Por: Betty Barcellos
Em Agosto deste ano, a tormenta tropical Harvey que se transformou no Furacão Harvey categoria 4 castigou o Texas nos Estados Unidos onde moro com minha irmã. Foi a pior enchente dos últimos 50 anos.
A chuva quebrou todos os records do passado e foi o mais caro desastre natural na história do USA, despejando 27 trilhôes de galões de agua no Texas e Luisiana.
É extremamente difícil viver uma situação assim porem piores momentos viveram aqueles que perderam suas vidas na enchente. Passamos momentos de ansiedade, tristeza e profundo pesar ao ver Houston se transformar numa gigante piscina, cobrindo de agua bairros inteiros com até 10 metros de altura. Choveu por 4 dias e no quinto dia, quando a luz foi desligada em nossa área por questões de segurança, não pensávamos que iríamos passar pelo que estaria a nossa frente.
Nossa rua possui um lindo lago no final da rua onde casas ficam `a beira d’ agua, num paraíso de peixes, patos e aves que vivem livres nos belos jardins ao redor. Com as chuvas, a agua do lago subiu 5 metros invadindo casas, inclusive a casa de uma amiga que teve que sair de lá de barco. A chuva cobriu toda nossa rua porem por uma dádiva divina, a agua parou no meu jardim poupando-nos de um alagamento dentro de casa. Todas as casas que estavam a nossa esquerda ficaram secas entretanto `a direita, todas residências foram inundadas.
A agua que caiu e elevou o nível do principal rio Buffalo Bayou em mais de 19 metros, transbordou os dois Reservatórios Addicks e Baker, construídos nos anos 90 com a finalidade de colher agua da chuva para evitar enchentes. Estes reservatórios nunca antes haviam transbordado porem o poderoso tufão Harley quebrou o record e por isso a Army Corps of Engineers fez a desesperada decisão de abrir os canais que levam o excesso d’agua para fora dos reservatórios saturados para assim diminuir a pressão nas paredes da barragem e o risco de causar rachaduras que poderiam alagar ainda mais e com mais força toda a região naquela área.
Como moramos perto dos Reservatórios que dista há 15 minutos de carro e ficamos sabendo do plano de liberação lenta da agua por 2 semanas, todos na vizinhança evacuaram e eu decidi ir para a casa de meu filho onde não houve inundação nem perda de eletricidade.
Depois de uma semana voltamos para casa, pudemos ver a triste devastação ocorrida no bairro e o processo de limpeza e remoção de pertences de cada residência, feito pelos caminhões da Prefeitura de Houston. As ruas tornaram-se campos de guerra de um filme, onde montanhas de mobiliário molhados e mofados ocupavam os jardins no lugar das flores. Paredes, portas e piso junto com quadros, vasos, mobílias, roupas e brinquedos, estavam empilhados na frente de cada casa num testemunho da vida dos moradores ate’ o momento em que a natureza embrabeceu e resolveu dar o seu abraço de extermínio ignorando a história, o estrado e o prejuízo que causaria.
O furacão Harvey causou mais de 70 mortes, desabrigou milhares de famílias que tiveram que ser alojadas em abrigos fornecidos pelas autoridades, 12 hospitais da cidade foram evacuados devido `a enchente, e serviços médicos vieram de outras cidades para ajudar no transporte e resgate de pessoas. Graças ao excelente atendimento dos serviços de emergência que trabalharam dia e noite para proteger a população assim como a boa vontade de todos que se uniram para ajudar os mais necessitados, Houston passou pelo desastre nunca visto antes e aos poucos agora inicia sua fase de reconstrução.
Betty Barcellos é gaúcha, licenciada em Letras pela PUCRS e estudou na Escola de Artes da UFRGS em Porto Alegre. Frequentou aulas de Pintura, Fotografia e Arte Digital no Texas. Publicou seu primeiro livro solo “Fotos in Versos“ em 2007. Participou de diversas Antologias: Congresso Brasileiro de Poesia –2007; Congresso 24 Horas de Poesia –2007; Poetas del Mundo em Poesias – Vol. I – 2008; Antologia Brésil en Scène II, editada na França em 2015 e 2016; Antologia Bilingue Escritores da Língua Portuguesa III -Brasil-Alemanha em 2016; Antologia Os Melhores Poemas – lançamento em Portugal em 2016; Antologias da UBE/RS sendo que em 2011, escreveu sobre a abertura da Rua Cel Solon d’Avila, seu eminente pai, em Porto Alegre-RS/Brasil.
Por: Betty Barcellos