Por Sergio Lima.
Tenho a honra em apresentar Carolina Maria de Jesus, escritora, poetisa e compositora. Mais um extraordinário e luxuoso diamante negro, extraído da mais profunda e humilde camada da sociedade brasileira, que é a favela. Mais uma história que nos comove e envolve do início ao fim. Espero que seja do agrado de todos e que possam desfrutar com o desenrolar do texto, e através dos vídeos saber com extremo detalhes tudo sobre esta mulher negra, guerreira e sábia.
Carolina Maria de Jesus.
Fonte foto – https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-03/brasil-lembra-centenario-de-escritora-que-definiu-favela-como-quarto-deVida – Juventude.
Carolina Maria de Jesus (Sacramento, 14 de março de 1914 — São Paulo, 13 de fevereiro de 1977) foi uma escritora, compositora e poetisa brasileira, mais conhecida por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960. Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil e é considerada uma das mais importantes escritoras do país. A autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo, sustentando a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis. Em 1958, tem seu diário publicado sob o nome Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, com auxílio do jornalista Audálio Dantas. O livro fez um enorme sucesso e chegou a ser traduzido para catorze línguas.
Fonte foto – https://www.amazon.com.br/Quarto-Despejo-Carolina-Jesus/dp/8508043635/ref=sr_1_6?adgrpid=114668795260&gclid=EAIaIQobChMI1qre9ZCo-QIVFEVIAB1orQBWEAAYASAAEgICkfD_BwE&hvadid=593252431820&hvdev=c&hvlocphy=9074204&hvnetw=g&hvqmt=e&hvrand=15486016635769536032&hvtargid=kwd-295653789774&hydadcr=25929_13512764&keywords=quarto+de+despejo&qid=1659442565&sr=8-6
Sua obra e vida permanecem objetos de diversos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior. Carolina Maria de Jesus nasceu em 14 de março de 1914, na cidade de Sacramento, em Minas Gerais, numa comunidade rural, de pais analfabetos. Era filha ilegítima de um homem casado e foi maltratada durante toda sua infância.[8] Aos sete anos, sua mãe a obrigou a frequentar a escola, depois que a esposa de um rico fazendeiro decidiu pagar seus estudos, mas ela interrompeu o curso no segundo ano, tendo já conseguido aprender a ler e a escrever e desenvolvido o gosto pela leitura.
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Mudança para a favela do Canindé
Em 1937, sua mãe morreu e ela se viu impelida a migrar para a metrópole de São Paulo. Carolina construiu sua própria casa, usando madeira, lata, papelão e qualquer material que pudesse encontrar. Saía todas as noites para coletar papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a família. Em 1947, aos 33 anos, desempregada e grávida, Carolina instalou-se na extinta favela do Canindé, na zona norte de São Paulo — num momento em que surgiam na cidade as primeiras favelas — cujo contingente de moradores estava em torno de cinquenta mil.
Fonte foto – Portal de Acervos da Secretaria Municipal de Cultura – Portal de Acervos da Secretaria Municipal de Cultura.
Ao chegar à cidade, conseguiu emprego na casa do notório cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini, médico precursor da cirurgia de coração no Brasil, o que permitia a Carolina ler os livros de sua biblioteca nos dias de folga. Em 1949, deu à luz seu primeiro filho, João José de Jesus, o que fez que perdesse seu emprego. Teve ainda mais dois filhos: José Carlos de Jesus nascido em 1950 e Vera Eunice de Jesus nascida em 1953. Ao mesmo tempo em que trabalhava como catadora, registrava o cotidiano da comunidade onde morava nos cadernos que encontrava no material que recolhia, que somavam mais de vinte. Um destes cadernos, um diário que havia começado em 1955, deu origem a seu livro mais famoso, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960.
Publicação de Quarto de Despejo
Publicado em 1960, a tiragem inicial de Quarto de Despejo foi de dez mil exemplares e esgotou-se em uma semana. Desde sua publicação, a obra vendeu mais de um milhão de exemplares e foi traduzida para catorze línguas, tornando-se um dos livros brasileiros mais conhecidos no exterior.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre – Carolina de Jesus em 1960.
