Fonte foto – Arquivo pessoal de Edilberto L. Mendes.
Por Edilberto L. Mendes.
Um despretensioso editorial de 1988 no “The Brasilians” (o mais antigo jornal ainda em circulação nos EUA) alertava os brasileiros com uma pergunta… QUANTOS SOMOS?
Atrás, vinham numerosos questionamentos que eram desvendar uma realidade que batia à porta. Saber quem éramos, o que fazíamos e o que pretendíamos numa terra que abraça os bons emigrantes.
Até então, não havia informações básicas sobre a imigração brasileira nos EUA.
Ninguém sabia nada, uma simples informação que pudesse nortear os muitos brasileiros que chegavam, os que já estavam e os que viriam para formar uma comunidade de fato.
Havia na época, a rua dos brasileiros, a Rua 46 de Nova York e seus muitos comércios de todas áreas que auxiliavam os turistas endinheirados que não falavam inglês e não queriam ter trabalho em seus objetivos turísticos. Havia de tudo, desde estadia até as compras de novidades de eletrônicos e todo tipo de parafernália.
Assim sendo, despertou em estudiosos de Universidades americanas uma oportunidade para conhecer mais uma comunidade em plena efervescência no país. Talvez uma das mais novas e mais discretas em todos os seus aspectos.
Quem primeiro abraçou a ideia foi uma pesquisadora e professora Máxime Margolis, americana apaixonada pelo Brasil (fala português) e conduziu a pesquisa. Mas, em minha opinião, de forma equivocada, traçando um perfil cruel e tenebroso da comunidade, o que era exatamente o contrário à resposta que esperávamos. Se não ajudou, também não atrapalhou.
Por meio de uma iniciativa do jornal The Brasilians e algumas lideranças que atuavam em pequenos focos da comunidade, reivindicamos junto ao Censo de 1990 a inclusão do Brasil em categoria separada, como de direito.
Fonte foto – Arquivo pessoal de Edilberto L. Mendes.
Os brasileiros continuaram a ser vistos como latinos, misturados num pacote que incluía todos os países que não falassem inglês, como a primeira língua.
O resultado esperado, só veio dez anos depois, no CENSO/2000, com os brasileiros incluídos em categoria separada, num esforço hercúleo, de um trabalho conjunto com os Consulados brasileiros, igrejas, e grupos comunitários, também ávidos de descobrir o mistério da imigração brasileira no país.
A resposta ao apelo foi modesta e também frustrante, pois muitos brasileiros em situação ilegal não responderam, com receio de serem descobertos pela emigração americana, acreditaram ser uma arma do serviço de imigração americana à cata de ilegais no país, para serem deportados.
Não há como negar a importância de alguns brasileiros que também abraçaram a causa e fizeram de tudo isso um grande acontecimento, mesmo com resistência de todos lados.
O jornalista Carlos Borges, é exemplo claro de coragem e determinação, e para que os fatos não se perdessem de forma simplória, abraçou a causa, por volta dos anos 2000, comprou a ideia de se criar juntos algo maior que reunisse toda a imprensa comunitária de vários centros com objetivo único.
Fonte foto – Arquivo pessoal de Edilberto L. Mendes.
O jornalista Carlos Borges.
Nascia o Focus Brasil, na época um “must.” Havia muita coragem, determinação e conceitos de reconhecimento dos talentos brasileiros em todas áreas de atuação em prol da comunidade: o “Brazilian Press Award!”
Criou-se uma espírito grandioso de acontecimentos em volta da ideia.
Por aí, criamos juntos a ABI Internacional para aglutinar toda a imprensa brasileira, buscando representação, entendimento e reconhecimento de nossa presença no país.
Diga-se de passagem, que o projeto por um tempo, funcionou de forma quase plena.
Fonte foto – Vera Reis.
Reunião da ABI Internacional com varios representantes da imprensa brasileira de diferentes cidades dos Estados Unidos, em Fort Lauderdale, Flórida.
Um quase fim de tudo, a comunidade brasileira agoniza.
Em meados do primeiro governo Lula, foi criado um projeto totalmente demagogo, delirante e eleitoreiro, o que então o presidente passou a bradar aos “quatro ventos” em busca de popularidade: lugar de brasileiro é no Brasil…! Referindo-se aos milhares de brasileiros (que deveriam voltar ao Brasil) uma vez que deixaram o país em busca de uma vida melhor e de oportunidades em outros rincões.
