Por Osvaldo Tetaze Maia
O jogo de 700 milhões de Euros!
Real Madri
Equipe do Grêmio de Porto Alegre, finalista do Mundial Interclubes 2017
“Idiossincrasia”: palavra de origem Grega que significa o “temperamento peculiar”; é uma característica comportamental ou estrutural, peculiar a um indivíduo ou grupo. (idiosyncrasy em inglês – idiosincrasia em espanhol)
O termo também pode ser aplicado para símbolos. Símbolos idiossincrásicos são símbolos que podem significar alguma coisa para uma pessoa em particular, como uma lâmina pode significar guerra para alguém, mas para outro ela poderia simbolizar o sacramento de um cavaleiro. A História vincula aos grandes homens, heróis da nação ou de um determinado povo ou grupo, uma construção ideológica de ‘grande personagem’ que deve ser estudado sob o conceito da idiossincrasia, logicamente dentro dos processos de acontecimentos sociais que estão a sua volta. Fonte: “Wilkipédia”.
E assim, dito isso, procuro fazer uma relação com o futebol, a paixão maior do esporte brasileiro, devido aos acontecimentos da última semana, onde, dizem, “o mundo parou para ver a grande final do Campeonato Mundial de Futebol Interclubes”, com o Real Madrid sagrando-se pela sexta vez Campeão Mundial com uma vitória pelo placar mínimo frente ao Grêmio Futebol Porto Alegrense.
Bem, aqui acaba meu comentário sobre o jogo e sobre futebol em si propriamente dito, pois como já falei em outras crônicas, longe de mim fazer qualquer comentário sobre ‘futebol’, em um país com dezenas de milhões de comentaristas e técnicos de futebol.
O que comento aqui é uma particular (e modesta) reflexão e comparação sobre a relação entre os “grupos” de entidades desportivas que se dedicam ao futebol aqui no Brasil e na América Latina e os “grupos” Europeus, vez que muito se ouviu falar nos últimos dias sobre a “esmagadora” superioridade do Real Madrid frente ao Grêmio.
Nas transmissões durante o jogo no sábado dia 16/12, a partir de um determinado momento, já na primeira comparação, quando parecia que já anteviam o resultado final, ou no jargão popular, “que a vaca estava indo pro brejo”, começaram a divulgar o valor total do time do Grêmio e o do Real Madrid, uma diferença incompreensível para a maioria da população brasileira, dizendo que o valor de todo o plantel do Grêmio valeria cerca de 80 milhões de Reais e o do Real Madrid quase 700 milhões de Euros, e que só o Cristiano Ronaldo vale mais de 100 milhões de Euros!
Eu até imagino o falecido Jornalista Gaúcho Paulo Santana, o mais gremista de todos os gremistas escutando isso, pois parecia que se dava a entender que com esses números não adiantava nem ter entrado em campo, o que faria o grande Jornalista “esculhambar” quem quer que estivesse narrando aquele jogo.
Ora, mas essa é a nossa tal “idiossincrasia”, muito peculiar na nossa cultura, que sabe do potencial e do valor do ‘outro grupo’, da outra empresa, do outro país, enfim, DO OUTRO TIME DE FUTEBOL, e, entra ano e sai ano, e NADA muda, nem no País e nem nos clubes de futebol que continuam sempre com déficit financeiro, sem dinheiro em caixa, e com raríssimas exceções, trocando seis por meia-dúzia!
Por isso não comento sobre o jogo de futebol, talvez para evitar uma ‘saraivada’ de pedras que fatalmente jogariam na “Geni”, lembrando a famosa música e letra de Chico Buarque, mas comento sim, dou minha opinião sim, sobre a estrutura do futebol e da “idiossincrasia” dos Europeus, vez que já presenciei ao longo dos meus 65 anos muita coisa relacionada ao futebol mundial, visitei muitos países, Clubes de Futebol, e sempre me perguntei, por que uma das maiores ‘fontes de rendas’ do esporte mundial, o futebol brasileiro, perde de goleada para qualquer campeonato ou time de futebol Europeu quando o assunto é “Economia e Finanças”? Será a nossa tal “idiossincrasia”?
