Fonte foto – Agência Senado
Por Adinaldo de Souza
O começo dos assassinatos das pessoas negras na história deste país nos remete ao século dezesseis quando os portugueses iniciaram as suas operações de seqüestros dos negros em África, com assassinatos pra tal êxito, e, na seqüência, compulsoriamente, os levarem ao cativeiro de além mar denominado Brasil. Cabe ressaltar que o usual nas histórias dos seqüestros é a exigência de valores (dinheiro, jóias, etc.) em troca do seqüestrado, entretanto estas operações portuguesas inauguraram um conceito único na história da humanidade que foi o de obrigar o seqüestrado trabalhar no cativeiro ininterruptamente objetivando tão somente a produção de riquezas para o seqüestrador. Durante a travessia do Atlântico os assassinatos prosseguiram.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre
Ante quaisquer anormalidades surgidas nos navios – escassez de água potável ou de alimentos, insubordinação às ordenanças, sublevações, contração de doenças… – as pessoas eram deliberadamente atiradas ao mar e não havia a menor importância se mulheres fossem, se crianças fossem, se homens fossem. Pois eram consideradas mercadorias de pouco ou nenhum valor agregado. Não eram humanos, eram coisificados, e, por conseguinte, não tinham almas. Assim a igreja católica proclamava.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre – Quadro de Johann Moritz Rugendas (1802-1858) retratando o interior de um navio negreiro
Quando já no cativeiro os assassinatos ganharam outros aspectos peculiares. Agora havia a morte pelo sobre trabalho, pela subnutrição, pela tentativa de fuga, pelas chicotadas exemplares em praças públicas, pelo suicídio ao pavor das torturas, e muito mais.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre – A flagelação pública de um escravo no Rio de Janeiro, Brasil, por Jean-Baptiste Debret, Voyage pittoresque et Historique au Brésil (1834-1839).
No transcorrer de três séculos e meio a população negra produzia riquezas e era concomitantemente assassinada. No ano de 1888 em razão de múltiplos fatores e não pela mera benevolência de uma princesa, deu-se a abolição e daí então o sinônimo da libertação passou a ser segregação.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre
Não houve nenhuma indenização para a população negra pelos seus três séculos e meio de trabalhos ininterruptos, pior, em 1889 proclamou-se a república e dois anos após, 1891, o Brasil deu início a sua sistemática política de importação de mão de obra remunerada da Europa, iniciando da Itália, e, sendo que para uns tantos destes foram doadas terras.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre.”Proclamação da República”, 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto ( 1853-1927). Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo
A população negra então segregada do processo produtivo continuava, e continua, tendo em suas costas o peso da sua dizimação. Tamanha é a banalização de tais crimes que cada vida negra que se esvai a comoção se circunscreve somente aos parentes e amigos. A sociedade não oferece compaixão alguma, ao contrário, dissemina um senso comum que se executados foram é porque algum mal fizeram.
Fonte foto – Agência Senado
Portanto, é também pelo pouco do acima exposto que as cerca de 50 organizações do movimento negro tiveram neste mês de Junho agenda com o presidente do Senado David Alcolumbre, na presença dos senadores Randolfe Rodrigues e Paulo Rocha e do deputado federal Orlando Silva, para terem direitos ao debate do pacote anticrime do ministro Moro que da forma por ele apresentada é a legalização pura e simples da continuação do genocídio da juventude negra brasileira. Uma sociedade que tenciona o mínimo de democracia não pode, absolutamente, se apoderar de mais da metade de sua população e para ela gerir leis que normalizem a sua dizimação.
Vejam o vídeo acima
Por Adinaldo de Souza
Parabéns Adinaldo por manter viva a história verdadeira do povo negro.