Rua, em frente ao Estádio e até hoje um excelente Hotel da cidade, pois alui estavam hospedados vários jornalistas amigos meus de Curitiba, comandados pelo Capitão Hidalgo, e o Hotel foi ainda o segundo ‘QG’ da seleção brasileira, pois ali ficaram alguns familiares dos jogadores (Sandra, esposa do Zico com os dois filhos pequenos, a esposa do Edinho zagueiro, etc.), que quando não estavam treinando ou jogando, ali permaneciam o dia todo, pois o Fagner, que é muito amigo e Compadre do Zico, também estava hospedado no Hotel ‘Los Lebreros’, e por mais uma das ‘circunstâncias da vida’, me tornei amigo do Fagner naquele mundial, uma amizade que permanece até hoje.
Bem, as três semanas em Sevilha, saindo do Hotel “Los Lebreros” somente para assistir os treinos da Seleção brasileira e aos jogos da Copa, foi o período mais ‘charmoso’, digamos assim, de minha estada na Copa da Espanha, país que até hoje adotei como ‘meu segundo país’, dado que tenho vários amigos lá e viajo anualmente para visitar algum pedaço daquelas terras.
Portanto, tendo convivido naquele mundial da Espanha dentro daquele ‘QG’ da seleção brasileira, ademais da amizade que travei com o Fagner que na época estava por lançar seu novo sucesso nacional, o disco ‘Sorriso Novo’ (Pensamento), presenciei várias situações e decisões, e pela primeira vez convivi dentro dos bastidores da seleção brasileira em um mundial.
Foram quase trinta dias de participação do Brasil naquela copa, e eu, três semanas dentro do Hotel ‘Los Lebreros’, pois dali só saia para ver os treinos ou os jogos do Brasil com o Fagner, e para ‘fugir’ da vontade de falar dos bastidores da seleção brasileira, vou contar aqui o que considero o ‘o ponto alto’ daquela permanência em Sevilha, que foi sem dúvida o ‘banquete’ oferecido pela Dijon no dia 19/06/82, um sábado, na piscina do Hotel, famosa marca de roupas na época, tendo a frente Humberto Saad e Luiza Brunet como a ‘Rainha da Seleção’, uma ‘Fiesta Brasileña para la Seleción’ como divulgaram os jornais espanhóis no outro dia.
Ainda espero algum dia que ‘apareçam’ algumas fotos minhas e do Capitão Hidalgo, as quais tiradas com a sua câmera fotográfica, inexplicavelmente ‘o filme queimou’, e até hoje damos risadas com essa situação, pois haviam várias fotos com a ‘Rainha da Seleção’, e tenho que me ‘consolar’ somente com esta foto abaixo que consegui recuperar!
A recepção foi um evento fantástico com a presença de toda a seleção brasileira, com a Luiza Brunet em todo o esplendor de sua beleza em seus vinte anos sendo apresentada durante a tarde na piscina para os jogadores da seleção, e à noite, voltariam para o jantar à beira da piscina, o que foi um sucesso total, com a presença de poucos jornalistas convidados, e dentre os ‘convivas’, este ‘escriba’ e Raimundo Fagner.
em Sevilha-Junho 82
Como sempre digo, as ‘circunstâncias da vida’ me levaram a conviver várias situações com o futebol brasileiro, e a minha amizade também com o Gilberto Tim, o preparador físico da seleção muito antes dele começar a trabalhar lá, ajudaram muito essa participação que tive em três mundiais, e esse evento da Dijon com a Luiza Brunet no Hotel ‘Los Lebreros’, foi sem dúvida, um dos eventos mais fantásticos em que participei em um mundial de futebol!
Seria mais um dia normal no Hotel ‘Los Lebreros’, aonde eu chegava por volta das onze horas da manhã, e se o Fagner não estivesse por ali na piscina ainda, eu o chamava e começávamos a tomar nossos ‘balones de cerveza’, até as cinco horas da tarde, onde então saíamos para ver o treino da seleção a cerca de 20 km do hotel. À tarde na piscina sempre apareciam, o Carlos Alberto Pintinho, ex Fluminense, que na época jogava no Sevilha e lá permanece até hoje como cidadão espanhol, Paulo César Cajú, Gil, o ponta direita, dentre outros jogadores e ex- jogadores, e invariavelmente alguns da própria seleção, que sempre davam ‘um jeito’ de dar uma passadinha no ‘QG’ antes de irem aos treinos ou para a concentração.