Esse tema daria para escrever um “Tratado sobre Finanças no Futebol”, mas como essa não é a questão agora, ao final da matéria vou indicar algumas organizações que se dedicam a isso e que bem poderiam servir aos dirigentes do futebol brasileiro, numa tentativa de assimilar a “idiossincrasia” dos dirigentes do futebol Europeu, quando há mais de vinte anos perceberam o tamanho desse negócio e fizeram com que crescesse mais de 20 vezes nesse período, conforme será demonstrado abaixo.
Vale lembrar que na década de oitenta o futebol Inglês estava falido, assim como o futebol Espanhol também era fraquíssimo e paupérrimo, mas aí ‘entra em campo’ a “idiossincrasia” do Europeu, que já se reergueu de duas guerras mundiais no século 20 e de mais de uma série de conflitos internos, e iniciaram uma tarefa projetada para as próximas duas décadas, e o que aconteceu é o que vemos hoje e que todos sabem, os Clubes Europeus dão de goleada nos brasileiros e sul americanos, e olha que não é só nas finanças, mas sobre isso já disse que não comento!
A frase da UEFA é precisa : UEFA: “O Real Madrid é o Clube melhor administrado da Europa”. E as boas administrações econômicas terminam, cedo ou tarde, em êxito desportivo.
Lamentavelmente, ver um planejamento a longo prazo no futebol brasileiro, como dizem lá no sul, “é mais difícil que varrer escada acima”!
Portanto, somente registro o que vi, vivi e que está à disposição de qualquer um para ler e visualizar na Internet, mas como não consigo escrever sobre esses temas sem contar algum “causo” que vivi, e com fotos, aqui vai mais uma constatação pessoal do futebol Europeu, e no caso específico, uma passagem pelo Santiago Bernabeu em Madrid, em 2011, quando com meu filho Felipe estávamos em negociação com uma Produtora Espanhola de Filmes e Eventos para trazer um formato de ‘Reality Show’ de Futebol “Football Cracks’, comandado por Zinedine Zidane e Enzo Francescolli, o Uruguaio.
Zidane e Francescolli
Felipe Maia e Zidane
A Espanha é um dos países que mais visitei na vida e possuo grandes amigos lá, de norte a sul, de leste a oeste, e naquela vez nosso encontro era com o famoso Cineasta e Produtor do Cinema espanhol, Miguel Menéndez de Zubillaga, sócio e Compadre de Zidane, e sobre o “Football Cracks’ terei que dedicar algumas crônicas para relatar tudo o que vivemos com o futebol e o ‘showbiz’ espanhol.
Miguel Menéndez e Felipe Maia
Zidane e Miguel Menéndez
Só para registro, o nome do primeiro filho do Zidane é Enzo, em homenagem ao Enzo Francescolli, ídolo do Zidane no futebol!
Francescolli e Zidane
Zidane
Mas esse aparte é para narrar o “causo” de hoje e relatar o dia que teríamos uma reunião à tarde em Madri sobre o ‘Reality Show Football Cracks’ com o Miguel Menéndez, hoje nosso grande amigo na Espanha, e resolvemos que iríamos almoçar no Puerta 57 no Santiago Bernabeu, o famoso Restaurante do Real Madrid, e aí entendemos um pouco mais da “idiossincrasia” dos Espanhóis e do poderio desse Clube.
Passamos antes na “Tienda Bernabeu”, a loja do Real Madrid no estádio que mais parece um ‘Shopping Center’ do futebol, e subimos ao restaurante por volta das 12:30 horas, já que nossa reunião seria a partir das 14:00 horas.
Com meu filho Felipe no Santiago Bernabeu frente a ‘Tienda Bernabeu’
Interior da ‘Tienda Bernabeu’
Com meu filho Felipe no Santiago Bernabeu frente a ‘Tienda Bernabeu’
Interior da ‘Tienda’, movimento constante Vista interior da ‘Tienda’
Como o restaurante estava vazio, nos sentamos na primeira mesa da janela com vista ao campo esperando o garçom. Em seguida chegou na recepção aquele ‘tradicional ‘Maitre’ espanhol’, foi até nossa mesa e pediu que o acompanhássemos até a recepção, onde pediu nossos nomes e que horas tínhamos reservado! Olhei para o meu filho, olhamos para o ‘Maitre’ que nesse instante procurava no livro de reservas nossa mesa, e lhe dissemos: “Nosotros no tenemos reserva”!
