Crônica – Milagre em Sedona, Arizona

2
1546

Por Valter Aleixo

No dia 29 de setembro, de 2019, quando eu e a Georgia, minha filha, escalávamos a montanha, Bell Rock, em Sedona, no Estado do Arizona, senti um enorme impacto no meu pescoço, me alavancando para frente, quase me empurrando para o precipício e, por uma fração de segundo, senti que havia morrido.

Poucos minutos antes daquele incidente, uns garotos haviam passado por nós, escalando a montanha na frente do pai, que vinha um pouco atrás com um filho menor. E, lá de cima, começaram a jogar pedras montanha abaixo. O pai até que pediu que parassem com aquilo mas, infelizmente, não o obedeceram. Uma das pedras – enorme – pelo menos assim me pareceu, veio parar no meu pescoço.

“Acordei” um centésimo de segundo depois tentando entender o que estava acontecendo. Quando olhei para o chão, vendo aquela pedra ainda balançando, percebi, claramente, o que tinha acontecido. A pedra estava lá, e eu sentindo aquela sensação estranha no pescoço. Olhei para a Georgia e vi o terror em seus olhos espantados. Podia imaginar o que ela estava pensando: “Será que o meu pai vai morrer? E, como vou resolver isso sozinha aqui, nesse lugar, tão longe de casa? Isso só pode ser um pesadelo!”

Apavorado, me sentindo completamente vulnerável, pensei em mil coisas ao mesmo tempo: ia morrer naquela montanha a qualquer momento, pois não sabia o efeito do impacto da pedra. Ela era muito grande para nada ter acontecido. A qualquer momento, começaria a sangrar internamente e perderia os sentidos. “Ia morrer em frente da minha filha numa situação de horror”, pensei. Se não morresse, certamente ficaria com algumas sequelas, que tornariam minha vida sem nenhum sentido, para sempre.

A única coisa que pude dizer no momento, foi: “Vamos descer; vamos para o estacionamento.” Achava que, se algo fosse acontecer comigo, como perder os sentidos ou começar a convulsionar, seria melhor estar lá embaixo, no sopé da montanha.

Ao dizer aquelas palavras, com as pernas trêmulas, comecei a descer a montanha. A descida, teoricamente mais fácil que a subida, me pareceu longa demais! Embora estivesse deslizando pelos vãos da montanha, tanta era a minha pressa de chegar lá embaixo, parecia que nunca chegaria. Apesar dessa minha impressão, pois tínhamos levado trinta minutos para chegar àquele ponto da montanha, quando menos percebi, já estávamos chegando no estacionamento.

Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre.

Uma coisa estava me perturbando muito: ao relembrar o incidente, que ficou passando na minha mente várias vezes naqueles poucos minutos da descida, senti que a experiência tinha sido de muita paz e tranquilidade; foi como seu eu tivesse morrido. Não tive nenhuma dor ou medo. Foi um sentimento enorme de paz e liberdade. Podia sentir aquela sensação agradável, continuamente. Aquilo não era normal.

Confuso, lembrei-me que, quando voltei à mim, naquela fração de segundo, tive uma pequena sensação de desapontamento de ter voltado, pois onde quer que eu tenha ido, foi inexplicável; maravilhoso. Jamais tinha tido aquele tipo de sensação na minha vida. Foi como se todas as minhas angústias, meus problemas, minhas dores, minhas incertezas e meus pecados tivessem sido arrancados de mim; literalmente. Foi como se aquele fosse o momento de dizer adeus a esse mundo, que tinha sido muito generoso comigo; que tinha me dado uma vida maravilhosa; cheia de aventuras e de amor.

Mas, no fundo do meu cérebro, nos centésimos ou milésimos de segundos que tudo pareceu acontecer, pensei: “Não estou pronto para morrer agora. Quero poder ver minha filha Georgia graduar-se da universidade e, no dia do seu casamento, quero caminhar até o altar com ela, e quero ver todos os meus netos crescerem.” Fiquei feliz por estar vivo e de a Georgia estar do meu lado.

Não gostaria de causar-lhe angústia e dor, morrendo naquele lugar, deixando-a sozinha para lidar com a minha morte. Fiquei imaginando o quão horrível teria sido aquela experiência para ela. Fiquei aliviado de a pedra não ter me atingido na cabeça, na carótida, na coluna cervical, ou até mesmo no meu rosto. E, um pouquinho mais para esquerda ou para cima, teria me matado instantâneamente, tamanha era a sua velocidade. A parte da pedra que me atingiu foi o lado liso. E, de todos os lugares que ela podia ter me atingido, o local não poderia ter sido mais perfeito: no músculo entre a coluna cervical e a carótida.