Depois da publicação, Carolina teve de lidar com a raiva e inveja de seus vizinhos, que a acusaram de ter colocado suas vidas no livro sem autorização. A autora relatou que muitos dos moradores da favela chegaram a jogar, nela e em seus três filhos, os conteúdos de seus penicos. Carolina definiu a favela como “tétrica”, “recanto dos vencidos” e “depósito dos incultos que não sabem contar nem o dinheiro da esmola.” O professor da USP Ricardo Alexino Ferreira caracterizou a escrita de Carolina como “direta, nua e crua, mas, ao mesmo tempo, suave.”
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre – Em março de 1961 com Leonel Brizola.
Gravação do álbum musical
Em 1961 com o sucesso da publicação do livro, Carolina Maria de Jesus grava suas composições em disco lançado pela gravadora RCA Victor. O álbum foi intitulado Quarto de Despejo: Carolina Maria de Jesus cantando suas composições e contém 12 músicas, todas escritas e cantadas por Carolina.
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Carolina Maria de Jesus – Quarto de Despejo (1961) Álbum Completo.
Publicação de Quarto de Despejo nos EUA
Em 1962, Quarto de Despejo foi publicado nos Estados Unidos pela editora E. P. Dutton com o título Child of the Dark. No ano seguinte, como parte da coleção Mentor, a tradução ganhou uma edição de bolso, publicada primeiro pela New American Library, depois pela Penguin USA. Segundo o autor Robert Levine, somente das vendas desta edição, que totalizaram mais de trezentas mil cópias nos EUA, Carolina e sua família deveriam ter recebido, pelo contrato original, mais de cento e cinquenta mil dólares. Contudo, não foi encontrado indício algum de que ela tenha recebido sequer uma pequena parte disto.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre – Capa da publicação de 1960 pela Editora Francisco Alves da obra “Quarto de despejo” de Carolina Maria de Jesus.
Pagamento de direitos autorais das traduções
Em março de 1961, uma reportagem afirmou que a publicação de Quarto de Despejo havia rendido a Carolina seis milhões de cruzeiros em direitos autorais, contudo a quantia exata variava, de acordo com a reportagem. É certo que Carolina tinha direito a dez por cento do preço de venda das traduções, com trinta por cento de sua parte reservada a Audálio Dantas; ela recebia pequenos pagamentos em dólares das editoras estadunidenses, mas, por força do contrato original, não podia autorizar traduções de sua obra: este direito fora cedido à editora Paulo de Azevedo, uma filial da editora Francisco Alves.
Saída da favela
Depois da publicação de Quarto de Despejo, Carolina mudou-se para Santana, bairro de classe média, na zona norte de São Paulo. Em 1963, publicou, por conta própria, o romance Pedaços de Fome e o livro Provérbios. Posteriormente, em 1969, Carolina acumulou dinheiro suficiente para se mudar de Santana para Parelheiros, uma região árida da Zona Sul de São Paulo, no pé de uma colina. Próxima de casas ricas, local de algumas das habitações mais pobres do subúrbio da cidade, com impostos e preços menores, era lá que Carolina esperava encontrar solitude.
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Parelheiros se caracterizava por fortes contrastes entre ricos e pobres: grandes casarões ao lado de barracos, que, via de regra, surgiam em vales, onde o ar era poluído pelas indústrias da região do Grande ABC. Embora pobre, Parelheiros era o mais próximo que Carolina poderia chegar do interior de sua infância sem deixar São Paulo e suas escolas públicas, para as quais seus filhos iam de ônibus. Os três moravam com ela: João José, com 21 anos, trabalhava numa fábrica de têxteis; José Carlos, com 19 anos, cursava o primeiro ano do ensino médio e vendia objetos na rua; Vera, com 16 anos, também estava na escola. A casa de Carolina fora construída num terreno modesto, perto de uma estrada de terra: visitantes andavam em tábuas de madeira sobre lama para chegar à casa cor de abóbora com janelas de caixilhos verdes.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre – Carolina de Jesus antes de embarcar em avião da Air France.
Agora passando boa parte de seu tempo sozinha, a autora lia o jornal e plantava milho e hortaliças, apesar de reclamar que seus esforços de jardinagem lhe rendessem tanto quanto lhe custassem. Logo depois de se mudar para Parelheiros, Carolina parou de receber pagamentos de direitos autorais. Tinha tão pouco dinheiro que, assim fizera na favela do Canindé, ela e seus filhos passavam certos dias catando papéis e garrafas para vender: agora, contudo, usava o dinheiro de catadora para comprar refrigerantes e bilhetes de cinema. De tempos em tempos, entregava a uma vendedora local os abacates, bananas e mandiocas que produzia para serem vendidos num mercado local.