A coisa ganhou corpo e fez com que o Itamaraty criasse um projeto que escolhesse os representantes das comunidades no exterior, buscando saber quem eram, como viviam e o que haviam conquistado.
Até aí, bonito de se ver, de se falar e relatar como conquista.
Uma pergunta pairava no ar: voltar para o Brasil, como? Em que circunstâncias, vantagens, deixando tudo então conquistado para viver em país com uma administração com nuances de insegurança.
O projeto em sua concepção pecava com o estímulo maior de trazer os brasileiros de volta ao Brasil, numa proposta festiva, eleitoreira desconhecendo por completo o que levou essas pessoas deixarem o Brasil numa tentativa de vida melhor no exterior.
Primeiro, o Brasil não tinha dados de como viviam estes brasileiros no exterior.
Os Consulados brasileiros espalhados aqui e ali não tinham estrutura para atender os muitos brasileiros que os procuravam numa falta total de conhecimento de sua função.
Procuravam ainda que, discretamente, era para resolver problemas de toda ordem, principalmente burocráticos, como registro de documentos, ou uma ligação mesmo que superficial com o país. Ou então havia uma gama de brasileiros que fugia léguas imaginando que aquilo poderia mandá-los de volta ao Brasil, por estarem ilegais, sem documentos, sem referências, sem rumo e sem qualquer propósito…
Fonte foto – Arquivo Vida Brasil Texas – Facebook.
O que não se consegue entender até hoje é o que a comunidade brasileira no exterior caminha para administrar uma sexta geração que vem por aí.
Quem permanece vivo nos mais diferentes rincões percebe ainda a presença de pessoas confusas, infelizes que não conseguiram sustentar a sua presença como tantas outras comunidades: Portugal, China, Judia, Indiana, Mexicana, etc.
No caso brasileiro, os filhos de gerações não conseguem articular palavras básicas de nosso idioma e por aí vai…
Os filhos de brasileiros dificilmente saberão coisas de importância de gerações passadas. Imagine o futuro!
Bem, voltando ao projeto dos brasileiros no exterior não deu em nada.
No momento, não se conhece a realidade dos brasileiros no exterior, os seus momentos de penúrias ou conquistas por lá. Sabe-se, aproximadamente, quantos deixaram o Brasil, mas não se tem dados de quantos retornaram ou retornarão.
Mais uma vez, perda de tempo, de dinheiro e de propósitos. Pronto.
Muitos que retornaram ao Brasil, como é meu caso, depois de tantos anos fora, posso dizer gratidão a um país que me permitiu vivenciar uma experiência fantástica de vida, onde aprendi e reforcei os meus princípios morais, como respeito ao próximo, ao país e ao ser humano.
Quem vive ou viveu no exterior, longe do Brasil conhece bem esta realidade.
E pelo caminho da vida, ficaram os sonhos, ideias e ideais de visionários que como eternos Dom Quixotes da vida, tais como Benito Romero, Iza Chateaubriand com a Casa do Brasil, Jeanete Bezerra, Nair Mesquista e tantos outros na construção de espaços brasileiros, cuja comunidade pudesse se expandir.
Sem apoio, sem incentivo de qualquer natureza, viram os seus sonhos escaparem pelos dedos. Nada aconteceu.
O que ainda existe como marca de Brasil, no coração da cidade de Nova York, é uma placa na Little Brazil, na Rua 46 onde restam dois restaurantes brasileiros, uma agência de viagem e o The Brasilians.
Mas atando os nós neste emaranhado de coisas, uma afirmação de meu mentor jornalista Jota Alves, criador do The Brasilians, Brazilian Day e tantos outros feitos vem a calhar quando ele diz, “você sai do Brasil, mas o Brasil não sai de você!”
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O autor: Jornalista Edilberto L. Mendes, ex-Editor do jornal The Brasilians em New York, ex-diretor Executivo do Brazilian Day, um dos idealizadores do FOCUS BRASIL e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional- ABI Internacional, hoje vive em Belo Horizonte.
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edilbertomendes@gmail.com