Claudio Teixeira, cidadão de primeira categoria, excelente amigo, genial e profissional, foi responsável pela parceria e harmonia iniciada entre a comunidade brasileira de Houston e o Consulado Geral do Brasil nesta cidade. Antes de sua chegada, a distância que o Consulado Geral mantinha para com a comunidade brasileira era assustadora; o tratamento e o atendimento eram precários, e pareciam “fazer favor” àqueles que requisitavam seus serviços.
Fonte foto – Arquivo Vida Brasil Texas
O Sr. Teixeira abriu não só um diálogo formal e respeitoso com nossa comunidade, como trouxe sua família junto e passou a participar dos eventos por ela realizados, durante o tempo em que trabalhou no Consulado Geral em Houston. Contribuiu para que aquele relacionamento distante, entre o consulado e a comunidade, viesse a se tornar mais profissional, sem deixar de ser amigável e cordial.
Por esta e outras razões, o Sr. Claudio Teixeira é querido e respeitado até hoje no Texas, e quando vem a passeio a Houston é requisitado por vários membros da comunidade para celebrar a amizade, o profissionalismo e o patriotismo, pois nunca deixou de apoiar e ajudar os que lhe solicitavam assistência, qualquer que fosse o assunto. Claudio sabia reconhecer as dificuldades dos brasileiros que moram no exterior e a visão dessas pessoas, que consideram o consulado como “um pedacinho do seu Brasil”. Felizmente ele tinha esta habilidade e sensibilidade para com seus conterrâneos.
Fonte foto – Arquivo Vida Brasil Texas
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Entrevista
VB – Quando foi que você chegou pela primeira vez no Consulado Geral do Brasil em Houston, Texas?
R – Minha primeira passagem por Houston se deu em março de 1992, transferido do Consulado Geral do Brasil em Nova York.
VB – Como foi sua experiência com esta comunidade de Houston?
R – Quando cheguei a Houston fui recepcionado pelo colega, amigo e anfitrião Mucio Soares Nobre. Havíamos nos conhecido e trabalhado juntos na Embaixada do Brasil em Moscou, naquela época ainda URSS. Mucio, que tinha bom trânsito junto à comunidade brasileira (e por ela respeitado e considerado), foi o grande responsável por me apresentar a várias lideranças e integrantes da comunidade brasileira. Logo no início, após as apresentações, não pude deixar de notar a expressão de desconfiança nos rostos das pessoas (quase torciam seus narizes), quando ele me apresentava como o novo vice-cônsul. Percebi que algo não ia bem. Em seguida, muitas delas relataram as experiências que haviam tido. Daí comecei a trabalhar para tentar reverter aquela situação. Não posso deixar de mencionar a participação de outros colegas que aderiram a essa iniciativa, tais como as vice-cônsules Nilza Lopes da Silva, Lucy Gonçalves e Loretta Montenegro L. da Cruz, e outros como o grande Paulo Alvarado, que ainda se encontra em Houston e goza de respeito e de carinho por parte da comunidade.
Fonte foto – Arquivo Vida Brasil Texas – Banda Atravessados de Houston
VB – Fale sobre sua passagem pelo Consulado Geral do Brasil no México?
R – Foi um Posto bastante agradável, com tive uma boa chefia e o prazer de trabalhar com uma excelente equipe de funcionários, predominantemente formada por senhoras e senhoritas. Sabe, aquela equipe que, a exemplo daquela de Houston, vestia, mesmo, a camisa verde e amarela, fossem de nacionalidade brasileira ou mexicana. Além dos serviços que são normalmente prestados pelos e nos consulados brasileiros ao redor do mundo, e também pelos consulados itinerantes nas áreas de suas jurisdições (ação que considero uma grande iniciativa do Itamaraty), na Cidade do México foi intensa minha participação com prestação de assistência a brasileiros(as), tais como repatriação, assistência a brasileiras que recebiam maus-tratos de maridos mexicanos, falecimentos , acompanhamento, em delegacias e tribunais, de brasileiros detidos ou com problemas jurídicos, e também em hospitais. Enfim, as comunidades e necessidades são diferentes em cada cidade/país.
VB – Depois de sua passagem por duas vezes em Houston, Cidade do México e Nova York, como é trabalhar no Haiti?
R – Minhas ocupações na Embaixada do Brasil no Haiti são totalmente diversas daquelas que exerci nas cidades mencionadas. Nos primeiros 15 meses, atuei na área de cooperação, e pude ver, dentre outros atores internacionais, a importância do papel que teve o governo brasileiro para a reconstrução país, em especial após o terremoto sofrido pelo Haiti em 12 de janeiro de 2010. Desde então, o Brasil tem tido importante papel, dentre outras, nas áreas de estabilização política, de saúde (construção e manutenção de 3 hospitais), agricultura e, mais recentemente, na área de formação profissional. Não posso deixar de mencionar a extraordinária liderança militar brasileira na missão de paz da ONU, para a estabilização do país.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre
Na verdade, desde que cheguei a este país, em setembro de 2014, até a saída definitiva de nossas tropas (em outubro de 2017) senti muito orgulho de nossas tropas a cada vez que as via em missão pelas ruas, ou nas solenidades das quais participei. Tenho certeza de que o povo haitiano também reconhece e agradece a atuação de nossas tropas no Haiti, dado o carinho, que por diversas vezes presenciei, dispensado a nossos soldados nos momentos em que os comboios militares faziam breves paradas.
Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre
A partir de dezembro de 2015 fui designado para chefiar a área consular. Conforme mencionei anteriormente, as necessidades e atuações são diferentes em cada cidade/país. E o Haiti é mais uma prova disto. Como bem pode-se imaginar, a comunidade brasileira no Haiti é bastante pequena (temos apenas cerca de 100 matrículas consulares), e os brasileiros aqui residentes , representantes de ONGs ou de instituições religiosas brasileiras, estão engajados na assistência básica ao povo haitiano. Poucos são os serviços consulares prestados a cidadãos brasileiros, dada a reduzida comunidade brasileira existente. Em contrapartida, e no âmbito de mais uma iniciativa do governo brasileiro em prestar assistência ao povo haitiano após o terremoto de 2010, de 2012 a outubro de 2017 os haitianos puderam contar com um programa a eles dirigidos para a obtenção de vistos permanentes para o Brasil. Nesse período, cerca de 67 mil pedidos de vistos (incluídos aí aqueles por reunião familiar) foram apresentados e até hoje estão sendo processados. Assim, meu trabalho no Haiti é bastante diferente daquele que tenho exercido em outras repartições brasileiras no exterior. Muito embora prefira trabalhar assistindo a cidadãos brasileiros, minhas atuais funções também são gratificantes.
VB – Você que é amante da música brasileira, qual a sua opinião a respeito. Falta qualidade? Houve mudanças para melhor? O que você pensa?
Fonte foto – Arquivo Vida Brasil Texas
R – Este é um assunto bastante delicado. Gosto cada um tem o seu. Mas pautando-me pelos gêneros que mais aprecio (como MPB, bossa nova e pop rock), diria que caiu bastante a qualidade da música brasileira. O que antes, tanto a respeito da letra quanto da melodia, muitos comentavam que “essa obra é uma poesia”, hoje, com os ritmos e gêneros mais recentes, dificilmente ouço tal comentário. Mas como disse, cada um tem seu gosto.
VB – Como se sente como avô pela 6 vez?
R – Ser avô é sensacional. A gente só se diverte com os netos e tende a estragá-los. Fazemos tudo aquilo que a gente detestava quando faziam com os nossos filhos: a vontade deles! E quando ainda são pequenos e borram as fraldas, só preciso devolvê-los ao colo da mãe ou do pai e dizer: “Precisa de uma troca de fralda”. Além disso, me divirto fazendo o papel de avô meio doido, observando a cara deles e lendo as legendas acima da cabeça deles: “acho que esse meu avô é meio maluco”. Não deixa de ser engraçado também observar a cara de alívio deles, quando volto a agir e falar coisas normais. E novamente leio as legendas: “Ah, esse meu avô é meio doido mas ele é legal”. Enfim, o sétimo neto (ou neta, pois os pais preferiram não saber o sexo) está a caminho e deverá dar as caras logo no início de março próximo.
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Por Sergio Lima.