E, nesse momento, lembrei-me que, poucos minutos antes daquele incidente, eu a Georgia havíamos visitado outra montanha, a Cathedral Rock, onde construíram uma pequena e bela catedral no meio de uma rocha. Naquele lugar acendemos duas velas e, ajoelhado, pedi a Deus que nos protegesse durante toda a nossa viagem e que tudo saísse bem; algo que sempre faço quando viajo para qualquer lugar só ou com a família. Agradeci por estar naquele passeio maravilhoso com a Georgia e por ter a oportunidade e privilégio de fazer tal viagem.

Foi então que dei-me conta que fui salvo pela mão Divina! Não parava de agradecer a Deus por tamanho milagre! Também agradeci por ter sido eu, o atingido, e não a Georgia. Jamais me perdoaria se tivesse acontecido algo com ela. Felizmente, graças a benevolência e infinita compaixão de Deus, minha vida foi extendida.

Já em baixo da montanha, a Georgia me aconselhou a ir num hospital para que me examinassem. Naquela altura, achei desnecessário, pois me sentia bem e havia feito a maravilhosa conexão do meu pedido à Deus e o incidente. Sentia que nada de ruim podia ter acontecido. Também achei que seria complicado ir à sala de emergência de um hospital de uma cidade tão pequena como Sedona.

Certamente teríamos que esperar por várias horas e iam pedir um monte de exames, incluindo uma tomografia computarizada. Apenas reiterei à Georgia que tudo estava bem, embora pudesse ver o seu olhar de preocupação. Resolvi continuar o passeio. Porém, sabia que, incidentes como aquele, podem se manifestar, com sequelas, vinte e quatro horas depois e podem causar graves problemas neurológicos. Também me preocupava com os meus olhos, imaginando se o impacto da pedra havia causado algum problema com a retina ou qualquer outra parte dos meus olhos.

À tarde, depois de terminar o nosso passeio em Sedona, saímos em direção a Phoenix.

A viagem durou por volta de uma hora e meia.

Ainda tivemos tempo de ir ao topo da montanha que circunda a cidade de Phoenix, no mirante Dobbins Lookout, para ver o por do sol maravilhoso do deserto.

O incidente, porém, não saía da minha cabeça.

Lembrei-me que, há muitos anos atrás, quando ainda criança, fui montar um cavalo que o meu pai tinha comprado para a chácara dele, na cidade de Paraíso do Norte, que ainda pertencia ao Estado de Goiás e, como não tinha nenhuma experiência em selar cavalo, acabei deixando a sela frouxa. Quando o cavalo saiu galopando, desenfreado para todos os lados, comigo em cima, senti que a qualquer momento podia cair. E, numa das freadas bruscas dele, para não chocar-se contra a cerca da chácara, acabei sendo lançado com violência para o chão, com sela e tudo. Lembro-me de ter perdido os sentidos por alguns instantes também. Contudo, a sensação que tive naquele dia foi totalmente diferente daquela de Sedona.

Talvez aquele tenha sido outro milagre.

Sentia que algo extraordinário havia sucedido naquela montanha.

No outro dia, depois que a Georgia voltou para a cidade de San Antonio, onde está estudando, apesar de me sentir bem, ainda estava preocupado com as possíveis consequências daquele incidente. E, naquele mesmo dia, por casualidade, eu tinha uma reunião com a chefe das enfermeiras no trabalho, e acabei contando-lhe o caso. Ela me aconselhou a ir diretamente para a sala de emergências e que entraria, imediatamente, em contacto com um neurologista para ir encontrar-se comigo lá.

Depois de vários exames, incluindo a famosa tomografia computarizada da cabeça e dos pescoço e de muitos minutos de ansiedade, o chefe da sala de emergências, entrou no meu quarto. Ao vê-lo entrar daquela forma, como um juiz que entra na corte, prestes a dar a sentença para o réu, prendi a respiração. Naquele instante, sabia que, dependendo do que ele dissesse, minha vida mudaria para sempre.

Não sei se estava preparado para ouvir algo tipo: “Infelizmente, os exames constataram uma lesão cerebral e ainda é muito cedo para se saber, com exatidão, os possíveis danos causados.”

Puxou uma cadeira para perto da minha cama e disse: “Tenho notícias maravilhosas para você.”

Eu estava tão emocionalmente anestesiado, que me pareceu não ter escutado o que ele disse.

“Será que escutei certo?”, me questionei. Mas o chefe da emergência, imediatamente, reiterou: ”Todos os seus exames saíram negativos. Não há nada que indique que houve qualquer tipo de lesão ou dano cerebral.”

As lágrimas, contidas, relutavam em brotar dos meus olhos por não querer se expor ao ridículo das emoções humanas. Tive uma grande vontade de ajoelhar-me e agradecer à Deus mais uma vez por aquele milagre.