Segundo reportagens da época, os pagamentos de direitos autoriais recebidos por Carolina eram “pequenos, mas constantes”. Não eram, todavia, suficientes para que conseguisse viver melhor do que pouco acima da linha da pobreza. Para o acadêmico Robert Levine, a família de Carolina vivia bem melhor do que na favela, mas num nível muito abaixo do esperado para uma autora cujos livros ainda estavam vendendo bem em diversos países.
Relacionamentos
Carolina nunca quis se casar para não ter que ser submissa aos homens. Manteve diversos relacionamentos afetivos ao longo da vida, tendo sido pedida em casamento por alguns namorados, mas nunca aceitou. Suas três gravidezes não foram planejadas, e foram frutos de relacionamentos diferentes. Seu primeiro filho era fruto de seu namoro com um marinheiro português, que era muito ciumento e a abandonou grávida; o segundo filho é oriundo de seu relacionamento com um comerciante espanhol, com quem ela terminou o relacionamento por conta das traições dele. Sua terceira filha foi fruto de seu namoro com um empresário brasileiro, cujo término se deu devido às agressões e humilhações que sofria. Seus três filhos nasceram de parto normal, na cidade de São Paulo.
As crianças desde cedo apegaram-se aos livros por influência da mãe, e todos frequentaram escolas públicas. Carolina registrou e criou seus filhos sozinha. Para sustentá-los, além de escrever e vender livros, fazia coleta de materiais recicláveis, realizava faxinas, lavava roupas para fora e dava aulas em casa, de alfabetização.
Morte
Carolina Maria de Jesus morreu aos 62 anos em seu quarto, em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977. Foi vítima de uma crise de insuficiência respiratória, devido à asma, doença que carregava desde seu nascimento, e que apesar de realizar tratamento, havia se agravado.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre
Legado
Em 1975, a televisão alemã West Germans gravou um documentário protagonizado pela própria Carolina. O filme Favela: a vida na pobreza continuava inédito no Brasil quando foi exibido pela primeira vez na ocasião do centenário de nascimento da escritora, em 14 de março de 2014, no Instituto Moreira Salles. Em 1977, foi publicada postumamente a obra Diário de Bitita, com recordações da infância e da juventude. Em 1982, publicou-se Um Brasil para Brasileiros. Em 1996, Meu Estranho Diário e Antologia Pessoal. Em 2014, as pesquisadoras Raffaella Fernandez e Maria Nilda de Carvalho Motta organizaram a coletânea Onde Estaes Felicidade?, que trouxe textos originais da autora e sete ensaios sobre sua obra e, em 2018, lançaram Meu sonho é escrever – Contos inéditos e outros escritos, com narrativas da autora.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre – Carolina de Jesus autografando Quarto de Despejo em agosto de 1960.
A pesquisadora Raffaella Fernandez organizou o material inédito deixado por Carolina de Jesus em 58 cadernos que somam 5 000 páginas de textos: são sete romances, sessenta textos curtos e cem poemas, além de quatro peças de teatro e de doze letras para marchas de carnaval. Dos livros escritos acerca da autora, destacam-se Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus (1994), de José Carlos Meihy e Robert Levine; Muito Bem, Carolina!: Biografia de Carolina Maria de Jesus (2007), de Eliana Moura de Castro e Marília Novais de Mata Machado; Carolina Maria de Jesus – Uma Escritora Improvável (2009), de Joel Rufino dos Santos; A Vida Escrita de Carolina Maria de Jesus, de Elzira Divina Perpétua; e Carolina: uma biografia (2018) de Tom Farias).
Em 2014, como resultado do Projeto Vida por Escrito – Organização, classificação e preparação do inventário do arquivo de Carolina Maria de Jesus, contemplado com o Prêmio Funarte de Arte Negra, foi lançado o Portal Biobibliográfico de Carolina Maria de Jesus e, em 2015, foi lançado o livro Vida por Escrito – Guia do Acervo de Carolina Maria de Jesus, organizado por Sergio Telles. O projeto mapeou todo o material da escritora, que passou a ser custodiado por diversas instituições, dentre elas: Biblioteca Nacional, Instituto Moreira Salles, Museu Afro Brasil, Arquivo Público Municipal de Sacramento e Acervo de Escritores Mineiros (UFMG).[carece de fontes]
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre – Museu Afro Brasil.
Em 2021, a Universidade Federal do Rio de Janeiro concedeu o título de Doutora Honoris Causa à escritora Carolina Maria de Jesus. Neste mesmo ano, é anunciado pela editora Companhia das Letras publicações a publicação integral dos diários que compõe “Casa de Alvenaria: Diário de uma ex-Favelada” que foi publicado em 1961. A edição conta com dois volumes, iniciando em 30 de agosto de 1960 até dezembro de 1963, o primeiro volume é sobre a casa que Carolina morou em alguns meses em Osasco e o segundo, é em Santana, onde comprou sua tão sonhada casa de alvenaria antes de se mudar para Parelheiros.
Fonte foto – https://www.amazon.com.br/Casa-alvenaria-Carolina-Maria-Jesus/dp/8535930701
Lista de obras
Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960)
Quarto de Despejo: Carolina Maria de Jesus cantando suas composições (1961)
Casa de Alvenaria: Diário de uma ex-Favelada (1961)
Pedaços de Fome (1963)
Provérbios (1965)
Póstumas
Um Brasil para Brasileiros (1982)
Diário de Bitita (1986)
Meu Estranho Diário (1996)
Antologia Pessoal (1996)
Onde estaes Felicidade? (2014)
Meu sonho é escrever – Contos inéditos e outros escritos (2018)
Clíris: Poemas recolhidos (2019)
Casa de Alvenaria – Volume 1: Osasco (2021)
Casa de Alvenaria – Volume 2: Santana (2021)
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Por Sergio Lima.
Fonte texto e fotos – Wikipédia, a enciclopédia livre.
Linda história mano não era para qualquer um na época fechar tiragem em 2 semanas e por fim vender o que vendeu nós EUA mas as histórias de finanças se repetem o autor ganha migalhas mas parabéns pela matéria robusta , abs
Serginho como sempre você nos agracia com estes presentes maravilhosos de reportagens sobre pessoas marcantes : escritores, artistas, atletas, jogadores de futebol, família e amigos. Esta reportagem sobre a escritora auto-didata : Carolina de Jesus me emocionou muito. Li Diário de uma favela quando saiu a primeira edição. Chorei e aplaudi a maravilha da escrita e depoimentos do que era viver o dia a dia em uma favela. Passar fome, ser agredida e ser totalmente ignorados pelo governo e povo , que vedam seus olhos a realidade tão triste da miséria e probreza. Mostrando tantos filhos sem país , mulheres guerreiras criando seus filhos e netos sozinhas. A determinação destas mulheres de trabalhar arduamente para educar e dar comida a seus filhos. Ela realmente é um diamante negro. Que sua legacia perpetue-se. Que seu exemplo seja reconhecido por todas as gerações. Bravo 👏🏻👏🏻👏🏻🇧🇷
Obrigado minha querida amiga Conceição, você é simplesmente espetacular, especial, e generosa como sempre. Obrigado milhões de vezes pelo seu comentário. Estamos celebrando 30 anos do nosso Jornal, divulgando a nossa cultura sem distinção, mas dando voz e focando aos que se tornam quase invisíveis perante as câmeras e não são reconhecidos e nem focados.
Mais um showwwww de matéria, com um espetáculo de mulher e autora, parabéns querido!
Serginho, parabéns pelos 30 anos do seu Jornal e magazine. Que Deus continue a te inspirar com seu talento na escrita de música, livros e esportes. Que seu exemplo de determinação e amor a nossa cultura continue a ser inspiração para todos , abrindo caminho para outros talentos de seguir nesta divulgação. Que orgulho de você . Bravo. Muitos aplausos. A barreira de fronteiras não nos impede , mesmo de longe você continua a nos presentear com seu jornal, magazine, músicas e livros. Abraço saudoso 👏🏻👏🏻👏🏻🥂❤️
Obrigado, minha grande amiga Conceição siegmund, você como sempre, extremamente generosa, especial e diferenciada com o seu comentário, que me emociona e me faz sentir muito bem. Receba um grande Abraço.