Crônica – Porque Tarcísio de Freitas Governador eleito por São Paulo não nomeia negros?

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Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre.

Por Ivair Augusto Alves dos Santos

Vivemos o período de transição na presidência da República e nos executivos estaduais, sob grande expectativa da população quanto às equipes de governo. Uma pesquisa encomendada pelo programa +Representatividade, do Instituto Update, indica que uma parcela expressiva dos brasileiros apoia a presença de mulheres e pessoas negras nos ministérios do presidente Luis Inácio Lula, segundo informa a coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, em 12 de dezembro.

No caso do governo federal, já há uma discussão aberta sobre isso, com inúmeras organizações exigindo uma presença significativa de pessoas negras e mulheres não apenas nos ministérios, mas em todas as áreas da gestão e nos mais variados cargos. Entretanto, esse debate não ocorre com a mesma intensidade quando envolve a montagem dos governos estaduais. Lula é cobrado diariamente, mas os governadores eleitos de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Maranhão e demais estados passam ao largo do assunto, como se a obrigação com a equidade de cor e gênero fosse exclusiva da União.

Vamos analisar o caso de São Paulo, o estado com a maior população negra do país, cerca de 17 dos 44 milhões de habitantes. Há 40 anos, desde a eleição de Franco Montoro em 1982, o movimento negro reivindica a representatividade no governo paulista. Mas o governador recentemente eleito indica, até agora, que seguirá fidedignamente a tradição histórica da política bandeirante, reiterada pelos sucessivos governos tucanos, de não incluir pessoas negras no secretariado.

Edifício Altino Arantes – Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre.

Tarcísio de Freitas se autodefine como conservador e de direita. Governantes dessa orientação costumam defender a ideia de democracia racial como ideal para o país. Mas não reconhecem o racismo ainda arraigado na mentalidade e nos costumes, ainda estrutural na organização da sociedade, mesmo que os dados de desigualdade racial indiquem um cenário perverso de pobreza e miséria para os negros.

Tarcísio de Freitas – Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre.

O novo governador argumenta que o seu secretariado é “técnico”, como se esse atributo fosse exclusivo de brancos. O falso tecnicismo, a falsa superioridade atribuída pela cor, mal esconde o pacto de branquitude que objetivamente opera na política racista, firmado por pessoas brancas que ocupam cargos de comando em governos e cercam-se apenas de brancos, sobretudo brancos que tenham ocupado cargos de expressão anteriormente.

É o que alimenta o círculo vicioso Brancos indicam brancos, que amanhã indicarão brancos para outros cargos. E a história continua sem mudanças.

(São Paulo – SP, 14/06/2019) Ponte Octávio Frias de Oliveira, mais conhecida como a “Ponte Estaiada de São Paulo”..Foto: Anderson Riedel/PRFonte foto Wikipédia, a enciclopédia livre. 

Há duas figuras centrais junto a Tarcísio, influenciando a formação do governo paulista, que espelham essa realidade do círculo vicioso: Gilberto Kassab e Guilherme Afif Domingos. A biografia de ambos é um exemplo do pacto da branquitude. Sempre estiveram ocupando cargos de relevância nas últimas décadas e avançaram na vida pública ignorando a necessidade de maior representatividade das pessoas negras.

Guilherme Afif Domingos – Fonte foto Wikipédia, a enciclopédia livre. 

Kassab é fundador e dirigente do PSD, o Partido Social Democrático, que não tem sido nem uma coisa, nem outra. Segundo dados do TSE, a sigla foi uma das que sonegaram recursos para candidaturas de pessoas negras, na campanha eleitoral  de 2022.

Gilberto Kassab – Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre.

Nas últimas décadas, em nenhum momento esses políticos se envolveram na luta antirracista. Agora, quando formam a equipe que vai administrar São Paulo nos próximos anos, continuam alheios a essa luta. É de supor, então, que uma parcela da população paulista, quase metade dela, não seja bem-vinda no primeiro escalão do governo estadual. Teremos que esperar outros 400 anos, para esse quadro se alterar? São Paulo foi um dos estados mais resistentes à abolição da escravatura. Cem anos depois, foi um dos últimos a adotar ações afirmativas em suas universidades públicas. O racismo ainda estrutura as relações sociais na terra que escravizou índios e negros, e depois importou trabalhadores brancos livres para substituí-los, deixando aqueles na miséria e abrindo oportunidades e esperanças para estes. A desigualdade racial em São Paulo é a mais profunda, na comparação com a maioria das outras unidades da federação.

Mas, se isso tudo já sabemos, o que fazer? Aqui vão algumas propostas:

1) Pressionar pela inclusão de pessoas negras nos cargos ainda indefinidos do Governo Tarcísio. Não nos calar, agora e nos quatro anos do mandato, denunciando o racismo todos os dias e cobrando o dever do estado de agir contra ele.