Foi o que bastou para ele fechar o livro, e informar que sem reserva naquele mês, e talvez nos próximos também, não teria mais lugar para almoço ou jantar no Puerta 57!
Foi quando me lembrei de que na Espanha eles almoçam mais tarde, após as 14:00 horas, e depois tem “la siesta” tradicional, por isso ainda estava vazio! Gentilmente o ‘Maitre’ permitiu que tomássemos pelo menos uma cervejinha e indicou-nos outros restaurantes ‘cerca del Estádio!
Vista do Restaurante para o campo
‘La Barra’ do Restaurante Puerta 57 no Santiago Bernabeu
Entrada do Restaurante Puerta 57
Este pequeno ‘causo’ serve para demonstrar como tudo é superlativo em se tratando de futebol na Europa, pois um ‘Estádio de Futebol’ como o do Real Madrid, um monumento comparado a um ‘Coliseu de Roma’, dada a importância que tem para os seus torcedores, não pode ser utilizado somente para os dias de jogo, tem que gerar receita diariamente, e nisso os Europeus são eternos campeões, pois até para visitar o estádio tem que ter reserva pois está sempre lotado para visitas, e hoje deve estar por volta de 30 Euros por pessoa um ‘tour’ de cerca de uma hora!
Como que dois turistas Brasileiros poderiam entra e almoçar em um Restaurante desse sem uma reserva, e ainda por cima se dizem ‘amigos de Zidane’?
Estádio Santiago Bernabeu
E sobre essa situação também dirão, ‘ora, mas na Europa é diferente’! Mas é lógico que é diferente, lá os clubes de futebol são um negócio rentável, pois operam como uma empresa privada que tem o produto esportivo mais cobiçado do mundo, e por isso, somente por isso, tem que dar lucro o ano todo, e daí temos o que é hoje o futebol Europeu, pois há trinta anos não era assim, até que entenderam que deveria haver ‘planejamento e aprimoramento’ se um dia quisessem ser times grandes!
Como entender que nossos Clubes de futebol, com as maiores torcidas do mundo, alguns com o número de torcedores quase o igual à população da Espanha, com o outrora melhor futebol do mundo, deixaram escapar essa oportunidade de ouro que foi a ‘revolução no marketing esportivo’ que houve a partir da década de 80; como que ficaram estagnados com todos os novos ‘players’ (Empresas do Oriente médio, Chineses, Russos, Asiáticos, etc.) que viram esse mercado gigantesco florescendo?
Eu explico: é a tal da “idiossincrasia” de nossa gente, é a nossa ‘característica comportamental’, e isso também está incrustado na forma como sempre vimos o futebol, “um dom natural do brasileiro que nenhum outro povo tem igual, e isso faz com que as vitórias, se não forem imediatas não servem, o futuro é hoje e basta”! Planejar o que, e para que?
Ora, dirão também, mas no futebol Europeu os Clubes tem jogadores de vários países, de vários Continentes e podem formar várias seleções! E daí? Aqui na América do Sul também pode, só que falta dinheiro para os Clubes, que nem salário em dia pagam aos seus jogadores, com raríssimas exceções, e quando pagam em dia promovem isso como uma ‘vitória’ e não como uma obrigação.
Ou será que se algum Clube brasileiro tivesse condições de comprar um Bayle, um Modrich, ou um Cristiano Ronaldo, não os compraria? Ora dirão ainda, isso é utopia, e lá voltamos nós novamente à nossa velha “idiossincrasia”!
Equipe dos ‘sonhos’?
Se na Europa os clubes de futebol tem o poderio financeiro de hoje, é porque a “idiossincrasia” do Europeu fez com que eles se reestruturassem, se reconstruíssem e o mais importante, planejassem um resultado para uma ou duas décadas depois, coisa inimaginável no nosso futebol.
