Fonte foto – U. Dettmar/SCO/STF – https://jornal.usp.br/institucional/kabengele-munanga-e-o-homenageado-no-15o-premio-usp-de-direitos-humanos/ – Prof. Dr. Kabengele Munanga.
Por Adinaldo Souza
Assim caminhamos, com o propósito absoluto de saber do lugar que queremos chegar, e, portanto, assim caminhamos enfrentando os mais variados percalços nesta nossa traçada rota de onde advém muitas imposições pra nos querer fazer o descaminhar. Aí vem uma tristeza que por mais que tentemos dissuadi-la, ela está sempre presente, mas aí o que fazer? Não desistir nunca, é a única chance de nos fazer vivos, presentes, combatentes, de uma realidade social, cultural e econômica que nos impõem a uma condição de não cidadãos.
Assim é o comportamento desta sociedade brasileira, racista pelo fator indiscutivelmente histórico e que se nutre deste fator e continua sem demonstrar nenhum pudor para nos desmerecer enquanto humanos seres que somos.
Fonte foto – Rampa do prédio do Departamento de História e Geografia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH – USP), no campus da Cidade Universitária em São Paulo. Foto: Marcos Santos.
Muito recentemente uma pessoa louvada pelo tempo envolvido em prol do conhecimento humano através da antropologia, foi merecedoramente homenageada pela academia em uma universidade que se diz ser a mais importante, a mais influente, a mais cobiçada do nosso país, e quiçá, da América Latina…respeitemos a soberba.
O homenageado, Prof. Dr. Kabengele Munanga, ao receber o Título de Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, em seu discurso disse ter sido a USP uma das últimas universidades brasileiras a estabelecer o critério de cotas raciais.
Prof. Dr. Kabengele Munanga.
Disse a pura verdade, pois quando todas as universidades federais e a esmagadora maioria das universidades estaduais haviam implantado as cotas raciais contemplando a reivindicação do movimento negro e de setores progressistas da sociedade brasileira que se aliaram; a USP manteve, obtusamente, o discurso da meritocracia como justificativa para não acatar as cotas. Justificativa que o tempo demonstrou ser falaciosa. Este saber é histórico…é incontroverso.
Mas, eis que a vice-reitora desta universidade, sendo co-partícipe da mesa, no exato momento em que dá louvor ao seu ilustre membro, do nada, quebrando todo o protocolo histórico institucional, num rompante, investida de tamanha deselegância resolve contestar
o homenageado. Aí cabe uma indagação: Caso o professor doutor Kabengele Munanga tivesse a origem ocidental, esta inconcebível ousadia de quebra protocolar dar-se-ia?
Fonte Foto – Marcos Santos. https://www.fflch.usp.br/62148 – Prof. Dr. Kabengele Munanga.
Obviamente pode haver exagero na minha indagação, mas ao considerar ter sido o homenageado o primeiro professor negro desta universidade, não vislumbro outra intenção, ainda que subjetiva, que esta vice-reitora ao sentir-se desconfortável pelo brilho intelectual do homenageado, como contra partida se achou no direito absoluto de tentar, conscientemente devido também ser uma intelectual, constranger o homenageado. Tal atitude só nos fez aumentar mais e mais o carinho e o respeito que temos pelo ilustre Prof.
Dr. Kabengele Munanga.
Quando se diz que a ideologia da branquitude se auto-investe de direito pleno e quase absoluto de se achar superior; é que ela vê o não branco como um ser destituído de cognição…azar o dela.
Assim caminhamos…
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Por Adinaldo Souza.