2) Enaltecer e incentivar as iniciativas empresariais que promovem a diversidade e inclusão;

3) Exigir que São Paulo tenha uma Secretaria de Promoção de Igualdade Racial;

4) Reivindicar que haja um mínimo de 20% de pessoas negras nos cargos de confiança;

5) Lutar pela criação de programas de bolsas, para a permanência das pessoas negras nas universidades estaduais;

6) Trabalhar por programas que estimulem a presença de pessoas negras no serviço público estadual;

7) Combater o racismo na Educação e exigir a implementação da lei federal 10.639, de ensino da cultura negra, na rede pública estadual.

8) Defender a participação ativa de pessoas  negras nos planos econômicos desenvolvidos no Estado.

9) Impedir a retirada das câmeras nos uniformes da Polícia Militar e lutar por programas que valorizem a vida da juventude negra, vitima  de violência e mortalidade escandalosas.

A luta política é necessária em todos os estados da federação, como uma questão de sobrevivência para a população negra. Devemos cobrar, de todos os governadores eleitos, que haja a participação de homens negros e mulheres negras em sua administração, e nas decisões de políticas públicas. A caminhada é longa e tortuosa, mas justa. A representatividade de pessoas negras e o combate às desigualdades serão construídos com participação política e fé na democracia.

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Ivair Augusto Alves dos Santos
Mestre em Ciências Politicas pela Unicamp
Doutor em sociologia pela UnB
Ex diretor do Departamento de Direitos Humanos da Secretaria
de Direitos da Presidência da Republica.
Executivo Publico

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BIOGRAFIA ****** Sérgio Lima, ex-jogador profissional de futebol, natural de Campos dos Goytacazes, começou sua carreira no Americano onde jogou em todas as categorias e foi campeão Estadual no ano de 1969. Em 1970, transferiu-se para o juvenil do América do Rio, tornando-se artilheiro da Taça Guanabara de 1973 e vice-artilheiro brasileiro Carioca de 1973. Em 1974, sua história foi ilustrada luxuosamente com o Internacional de Porto Alegre, Hexa Campeão Gaúcho invicto. Em 1975, formou um excelente time do Guarani de Campinas, com grandes jogadores, Ziza, Amaral,Renato, Miranda, Davi, Alexandre Bueno, Edinaldo, Erb Rocha, Sergio Gomes, Hamilton, Rocha. que foi base do Campeão em 1978. Em 1976, transferiu-se para o futebol mexicano onde ficou por 8 anos: Club Jalísco, e Atlas Fútbol Club ambos da cidade de Guadalajara, Morélia da cidade de Morélia, Michoacan e Union de Curtidores da cidade de Leon, Guanajuato. Em 1984, retornou ao Brasil para o Botafogo do Rio. ****** Em 1985 foi contratado pelo Cabofriense, da cidade de Cabo Frio,estado do Rio, onde encerrou sua carreira. Presente em Guadalajara na Copa do Mundo 1986 no México, trabalhou como comentarista esportivo na rádio local chamada "Canal 58" de Guadalajara. Após a copa do Mundo de 1986, começou sua trajetória de 30 anos, nos Estados Unidos da América,, onde foi convidado pela Universidade de Houston Texas, através do seu responsável o excelentíssimo Professor Franco para participar como instrutor do “Cugar Soccer Summer Camp” durante duas semanas. Na sequência, depois de várias participações, em diferentes Soccer Camps no Texas, fundou, oficializou e legalizou a Brazilian Soccer Academy com o apoio espetacular do grande amigo Skip Belt. Com experiência de muitos anos dentro do campo, passou conhecimento e os fundamentos básicos do futebol do Brasil para um número incontável de jovens americanos. ****** Convidado pelo consulado Mexicano, idealizou e apresentou o projeto Houston Soccer After School Program para City of Houston Park and Recreation em 1994, para benefício de crianças e jovens entre 6 a 17 anos. Isso ocorreu na área metropolitana da cidade, onde concentrava a grande maioria de crianças e jovens negros e mexicanos, na época estavam com extremo e grande problema social que os envolvia com drogas e as abomináveis gangues. Desafio aceito, e o programa foi desenhado, aproveitando a infraestrutura dos Parks da cidade. O passo a passo foi dividido em três fases básicas: 1 - Criou-se liga em cada Park, onde havia jogos entre eles. 2 – Todos os meses havia Torneios entre todos os Parks. 3 - Criou-se seleções para jogarem contra jovens das outros áreas, e diferentes estados, sempre cuidando com os mínimos detalhes dos dispositivos e ensinamentos básicos do respeitado futebol do Brasil, para atrair e motivar a todos. O requisito principal era estar e manter boas notas e presença na escola, para desfrutar dos benefícios, recebendo gratuitamente todos os materiais de primeira linha doados por um conhecido patrocinador. Finalmente, aos 17 anos tinham a oportunidade de receber uma bolsa de estudos para ingressar em uma universidade americana. Foi apresentado e aprovado e Sérgio se transformou em funcionário público da cidade de Houston por 17 anos, até a sua aposentadoria. Muitíssimos jovens foram beneficiados pelo programa mudando radicalmente suas vidas, as drogas e gangues desapareceram. Sérgio fez o curso de treinador da Federação Americana de Futebol, recebendo a "Licença National B' e assumiu como Coach principal da South Texas Soccer Select Team Open Age From 1994 to 1996, tornando-se o primeiro treinador brasileiro e negro "Afrodescendente" a dirigir a Seleção do Sul do Estado do Texas. ****** No ano de 1992, Fundou o Jornal Vida Brasil Texas, tornou-se editor, onde ficou por 28 anos, sendo 24 anos impressos e os últimos 4 anos digital em português. Fundou em 2004, a Revista Brazilian Texas Magazine, é seu Editor . A revista até 2015 foi impressa, em 2016, passou a publicação digital em inglês. ****** 1 - Compositor, teve participação do CD Brasil Forever 1997 da Banda brasileira no criada no Texas em 1993 com finalidade de promover a cultura do Brasil. Banda “Atravessados de Houston” – Texas, com tiragem de 10 mil CDs. Sérgio Lima teve a participação com 10 músicas 8 autorais e mais duas com parcerias. 2 - Compositor da música “I Love Rio”, escrita e inglês em homenagem ao Rio de Janeiro, com a luxuosa interpretação da excelente Elicia Oliveira em ingrês (Está disponível no YouTube). https://www.youtube.com/watch?v=l39hfwOkyYU&t=18s ****** Representou a comunidade brasileira do Texas na I Conferência “Brasileiros no Mundo”, realizada em maio de 2008, com uma extrema característica acadêmica. ****** A II Conferência “Brasileiros no Mundo”, realizada em outubro 2009, se desenvolveu com uma acentuada conotação política, tornando, em certos momentos, o diálogo tenso, desconfortável e, até certo ponto, cansativo, devido à falta de elasticidade de algumas lideranças, acostumadas, creio, a pontuar e determinar o rumo das conversas e decisões, em suas áreas ou comunidades no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, de iniciativa da Fundação Alexandre de Gusmão – FUNAG, órgão ligado ao Ministério das Relações Exteriores – MRE. ****** Sérgio criou o espaço Brasil especial na Biblioteca central da cidade de Houston e conseguiu doações de livros de algumas instituições das comunidades brasileiras de outros estados americanos para compor o espaço. Recebeu o Prêmio Brazilian International Press Ward, por 3 vezes, em reconhecimento pelos trabalhos como editor do Jornal Vida Brasil Texas em português, e revista Brazilian Texas Magazine em inglês – 2011. ****** ORIGINAL ARTICLE “AFRO DECENDENTES NA MÍDIA BRASILEIRA”. You are a winner for the 15th Annual Brazilian International PRESS AWARDS. Your outstanding performance and contribution for the Brazilian Culture was recognized by the Media and Cultural Leaders of the Brazilian Community in the United States. Join us for the 15th celebration of the Brazilian Cultural presence in the U.S. The Award Ceremony will be held at the Cinema Paradiso • Fort Lauderdale May 3rd 2012.

1 COMENTÁRIO

  1. Ivair

    Com este currículo ainda esta expressando o conceito político como negro ainda depende dos favores do branco?

    Por isso que nunca saímos do lugar.

    Recentemente lancei o imortal e orixá Gilberto Gil Guru da Comunidade Negra do Brasil, único Negro do Brasil que até o momento, soube transformar o conceito pedagógico da Comunidade Negra do Brasil em conceito político.

    Hoje podemos dizer que não é mais o racismo do branco e sim do Negro privilegiado que cada dia mais esta fortalece a escravidão moderna.

    Por isso temos que mudar e jamais ficar com medo de encarar a verdade.

    somos seres humanos capacitados vergonha para o Negro do Brasil você com um currículo deste expressivo ficar como ainda depende de favores do Branco.

    Negro sem representação não cabe mais por envolver um nome e imagem, precisa saber se a representação do Negro do Brasil te deu esta oportunidade.

    Estou aguardando para completar o abolicionismo no Brasil, por sua dedicação, talvez nem se lembra disso, mas os documentos estão aqui comigo.

    Isso que temos que juntar para mostrar para a sociedade onde de fato está o racismo, coisas com sentido.

    Precisa entender que para se envolver com nome e imagem não vale mais apenas a cor é necessário e indispensável estar associado.

    Acredito que assistindo o vídeo direitos Humanos 2022, poderá entender.

    https://youtu.be/vktIKNUUpVI

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