Aproveitando a ‘deixa’ dos valores que foram anunciados na final entre Real e Grêmio, destaco que somente o Real Madrid faturou na temporada 2014/2015 a cifra de 577 milhões de Euros, cinco vezes a mais do que há 15 anos quando estava começando seu planejamento de tornar-se um dos Clubes que mais faturam com o futebol . Esse valor compraria, em tese, 10 times do Grêmio!
Dos 100 Clubes de futebol mais valiosos atualmente, os três grandes da Espanha, Real, Barcelona e Atlético de Madrid estão nos ‘top’ 20, e os demais ‘top’ 20 estão divididos entre Inglaterra, Alemanha e Itália. O Clube brasileiro mais valioso entre os 100 do mundo é o Flamengo em 68º lugar (83,7 milhões de libras), depois o Grêmio em 80º (71,01 milhões de libras), o Palmeiras em 81º (70,9 milhões de libras) e o Corinthians em 99º (61 milhões de libras) .
Ou seja, temos outros grandes clubes Europeus de “expressão mundial”, tais como um “US Sassuolo”, da Itália em 64º, um “Brighton & Hove Albion”, da Inglaterra em 66º, Um “Leicester City”, da Inglaterra em 22º, e por aí vai, todos na frente dos nossos, é só conferir no link!
No quesito ‘camisetas’ então, além de não figurar nenhum time brasileiro entre os 10 do mundo que mais vendem camisetas, temos que nos conformar também que se considerarmos somente o Brasil, os times Europeus ainda vendem aqui mais camisetas que os nossos!!
No mercado brasileiro a ordem é essa: Em primeiro Barcelona, depois na seqüência, Palmeiras, Manchester City, Flamengo, Manchester United, São Paulo, Corinthians, Bayern Munich, Real Madrid e Chelsea (Os times que mais vendem camisetas no Brasil).
Fonte:https://www.transfermarkt.co.uk/spielerstatistik/wertvollstemannschaften/marktwertetop
Assim, o faturamento das equipes Européias ‘dá sempre de goleada’ nas equipes brasileiras no campo da Economia e Finanças, fazendo com que essa distância seja cada vez mais difícil de ser encurtada, caso não seja alterada nossa “idiossincrasia”.
Finalizando essa pretensa análise “sócio econômica” sobre o futebol, cito mais um dado econômico sobre esse gigantesco ‘negócio’, copiado da Consultoria ‘Deloitte’ que emite anualmente um verdadeiro ‘Tratado de Economia e Finanças no Futebol”: A média de faturamento anual dos Clubes da ‘Premier League’ do Campeonato inglês é de 400 milhões de Libras, o que pode ser considerado em cerca de 2 bilhões de reais! E o Governo Britânico arrecada anualmente cerca de 1.6 Bilhões de Libras em impostos dos Clubes de futebol, o equivalente a cerca de 8 Bilhões de reais !
Dentre as raras situações onde conseguimos equiparar nossos valores no futebol com os Europeus, está o trabalho de valorização dos profissionais que são cobiçados naquele mercado, realizado pelos Empresários de Futebol JORGE MACHADO e GILMAR VELOZ , que há quase três décadas firmaram-se como dois dos maiores Agentes Esportivos do mundo, respeitadíssimos em todo o planeta, e Machado por ter sido também jogador de futebol, conhece bem os meandros dessa profissão, sendo hoje reconhecido como um dos grandes defensores dos direitos dos Atletas, e seus jogadores são sempre muito bem valorizados nas transações que efetua.
Jorge Machado e Gilmar Veloz
Finalizando, repito a declaração da UEFA: “O Real Madrid é o Clube melhor administrado da Europa”. E as boas administrações econômicas terminam, cedo ou tarde, em êxito desportivo!!
Com meu filho no CT da seleção Espanhola
Por Osvaldo Tetaze Maia
Muito bom o texto, Doc. E em 2018, lembre-se… #HalaMadrid! 🙂