Fonte foto – Wikipédia, a enciclopédia livre – Ave-Maria, cheia de graça!

“Imagino que não seja o caso, mas se você tiver algum sintoma inesperado, não hesite em nos procurar”, disse o chefe da emergência – e se despediu.

Eu sabia, no meu coração, que aquilo não ia acontecer, pois o milagre tinha sido completo.

Assim que saíram do meu quarto, pude, finalmente, desprender todas as minhas emoções e ter aquele momento de reflexão e agradecimento a Deus. Sabia que, nada que eu dissesse ou fizesse, poderia demonstrar a minha enorme gratidão em ouvir aquele resultado.

E, da minha cama, apenas rezei. Senti aliviado; e todas as minhas preocupações desapareceram.

Tenho consciência de que a vida me foi extendida naquela montanha. Talvez aquele não fosse o meu dia. Talvez, até mesmo os meus pais, intercederam por mim naquele momento. Jamais saberei. O certo é que, morri por alguns centésimos ou milésimos de segundos, mas tive a oportunidade de voltar e terminar a minha missão neste mundo, qualquer que seja ela…

Por Valter Aleixo

Artigo anteriorPoesia – A Canção do Silêncio.
Próximo artigo“Resplandecer – Poesia de Adinaldo Souza e Comentário de Edmur Alves”.
BIOGRAFIA ****** Sérgio Lima, ex-jogador profissional de futebol, natural de Campos dos Goytacazes, começou sua carreira no Americano onde jogou em todas as categorias e foi campeão Estadual no ano de 1969. Em 1970, transferiu-se para o juvenil do América do Rio, tornando-se artilheiro da Taça Guanabara de 1973 e vice-artilheiro brasileiro Carioca de 1973. Em 1974, sua história foi ilustrada luxuosamente com o Internacional de Porto Alegre, Hexa Campeão Gaúcho invicto. Em 1975, formou um excelente time do Guarani de Campinas, com grandes jogadores, Ziza, Amaral,Renato, Miranda, Davi, Alexandre Bueno, Edinaldo, Erb Rocha, Sergio Gomes, Hamilton, Rocha. que foi base do Campeão em 1978. Em 1976, transferiu-se para o futebol mexicano onde ficou por 8 anos: Club Jalísco, e Atlas Fútbol Club ambos da cidade de Guadalajara, Morélia da cidade de Morélia, Michoacan e Union de Curtidores da cidade de Leon, Guanajuato. Em 1984, retornou ao Brasil para o Botafogo do Rio. ****** Em 1985 foi contratado pelo Cabofriense, da cidade de Cabo Frio,estado do Rio, onde encerrou sua carreira. Presente em Guadalajara na Copa do Mundo 1986 no México, trabalhou como comentarista esportivo na rádio local chamada "Canal 58" de Guadalajara. Após a copa do Mundo de 1986, começou sua trajetória de 30 anos, nos Estados Unidos da América,, onde foi convidado pela Universidade de Houston Texas, através do seu responsável o excelentíssimo Professor Franco para participar como instrutor do “Cugar Soccer Summer Camp” durante duas semanas. Na sequência, depois de várias participações, em diferentes Soccer Camps no Texas, fundou, oficializou e legalizou a Brazilian Soccer Academy com o apoio espetacular do grande amigo Skip Belt. Com experiência de muitos anos dentro do campo, passou conhecimento e os fundamentos básicos do futebol do Brasil para um número incontável de jovens americanos. ****** Convidado pelo consulado Mexicano, idealizou e apresentou o projeto Houston Soccer After School Program para City of Houston Park and Recreation em 1994, para benefício de crianças e jovens entre 6 a 17 anos. Isso ocorreu na área metropolitana da cidade, onde concentrava a grande maioria de crianças e jovens negros e mexicanos, na época estavam com extremo e grande problema social que os envolvia com drogas e as abomináveis gangues. Desafio aceito, e o programa foi desenhado, aproveitando a infraestrutura dos Parks da cidade. O passo a passo foi dividido em três fases básicas: 1 - Criou-se liga em cada Park, onde havia jogos entre eles. 2 – Todos os meses havia Torneios entre todos os Parks. 3 - Criou-se seleções para jogarem contra jovens das outros áreas, e diferentes estados, sempre cuidando com os mínimos detalhes dos dispositivos e ensinamentos básicos do respeitado futebol do Brasil, para atrair e motivar a todos. O requisito principal era estar e manter boas notas e presença na escola, para desfrutar dos benefícios, recebendo gratuitamente todos os materiais de primeira linha doados por um conhecido patrocinador. Finalmente, aos 17 anos tinham a oportunidade de receber uma bolsa de estudos para ingressar em uma universidade americana. Foi apresentado e aprovado e Sérgio se transformou em funcionário público da cidade de Houston por 17 anos, até a sua aposentadoria. Muitíssimos jovens foram beneficiados pelo programa mudando radicalmente suas vidas, as drogas e gangues desapareceram. Sérgio fez o curso de treinador da Federação Americana de Futebol, recebendo a "Licença National B' e assumiu como Coach principal da South Texas Soccer Select Team Open Age From 1994 to 1996, tornando-se o primeiro treinador brasileiro e negro "Afrodescendente" a dirigir a Seleção do Sul do Estado do Texas. ****** No ano de 1992, Fundou o Jornal Vida Brasil Texas, tornou-se editor, onde ficou por 28 anos, sendo 24 anos impressos e os últimos 4 anos digital em português. Fundou em 2004, a Revista Brazilian Texas Magazine, é seu Editor . A revista até 2015 foi impressa, em 2016, passou a publicação digital em inglês. ****** 1 - Compositor, teve participação do CD Brasil Forever 1997 da Banda brasileira no criada no Texas em 1993 com finalidade de promover a cultura do Brasil. Banda “Atravessados de Houston” – Texas, com tiragem de 10 mil CDs. Sérgio Lima teve a participação com 10 músicas 8 autorais e mais duas com parcerias. 2 - Compositor da música “I Love Rio”, escrita e inglês em homenagem ao Rio de Janeiro, com a luxuosa interpretação da excelente Elicia Oliveira em ingrês (Está disponível no YouTube). https://www.youtube.com/watch?v=l39hfwOkyYU&t=18s ****** Representou a comunidade brasileira do Texas na I Conferência “Brasileiros no Mundo”, realizada em maio de 2008, com uma extrema característica acadêmica. ****** A II Conferência “Brasileiros no Mundo”, realizada em outubro 2009, se desenvolveu com uma acentuada conotação política, tornando, em certos momentos, o diálogo tenso, desconfortável e, até certo ponto, cansativo, devido à falta de elasticidade de algumas lideranças, acostumadas, creio, a pontuar e determinar o rumo das conversas e decisões, em suas áreas ou comunidades no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, de iniciativa da Fundação Alexandre de Gusmão – FUNAG, órgão ligado ao Ministério das Relações Exteriores – MRE. ****** Sérgio criou o espaço Brasil especial na Biblioteca central da cidade de Houston e conseguiu doações de livros de algumas instituições das comunidades brasileiras de outros estados americanos para compor o espaço. Recebeu o Prêmio Brazilian International Press Ward, por 3 vezes, em reconhecimento pelos trabalhos como editor do Jornal Vida Brasil Texas em português, e revista Brazilian Texas Magazine em inglês – 2011. ****** ORIGINAL ARTICLE “AFRO DECENDENTES NA MÍDIA BRASILEIRA”. You are a winner for the 15th Annual Brazilian International PRESS AWARDS. Your outstanding performance and contribution for the Brazilian Culture was recognized by the Media and Cultural Leaders of the Brazilian Community in the United States. Join us for the 15th celebration of the Brazilian Cultural presence in the U.S. The Award Ceremony will be held at the Cinema Paradiso • Fort Lauderdale May 3rd 2012.