Mas naquele sábado, o Fagner já estava com seu violão na piscina, juntamente com o Ruy, um radialista baiano, que pagava um outro radialista mais jovem para ‘gravar entrevistas’ nos treinos e que ele editava no quarto do hotel à noite e mandava para a sua rádio na Bahia, e durante o dia passava conosco na piscina, pois era muito amigo do Fagner também! Cheguei e eles já me disseram que a Luiza Brunet e o Humberto Saad estariam à tarde na piscina e à noite dariam a ‘fiesta’ para a seleção brasileira, mas que o Telê havia liberado os jogadores para irem a tarde conhecer a Luiza e o Saad!
E aí foi quando uma vez mais o ‘destino’ e as ‘circunstâncias da vida’ determinaram mais uma excelente passagem na minha vida, pois o Fagner seria o ‘apresentador’ dos jogadores para a Luiza (que só conhecia o Zico e o Falcão, segundo ela me disse depois), e aí ele me olhou e disse, mais ou menos assim, com aquele sotaque Cearense: “Gaúcho Mala (foi a primeira vez que ouvi essa expressão… ahahahah), tu vai fazer essa de cicerone e apresentar os jogadores a Luiza, eu não vou apresentar p… nenhuma”!!
Bem, o resto é ‘história’, pois além de estar convivendo todo aquele ambiente, ainda seria o ‘anfitrião’ da seleção brasileira no evento mais cobiçado daquele mundial, e assim os poucos jornalistas que foram convidados, inclusive o meu grande amigo ‘Capitão Hidalgo’, ficou estarrecido quando me viu ao lado da Luiza Brunet, na entrada da piscina à noite, ‘recepcionando’ um por um dos convidados e citando os nomes à Luiza! Isso deu um programa de TV em Curitiba na volta daquele mundial, e até hoje o Capitão me cobra as fotos dele com a Luiza Brunet, que tirei com sua câmera e até hoje não entendo como ‘queimou o filme’ e perdi aquelas fotos, inclusive várias minhas!!
Assim, daquele mundial na Espanha, muito ainda terei para contar, e quando encontrar mais fotos daquela época volto a narrar os fatos, pois muita coisa convivi, desde a mudança de posição do ‘Dirceuzinho’, ponta-esquerda, que começou jogando na ponta-direita e que ninguém entendeu, da lesão do Careca que foi substituído pelo Roberto Dinamite, e eu estava dentro do campo naquele treino, do Show do Fagner na ‘Plaza España’ em Sevilha com a presença dos jogadores, da fatídica tarde no Sarriá em Barcelona, quando após a derrota para a Itália, Eu e o Fagner que estávamos numa arquibancada no meio do estádio com os filhos do Zico, a Sandra sua esposa, a Dona Matilde, Mãe do Zico, e a esposa do Edinho, fomos levá-los até os vestiários da seleção, pois dali partiriam com eles para o Hotel, enfim, várias situações que permanecem vivas na minha memória, e que aos poucos poderei narrar para ‘meus leitores’.
Após essa festa, ficou combinado que a Dijon daria outra em Barcelona após a classificação para a final, e outra em Madrid após a final, e eu continuaria ‘atuando como hostess’ nesses eventos! Ficamos pouco mais de uma semana em Barcelona, eu e o Fagner sempre pelas ‘Las Ramblas’ agora, brincando com a torcida Italiana que até então já estava aceitando que se ‘não fosse o Brasil nas quartas’, eles poderiam chegar à final. Depois daquele jogo voltei a ver o ‘Magrão’, como também era chamado o Fagner, somente no final de 82 no Rio, onde ele me levou para jogar uma partida na chácara do Chico Buarque, como ele ia toda a semana, e como se fosse uma coisa muito normal, simplesmente uma ‘pelada de futebol’!! São as ditas ‘circunstâncias da vida’!!
Serviço:
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Por Osvaldo ‘Tetaze’ Maia.