2 COMENTÁRIOS

  1. Meu amado amigo, a mão de Deus com seus anjos estavam com você. Você é precioso. Ainda pela graça divina estará conosco por muitos anos. Acredito em milagres e proteção divina. Na minha trajetória de vida testemunhei muitos milagres, inclusive comigo. Em 1990 tive um acidente de carro que se não fosse a proteção e amor de Jesus não estaria viva hoje . Os policiais que me socorreram quando voltei do meu desmaio me perguntaram: Sra acredita em Deus, Eu disse sim , Eles disseram: agradeça a Deus por estar viva. Não encontramos explicações para a Sra sair viva deste acidente. Depois do acidente, tive vértebras trincadas na coluna, hematomas e sangramento dos rins. Mais sobrevivi sem maiores sequelas. Tive uma gratidão e amor e valor a vida tão grande , hoje agradeço a Deus por cada minuto , segundos da minha vida. A chance que me deu de criar meus filhos e ver meus netos. Gratidão amigo querido a Deus por sua vida. Lindo seu testemunho de fé e gratidão. Te amo amigo . Você faz o mundo melhor com sua presença. Deus te abençoe. Abraço.🙏❤️ Conceição Siegmund

  2. A Fé tem que ser constante como o ar que respiramos, eu e minha esposa também oramos todo dia que saímos de casa e quando voltamos, sempre passamos por dificuldades, mas quando temos Deus como nosso centro e de nossos lares, sofremos as menores consequências, parabéns pelo texto, de fato é uma linda história de comunhão com Deus!!!

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui